Por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor de Empresas
Começa a ser recorrente ouvir-se que a guerra na Ucrânia já cansa, que é uma invasão distante, que as televisões nos ‘inundam’ com imagens horríveis, e que a vida tem é que ser vivida.
Existe depois quem manifeste um sentimento de indignação, perante os crimes e violações do direito internacional, mas não vê uma resposta adequada, nem a perspetiva do fim da guerra. Tal evidência tem o risco de ‘normalizar’ esta agressão a todos títulos repugnante.
Depois há uma faixa da população que nada quer saber do que se passa, nem imagina onde fica a Ucrânia, até julga que o problema é só deles, num completo alheamento por esta guerra.
Por fim, há o Partido Comunista Português, que continua com um discurso patético de apelo à paz, como se todos os outros fossem a favor da guerra, ignorando que aqui o agressor é a Rússia e o agredido é a Ucrânia. Se esta retórica fosse levada a sério, a Ucrânia já tinha capitulado e perdido a sua soberania. O que choca nesta narrativa comunista é a ausência de uma única crítica à Rússia e a imputação de responsabilidades ao Ocidente. O PCP já perdeu a noção da realidade e caminha para o definhamento lento e agonizante.
Esta guerra, apesar de ‘circunscrita’ a duas nações, tem um impacto brutal no nosso dia-a-dia, e não é preciso sair de casa para sentir diretamente as consequências. Desde o banal movimento de ligar um interruptor, ao banho diário, ao que se coloca na mesa e ao ato de ignição do automóvel.
Pode perguntar-se: O que podemos fazer para mudar tudo isto? A pergunta é de difícil resposta, mas dir-se-á no imediato que não ignorar já é um começo. É verdade que muito do que tem que ser feito para pôr fim a esta guerra não depende de nós enquanto cidadãos anónimos, mas da Europa no seu todo e da ação concertada com outras nações que defendem o direito internacional, a democracia e a liberdade.
Os vários ‘pacotes’ de sanções aplicados pela UE são, por enquanto, insuficientes para travar esta guerra. Num discurso recente no Parlamento Europeu o eurodeputado belga Guy Verhofstadt afirmou categoricamente que «pacotes progressivos de sanções com um autocrata não resultam. Isso funciona com a democracia, com democratas, que têm uma opinião pública (…) Na Rússia, já não há uma verdadeira opinião pública». Para parar a máquina russa, só adotando medidas contundentes como o corte radical de todas as importações e exportações de e para a Rússia, retirando todos os bancos russos do sistema swif e limitando a sua atividade no exterior.
Portugal, que tem vivido sucessivas crises económicas nas últimas décadas não vai ficar imune a mais esta. O crescimento da inflação, com o brutal aumento dos bens de consumo, dos recursos energéticos, e o aumento das taxas de juro, com reflexos na Euribor, serão consequências implacáveis para a maioria das famílias. A somar este quadro devemos acrescentar o necessário esforço de investimento na ordem dos 2% do PIB para modernizar as Forças Armadas na sua componente de defesa e dissuasão. É incontornável que, para se construir e prevenir a paz, são necessárias umas
Forças Armadas dimensionadas e bem equipadas. É neste quadro complexo que o Governo tem de encontrar respostas adequadas no imediato. São os chamados ‘custos’ da democracia e da liberdade.
Só quando Putin se sentir sem recursos desistirá desta aventura militar que apelidou cinicamente de ‘Operação Militar Especial’, mas que mais não é do que uma agressão bárbara contra uma nação soberana e democrática, com total desrespeito pela Convenção de Genebra.
A nação ucraniana não pode sair desta guerra com a sua soberania diminuída, senão o mundo livre sai derrotado e mais inseguro. A Ucrânia é a nossa causa e um teste à nossa capacidade de resistência. É urgente proteger quem está a ser vilmente agredido.