Brasil. Marcelo ficou sem almoçar com Jair Bolsonaro

Marcelo Rebelo de Sousa e Jair Bolsonaro acabaram por não reunir, mas o chefe de Estado português afasta qualquer ‘azedar’ de relações.

Afinal, Marcelo Rebelo de Sousa não vai mesmo encontrar-se com Jair Bolsonaro. Durante a manhã de domingo, em declarações aos jornalistas desde São Paulo, no Brasil, o chefe de Estado português revelou que, não tendo recebido qualquer confirmação por escrito do convite [para o almoço], acabou por cancelar a deslocação a Brasília.

A ‘nega’ que Bolsonaro deu a Marcelo Rebelo de Sousa fez soar alarmes nos dois países, temendo-se um incidente diplomático. E ainda por cima tomando em conta a razão que, alegadamente, terá estado por trás da decisão – Bolsonaro não terá gostado do facto de Marcelo se ter encontrado com Lula da Silva. 

O tema gerou polémica e, por cá, uma das vozes que criticou o assunto foi Pedro Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro partiu para as redes sociais, onde questionou: “Os Chefes de Estado estrangeiros, quando vêm a Portugal encontram-se com os anteriores Presidentes? Claro que não”. Mais, Santana Lopes acusou tratar-se de um “tique colonialista”.

Nega’ “Se até ao começo da tarde não houver confirmação por escrito, a visita fica por São Paulo, como esteve sempre para ficar no início”, disse o Presidente português, afirmando, no entanto, não existir qualquer “incidente diplomático” entre Portugal e Brasil. 

“Como chefe de Estado, não altera nada, nem o meu relacionamento com o chefe de Estado brasileiro, nem o relacionamento do Estado português com o Estado brasileiro, nem o relacionamento do povo português com o povo brasileiro”, insistiu, explicando que “esta deslocação só acaba por ser possível porque tem sido com a utilização da Força Aérea Brasileira, que só é possível porque o Estado brasileiro, a começar pelo Presidente, está a apoiar a deslocação do Presidente de Portugal dentro do território brasileiro”.

Marcelo afastou, no entanto, que o cancelamento da reunião com Bolsonaro se deva à reunião prévia que teve com Lula da Silva. “Falei com o Presidente Lula, como há um ano, e vou falar com o Presidente Temer e o Presidente Fernando Henrique como ex-presidentes. As candidaturas [para as Presidenciais brasileiras] só abrem a partir de 6 de agosto e, portanto, não há candidatos formalmente”, argumentou.

Indecisões Dias antes da viagem de Marcelo Rebelo de Sousa para o Brasil, os rumores de que Bolsonaro não iria receber o chefe de Estado português começaram, o que colocou de imediato um ambiente de tensão em torno da visita oficial.

É que Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que se iria reunir com os antigos Presidentes brasileiros Michel Temer, Lula da Silva – que é candidato às eleições presidenciais que o país terá em outubro deste ano – e Fernando Henrique [Cardoso]. Bolsonaro não gostou, e acabou por desmarcar o encontro com Marcelo. “Falei com o Presidente Lula e irei falar com o Presidente [Michel] Temer e com o Presidente Fernando Henrique [Cardoso] da mesma forma que falei há um ano, formalmente não há candidatos nem campanha eleitoral até 6 de agosto”, considerou o chefe de Estado português.

Na residência do cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Marcelo reuniu-se com Lula da Silva para um pequeno-almoço que contou também com a presença de Pedro Adão e Silva, ministro português da Cultura, e fora do tema de conversa ficaram, no entanto, o Brasil e Bolsonaro. Em vez disso, Lula e Marcelo preferiram falar principalmente sobre a atual conjuntura internacional. “A posição portuguesa [sobre o conflito na Ucrânia] é muito clara. Somos não só solidários, como também claramente determinados nas posições da UE e da NATO. Além do apoio humanitário, temos dado apoio militar”, disse o chefe de Estado português, em declarações aos jornalistas, contrapondo: “Não é essa a posição do Brasil: é visto como um conflito europeu”. Recorde-se que os motivos da visita de Marcelo se prenderam com as comemorações dos 100 anos da travessia aérea do Atlântico Sul realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, além da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.