O braço de ferro entre trabalhadores e a administração da TAP continua. E se os sindicatos acusam a gestão de colocar a empresa em «rota de colisão», a companhia aérea liderada por Christine Ourmières-Widener defende-se e fala em «constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência» por parte dos pilotos, tripulantes e técnicos de manutenção.
Esta falta de consenso levou as três estruturas sindicais – Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) – a convocarem uma ação de protesto, na terça-feira, que contou com cerca de mil trabalhadores, e à entrega de um manifesto no Ministério das Infraestruturas, endereçado a Pedro Nuno Santos, onde apontam para um «ambiente de despesismo pouco ou nada auditado» e questionam a mudança de sede anunciada pela comissão executiva.
Do lado do Governo houve apenas uma nota. O ministério de Pedro Nuno Santos disse contar com o «sentido de responsabilidade» dos trabalhadores em transformar a operadora aérea «numa empresa rentável e sustentável», «num momento» em que o plano de reestruturação da TAP «está a ser executado com sucesso», lembrando que a companhia aérea «vive as consequências do ano dramático de 2020, quando o encerramento da empresa foi apenas travado pela injeção de fundos públicos, por parte do Estado português, num valor que vai atingir os 3,2 mil milhões de euros» e que essa injeção de fundos públicos «só foi autorizada pela Comissão Europeia por estar sujeita a um plano de reestruturação exigente, que terminará apenas em 2025».
Acusações vs resposta
As estruturas sindicais apontam o dedo à administração da TAP, dando como exemplo a «despesa com contratações externas», os custos de «mais de um milhão de euros por mês» na conversão de aviões de longo curso em aviões de carga, «mas que nunca saíram do chão», a mudança da sede e o «meio milhão de euros gasto no piso 5 do edifício da administração, para o transformar em andar modelo, sem utilização futura à vista».
E as críticas não ficaram por aqui ao afirmarem a atual administração tem «mostrado várias vezes incapacidade para motivar e cativar os trabalhadores, mantendo uma postura distante e pouco consensual» e que os trabalhadores foram «alvo de ameaças para aceitarem acordos temporários de emergência, sob pena da implementação de um regime sucedâneo», para que fossem «aceites condições de trabalho abusivas».
Acusações que não caíram bem junta da administração, que «lamenta e repudia a constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência, os julgamentos de intenções e a cada vez mais frequente apresentação de ‘factoides’ avulso, propositadamente descontextualizados, distorcidos e até, nalguns casos, completamente falsos, com que alguns sindicatos bombardeiam constantemente a comunicação social», lembrando que «está, desde sempre, disponível, para o diálogo com todos os sindicatos e nas múltiplas reuniões que tem mantido com os responsáveis sindicais».
E deixou ainda uma palavra em relação ao esforço que é pedido a todos os trabalhadores, nomeadamente com o corte de 25% no valor dos salários acima dos 1.410 euros. «Sem esse esforço, não teria sido possível obter a autorização da Comissão Europeia para o plano de restruturação que permitiu a sobrevivência da TAP».
Lidera só em Lisboa
É certo que os dados não são animadoras para a TAP em termos de quota de mercado. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) revelou, esta semana, que o número de passageiros nos aeroportos nacionais mais do que quadruplicou no segundo trimestre deste ano, crescendo 329,3% em relação ao período homólogo, para 14,5 milhões.
Só o aeroporto de Lisboa registou um aumento de 328,5%, atingindo 7,6 milhões de passageiros, seguido pelo Porto (mais 292,1%), com 3,5 milhões de passageiros. Faro apresentou um crescimento de 421,5% com 2,7 milhões de passageiros, tendo o Funchal crescido 259,7%, para mais de um milhão, e Ponta Delgada ultrapassado os 557 mil, mais 127,6%.
Em termos de quota de mercado de passageiros, a TAP liderou em Lisboa, com 47% e no Funchal, com 23%, seguida da Ryanair em ambas estruturas. No Porto, a companhia aérea de bandeira surge em terceiro lugar, com 11%, sendo que neste aeroporto lidera a Ryanair, com 35%. Já em Faro, a transportadora irlandesa lidera com 35% de quota, sendo que a TAP, de acordo com a ANAC, está entre as últimas, transportando apenas 3% em passageiros. Em Ponta Delgada lidera a SATA Internacional, com 33%, seguida da SATA Air Açores, com 27%. A TAP tem uma quota de 16%.
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