O ‘aviso’ do presidente da Endesa Portugal de que a fatura da eletricidade iria aumentar 40% fez disparar alarmes por todo o país, e rapidamente os partidos, da esquerda à direita, se aprontaram para dizer a sua justiça sobre a polémica em questão.
O Chega, terceira força política no Parlamento, anunciou que iria “chamar de urgência ao Parlamento o presidente da ERSE, o presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, e o secretário de Estado João Galamba para darem explicações tão urgentes quanto possível desta situação”. André Ventura, líder do partido, começou por referir, em conferência de imprensa, que, inicialmente, foi dito que o mecanismo ibérico “seria uma grande vantagem para os consumidores portugueses”. “De facto, o mecanismo ibérico permitiu durante algum tempo um certo travão no crescimento dos preços, só que este mecanismo ibérico tem um custo e esse custo será repercutido para o futuro”, continuou Ventura, garantindo que o Chega pretende ver a ERSE explicar “como e de que forma é que o mecanismo ibérico está ou vai provocar aumento dos preços”.
Já em relação ao presidente da Endesa Portugal, o Chega pede uma justificação sobre o porquê de ter falado de um aumento nos preços, “quando a empresa veio contradizer o próprio presidente”. Finalmente, a estrutura política quer também que o secretário de Estado do Ambiente e da Energia diga “efetivamente quanto é que vai ser o aumento ou o custo desse mecanismo ibérico”.
“Esta atitude venezuelana de António Costa e do Governo socialista mostra bem o tipo de Governo com que estamos a lidar”, criticou ainda André Ventura.
Os trabalhos na Assembleia da República encontram-se, no entanto, suspensos para férias, sendo retomados em setembro. Por isso, tendo em conta que o requerimento terá ainda de ser votado e, em caso de aprovação, a audição destas entidades só deverá acontecer no regresso dos deputados ao Parlamento.
PSD e IL acusam abuso de poder Ainda à direita, também o PSD e a Iniciativa Liberal foram críticos em torno do anunciado aumento de preço da eletricidade. A partir da sede de São Caetano à Lapa, Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, acusou o Governo de se ‘intrometer’ nas “regras do mercado” e de reagir “a quente” às declarações de Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, referindo-se ao despacho emitido pelo gabinete do primeiro-ministro.
“Foram declarações que não agradaram ao Governo e o Governo, em resposta, condiciona todas as compras e relações do Estado nesta empresa. Não gostou do que ouviu e então castigou”, frisou Pinto Luz, considerando a postura do Executivo “inaceitável” e acusando-o de ter “poucas soluções para quem precisa, neste caso os consumidores”.
A IL, por sua vez, foi sucinta, e irónica: “PS significa também Prepotência Socialista, porque perante declarações de um presidente de uma empresa privada que o PS não gosta, o que é que ele faz? Retalia”.
Palavras de João Cotrim Figueiredo, líder dos liberais, que continua: “Isto é a versão moderna de quem se mete com o PS leva. Prepotência e propaganda são as duas armas que restam a um Governo que é incompetente”.
be fala em ‘boa ação’ Já o Bloco de Esquerda, pela voz do seu líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, considerou que a resposta do Governo às palavras de Nuno Ribeiro foram uma “boa ação”. “É incompreensível é que perante outras empresas, exatamente nas mesmas circunstâncias, o Governo não aja”, retorquiu ainda Filipe Soares, pedindo ‘coerência’: “Sendo uma atitude coerente de resposta à Endesa, para considerar inaceitável que, a coberto do debate sobre a inflação, haja empresas que abusivamente se aproveitem do contexto para pressionar os preços e onerar famílias e economia de forma indevida, essa ação e essa comoção não pode terminar apenas e só na Endesa”.
pcp pede ação Por sua vez, o Partido Comunista considerou ser “inaceitável a existência de qualquer aumento da eletricidade”, apelando ao Governo para que tome “todas as medidas que o impeçam”. Em comunicado, o comunista Jorge Pires considerou que o desmentido feito pelo Governo “não deixa ninguém descansado”, porque “continua sem explicar com clareza como vai financiar” o mecanismo ibérico em questão.