Por Sónia Peres Pinto e Daniela Soares Ferreira
ATAP está a recorrer a aviões da Bulgária Air para alguns voos com destino à Europa. Ao que o Nascer do SOL apurou, há pelo menos um caso em que o avião está metade pintado com as cores da TAP e outra parte com o símbolo da companhia búlgara. A tripulação é também da mesma nacionalidade, ou seja, não sabe falar português. O presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) está a par destas situações, mas admite que não é recorrente.
«Poderá acontecer ocasionalmente uma situação ou outra. Até porque o número de tripulantes búlgaros é diminuto. O que está a acontecer? Houve um atraso por causa dos Embraer e a TAP teve de recorrer a contratação externa. Essa contratação externa, no caso da Portugália, contratou a Air Bulgaria que vinha com a tripulação técnica deles», diz Ricardo Penarroias.
O responsável revela também que, entre outubro e novembro, a companhia viu-se a braços com um aumento operacional e foi ‘obrigada’ a recorrer a mais tripulantes de cabine. «Poderá ter acontecido uma questão pontual em relação às tripulações, num período que não sei especificar. Agora tem havido nos últimos meses aviões da Air Bulgaria a operar aviões da TAP».
Já em relação ao facto de os aviões não estarem caracterizados com os símbolos do companhia, o presidente do SNPVAC garente que é uma prática recorrente. «A TAP também recruta a Hi Fly e esta não pinta o avião em função da companhia, uma vez que presta um serviço externo, faz os serviços, logo não muda nem a configuração, nem o logótipo do avião. Isto porque o avião é da Hi Fly, mas a TAP é que pagou».
Ricardo Penarroias recorda ainda que a Portugália e a TAP também já recorreram aos serviços da Eastern Airways, uma companhia inglesa e com a tripulação britânica.
Semana de paragem
Esta semana vai ser uma verdadeira dor de cabeça para a companhia de aviação nacional. Em causa está a greve marcada para os dias 8 e 9 de dezembro, convocada pelo Sindicado Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) e que vai levar ao cancelamento de mais de 360 voos. No entanto, Ricardo Penarroias admite que o impacto desta paralisação vai-se prolongar por mais dias. «O impacto da greve vai ter efeitos no dia 6, dia 7 e inclusive no próprio dia 5. No dia 10 e dia 11 ainda estará a ter. O impacto não é apenas para os dois de paralisação».
E a resposta por parte da TAP não se fez esperar. De acordo com o responsável, «a companhia está a fazer convites, diria muito pouco sérios, a aliciar tripulantes a aceitar determinados voos, a prolongar as suas estadias fora do que está estipulado no Acordo de Empresa, exatamente para desinsuflar a greve. Fico satisfeito, por um lado, que a empresa esteja a fazer isso, porque revela que acredita que a adesão vai ser alta e que está preocupada com a greve».
Mas acrescenta: «Pena é que não esteja preocupada em tentar resolver os problemas que levaram a uma insatisfação dos próprios tripulantes, que levaram a uma greve. Isso é que me preocupa. E preocupa-me muito esta atitude, de certa forma sobranceira de não querer apresentar uma proposta no dia 6 de dezembro para a Assembleia Geral».
De acordo com a estrutura sindical, nestes dias deverá ter uma oferta de serviços mínimos limitada, afastando-se das ligações entre continente e ilhas por haver alternativas. «Com a abertura do espaço aéreo à Madeira e Açores com várias empresas a operarem para as ilhas, parece-me que não é justificável haver serviços mínimos. O próprio presidente regional da Madeira já veio dizer que a TAP já tem pouco impacto na vida dos madeirenses», refere.
Braço de ferro?
A troca de acusações entre a empresa e a estrutura sindical tem vindo a aumentar de tom. A CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, diz que esta paralisação terá um impacto estimado de oito milhões nas receitas. Números que não caíram bem ao sindicato que diz que são um equívoco. «A administração alega que os ‘ganhos’ que os tripulantes teriam com esta proposta rondariam os oito milhões de euros. É aqui que nasce o grande equívoco. Não estamos a falar de cedências. É algo que pertence aos tripulantes e que a empresa retirou de forma unilateral». E acrescenta que «na realidade não são oito milhões de euros, mas sim constantes incumprimentos que ascendem a mais de 12 milhões de euros e que a empresa deve aos tripulantes».
O SNPVAC considera ainda que as declarações de Christine Ourmières-Widener são «um dos maiores ataques à classe», «uma exposição inqualificável e sem precedentes» e também uma «tentativa de pressão e apontar de dedo» feita pela TAP «de forma vergonhosa, junto dos restantes trabalhadores do grupo e da opinião pública».
Ao Nascer do SOL, Ricardo Penarroias afasta a existência de um braço de ferro. «Não quero ver as coisas desta maneira. Se a administração vê esta insatisfação dos trabalhadores como um braço de ferro, então, é triste e preocupante que uma administração se ponha nesses moldes. Aquilo que o sindicato reivindica é algo que lhe pertence. São situações que a companhia tem de cumprir. E relembro que algumas das nossas reivindicações já foram apresentadas em meados de março e abril. Tivemos todo este período à espera que a empresa tomasse uma posição construtiva para a resolução dessas situações e não quis resolver. Estranhamente, foi preciso haver um pré-aviso para a empresa se sentar à mesa e conseguir resolver parte das nossas reivindicações».
E apesar de reconhecer que a empresa tem vivido um período complicado, o presidente do SNPVAC garante que «a administração em vez está preocupada em fazer um braço de ferro connosco, devia estar preocupada em garantir a paz social. As administrações não se avaliam pelo número ou pelos resultados económicos que apresentam. Isto é um fator. O fator principal que uma administração como a TAP tem é garantir a paz social. Havendo paz social, seguramente uma empresa como a TAP vai ter sucesso, porque no passado aconteceu exatamente isso».
Já em relação às declarações do ministro que tutela a empresa e que considerou que esta greve era «o pior que podia acontecer» à TAP, Ricardo Penarroias diz apenas a Pedro Nuno Santos: «É engraçado. A pergunta que faria ao ministro é quando é que é uma boa altura para fazer uma greve? Se alguém me puder explicar se há uma altura ótima para fazer uma greve, que me diga. Não são os trabalhadores que resolveram de uma forma unilateral que iam fazer uma grave. A greve é sempre o último meio que os sindicatos têm quando a sua voz não é ouvida. Só se recorre a uma greve mesmo em última instância. É como costumo dizer: motivos para greve temos desde o dia 1 de janeiro».