Zelensky está “disposto a falar com Putin, mas sem ultimatos”

Esta declaração foi proferida durante uma entrevista concedida à televisão italiana RAI, na qual o Presidente da Ucrânia também garantiu que nunca considerou “reconhecer a independência da Crimeia”.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou, numa entrevista televisiva que será transmitida esta quinta-feira à noite em Itália, que está disponível para conversar com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, “mas sem ultimatos”, e ainda garantiu que nunca considerou "reconhecer a independência da Crimeia”.

"Estou disposto a falar com Putin, mas sem ultimatos", disse Zelensky, ao canal público de televisão RAI, sendo esta a primeira entrevista concedida a um meio de comunicação social italiano desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

O líder ucraniano explicou que as negociações com Moscovo são complicadas, porque "todos os dias os russos ocupam aldeias, muitas pessoas deixaram as casas, foram mortas pelos russos" e os cidadãos ucranianos estão a sofrer na pele "torturas e assassínios".

Na ótica de Zelensky, o exército russo deve deixar a Ucrânia o mais depressa possível e responsabilizar-se pelo que fez, rejeitando a hipótese de que seja procurada "uma saída para a Rússia".

"Sei que Putin quer conseguir resultados. Mas ter de ceder alguma coisa para salvar a face do Presidente russo não é justo. A Ucrânia não vai salvar a face de ninguém pagando com os seus territórios", defende Zelensky.

Desta forma, o Presidente ucraniano garante que nunca equacionou "reconhecer a independência da Crimeia", anexada pela Rússia em 2014, e afirmou que a Crimeia "sempre foi território ucraniano".

"A Ucrânia quer a paz. Quer coisas muito normais como respeito pela soberania, integridade territorial, tradições do povo, língua. Podem ser coisas triviais, mas foram violadas pela Rússia e devem ser devolvidas", assinalou.

Zelensky reconhece que o exército russo é "quatro vezes maior, o seu Estado é oito vezes maior", no entanto frisa que os ucranianos são "10 vezes mais fortes como povo", porque estão no seu território.

"Para nós, a vitória é recuperar as nossas coisas. Para eles é roubar alguma coisa. Não estamos em pé de igualdade. A Rússia é mais forte, mas o mundo está connosco e sentimos que pouco a pouco estamos a avançar", notou o líder ucraniano.

De sublinhar que a entrevista de Zelensky acontece depois de o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, ser entrevistado pelo grupo Mediaset, pertencente à família do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, no início deste mês. Este momento foi marcante, uma vez que foi a primeira entrevista concedida a um meio de comunicação social ocidental desde o início da invasão da Ucrânia.

Muita polémica se gerou à volta desta entrevista, que foi criticada pelo atual primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ao observar a forma como Lavrov fez declarações sem ser interrogado pelos jornalistas. Uma das declarações mais polémicas foi a comparação de Zelensky com Adolf Hitler devido às suas “origens hebraicas”.