Por Joana Mourão Carvalho e Sónia Peres Pinto
O período de turbulência na Iniciativa Liberal parece não acalmar. E a pressão continua a subir em torno das eleições para os novos órgãos do partido: Conselho Nacional, de Jurisdição e de Fiscalização. Os conselheiros nacionais marcaram a Convenção eletiva para janeiro, e não para dezembro como estava inicialmente previsto, o que permite que os principais interessados ganhem tempo para apresentar listas aos vários órgãos do partido e juntarem-se à corrida em que Rui Rocha e Carla Castro são já candidatos a ocupar o lugar deixado vago por João Cotrim Figueiredo.
Apesar de os dois candidatos à liderança reunirem melhores condições – dada a sua visibilidade enquanto deputados e uma vez que têm assento na atual comissão executiva e por inerência no conselho nacional – do que qualquer outro membro base da IL que decida candidatar-se, a necessidade de outras alas do partido se sentirem representadas abre espaço para o surgimento de mais candidaturas.
As hipóteses de aparecer uma terceira lista à Comissão Executiva aumentaram sobretudo após Carla Castro ter recusado negociar com a Lista B, onde está refletida uma das linhas de pensamento mais conservadoras do partido. Quando a deputada liberal se lançou na corrida, o apoio da lista de Nuno Simões de Melo ao Conselho Nacional parecia quase certo. Na altura, os liberais clássicos viam a candidatura de Carla Castro como uma ‘lufada de ar fresco’, dando nota de que tinham levado a cabo um «diálogo com a candidata com vista à construção de uma plataforma de entendimento entre as duas listas» e à «incorporação» das ideias no programa, afastando a hipótese de avançarem para um cargo executivo, um objetivo que parece que está cada vez mais a ganhar terreno.
No entanto, em entrevista na última edição do Nascer do SOL, Carla Castro foi clara: «Não estou em negociações com nenhuma lista. Estou a montar a equipa e o programa. Os liberais que se revejam neste projeto, nesta forma descentralizada de gerir o partido, com colaboração e nos valores em que nos revemos, são bem vindos. Mas têm de respeitar esta matriz».
Agora, perante o afastamento de Carla Castro e face às deliberações do Conselho Nacional em adiar para os dias 21 e 22 de janeiro a realização da próxima Convenção Nacional eletiva, uma proposta que Rui Rocha colocou em cima da mesa, os liberais clássicos ainda ponderam ir a jogo: «Perante esta inércia, é esta a altura para dar a cara, e a Lista B nunca se demitirá da responsabilidade de assumir uma posição clara face aos temas importantes para o partido e para o país, estando, por esta mesma razão, e até declaração em contrário, em cima da mesa a possibilidade da Lista B poder apresentar uma ‘terceira via’ à Comissão Executiva».
Contudo, terá pela frente o grande desafio de encontrar nomes de peso no seio dos liberais para formar uma equipa capaz de fazer frente aos dois nomes mais conhecidos do eleitorado e que protagonizam a corrida à direção da IL.
Conselho Nacional mais concorrido
Já este sábado vai ser anunciada uma nova lista para concorrer ao Conselho Nacional, que será encabeçada por Miguel Ferreira da Silva. O candidato que também foi o primeiro presidente do partido revelou ao i que a iniciativa não partiu dele, mas foi convidado para liderar esta lista. «Não fui eu que fiz esta lista, tenho pena de não a ter feito, mas tenho muito orgulho que isso tenha acontecido porque isso mostra que é um partido de ideias e não de pessoas. Fizeram-me esse desafio e aceitei».
Sob o lema ‘Todos Diferentes, Todos Liberais’, esta nova lista aposta na ‘diversidade’ e ‘pluralismo’ e assume-se como «conciliadora e agregadora», garantindo que é composta por membros com visões e conceções diferentes das várias vertentes do liberalismo, mas sempre centradas na liberdade individual e no pleno e livre desenvolvimento da personalidade e dos planos de vida de cada um. «É uma lista composta por membros que têm um longo registo de trabalho realizado para o partido, de intervenção na vida pública, com uma profunda vontade de trabalhar ainda mais para o crescimento e o desenvolvimento orgânico do partido. Tem tido também uma intervenção no espaço público nacional», referem.
Miguel Ferreira da Silva já manifestou o seu apoio pessoal a Carla Castro por entender que é a «melhor pessoa para liderar a próxima fase de crescimento e afirmação» do partido. «O notável trabalho da Carla Castro no Gabinete de Estudos, onde todos podemos participar, mas sempre focado em soluções, é garantia dessa abertura e desse caminho inclusivo nesta casa de todos os liberais», justificou na altura, considerando que há condições para «construir uma nova forma de participação política: mais aberta, mais plural, mais participativa, mais liberal».