Entrevista conduzida por Teresa Carvalho
Estreado em livro em 1974 com os poemas marcantes de Algures a Nordeste – um título que começou por ser para alguns uma espécie de equivalente geográfico d’o cu de Judas -, António Manuel Pires Cabral tem sabido contrariar, com discrição, o dito popular ‘muito e bem há pouco quem’, construindo uma vasta obra situada em elevado plano de exigência. Inclui poesia, romance, conto, teatro, crónica e o mais que o talento versátil permite: narrativas de viagens, um dicionário em linguagem popular transmontana em dois volumes, peça provavelmente irrepetível, antologias temáticas.
Alguns arrumadores da literatura começaram por destinar à sua poesia um lugar onde mal caberia o Morris Cooper S ou mesmo a Harley-Davidson que comparecem em dois poemas do livro Trade Mark (2018). Pires Cabral, no domínio pleno desse veículo que herdou de Camões, a língua portuguesa, continuou a sua nordestina via, atravessando campos e montes, percorrendo vinhas e furnas, detendo-se no que parece não ter peso ou relevância, nas coisas humildes, essas que criam um espaço de resistência à degradação do mundo. O poeta sabe fazer subir da experiência mais simples, do arável solo comum de todos nós essas pequenas cintilações graças às quais se penetra melhor na espessura do que somos.
Licenciou-se em Filologia Germânica, em Coimbra. O que é que nesses anos agitados aprendeu na cidade do Mondego?
Aprendi aquilo que os programas impunham, mas também aprendi a participação nos movimentos académicos de contestação em que me deixei envolver bastante, o que perturbou as matérias curriculares… Deixei de prestar tanta atenção ao Shakespeare, ao Goethe e a outros para me envolver na luta académica, mas alguma coisa sempre ficou, nomeadamente Shakespeare. O Goethe da literatura alemã não me impressionou especialmente, mas entrei bem num outro poeta que, não sendo alemão, escreve em língua alemã: o Rainer Maria Rilke, um poeta em muitos aspectos comovente que muito me influenciou.
Mas chegou a envolver-se directamente na luta académica?
Nunca estive no primeiro plano das lutas, muito embora tenha vivido momentos importantes da vida académica: um dia até andei a fugir à frente de um polícia de choque. Fazia parte daquele conjunto de alunos que seguiam o Henrique Figueiredo, o José Carlos de Vasconcelos, o próprio Jorge Sampaio, que de vez em quando aparecia por Coimbra, enfim, todos aqueles líderes que tinham de ter por detrás boa parte da academia para desenvolver o seu trabalho. A certa altura, foi decretada a ocupação da Associação Académica e eu participei durante a noite. Era uma luta política disfarçada de objectivos académicos, como a nomeação do reitor, a autonomia académica.
E na Coimbra dos doutores também conviveu com aquilo a que num famoso conto chama «o demónio da especialização»?
[risos] Isso é uma fantasia, um conto que eu fui inventando aos poucos… Mas tenho a noção de que a especialização excessiva pode ser nefasta. E esse conto [‘O porco de Erimanto’] é também uma tentativa de denunciar que a especialização, esse acto de cavar cada vez mais fundo, pode ser perigoso e pode-nos afastar de coisas que são importantes. Nunca me especializei em nada, nunca quis. Quando começo um conto, o ponto de partida pode ser uma ideia mínima, uma pequeníssima luz. Neste caso, foi a própria figura do porco. Um dia estava a estudar elementos da cultura clássica e calhou vir, a talho de foice, os trabalhos de Hércules, um dos quais era justamente o porco de Erimanto. Hércules tinha de dar cabo do porco, achei piada. E um dia pus-me a pensar se uma pessoa, especializando-se demasiado na figura desse porco, poderia vir a suinificar-se (creio que o verbo é criação minha). Gosto desse conto, que de certa forma ficou como emblema da minha ficção. E é dos que mais traduções tem tido; só em espanhol tem três ou quatro traduções diferentes.
Tem outros contos onde esse tal demónio da especialização e o mundo académico voltam a fazer a sua aparição. Há figuras que encaixilham notas de rodapé onde foram brevemente citadas e penduram-nas na parede, ao lado do diploma de doutoramento, como se estes tivessem vida própria… A Academia tem sido para si uma inspiração? Como se relaciona com ela?
Nem bem, nem mal, estou fora dela. Temos de conviver. Há certos tiques próprios dos académicos, quero dizer: os que se voltam só para a sua carreira académica e ignoram que existe mundo à volta deles, como esse tipo do conto que encaixilha o diploma, que fazem pensar. Eu não tenho de corrigir nada, sou apenas testemunha, como em tudo na vida, e não quero ser mais que isso. Não nasci para ser interveniente, para alterar aquilo que é o mundo. Eu nasci para escrever, que é a minha paixão principal.
Os seus livros, e os de poesia em particular, nunca prepararam espaço crítico à sua volta nem se abriram a prefácios, posfácios, notas explicativas, à moda de um Jorge de Sena, por exemplo. É uma recusa deliberada? Vai nisto a sobriedade?
Não é bem assim, mas quase. E digo quase porque há na verdade uma excepção. A primeira experiência de ‘poesia reunida’ foi publicada em 1998 por iniciativa de Pedro Mexia, na famosa e prestigiada colecção da Guimarães que tinha o título goethiano de ‘Poesia e verdade’. Chamou-se essa experiência Artes marginais, e era complementada com um ensaio de Joaquim Manuel Magalhães. Mas foi de facto caso único. Todos os outros livros de poesia (e não apenas de poesia) têm vindo a lume desacompanhados de prefácios ou posfácios. Não posso dizer que seja uma recusa deliberada. Nem será provavelmente uma questão de sobriedade. Acho que é mais uma questão de timidez. Tenho (sempre tive) dificuldade em pedir. Mas se alguma vez algum crítico credenciado se oferecer para prefaciar ou posfaciar um livro meu, tudo bem, aceitarei com toda a naturalidade. E também lhe digo que os meus livros têm passado bem sem essas muletas – e uso aqui a palavra muletas com todo o respeito e sem qualquer acinte.
São alguns os lugares em que aparece definido como «poeta do Nordeste», o que é mais que redutor. Parece-lhe que a etiqueta é apenas uma referência à sua situação geográfica ou tem fabrico malévolo?
Não gosto que me digam que sou um poeta do Nordeste, um poeta regional e muito menos regionalista. Procuro ser fundamentalmente um poeta do universal, do Homem, que tanto o é numa aldeia de Trás-os-Montes, como em Nova Iorque, em Lisboa ou no Rio de Janeiro. Portanto, quando me dizem que sou um poeta do Nordeste estão a fazer, julgo eu, uma afirmação de tipo geográfico. E não a posso negar: nasci no Nordeste, vivo no Nordeste, que tem sido também um dos grandes motivos que me levam a escrever, e hei-de morrer no Nordeste. Boa parte da minha produção cultural e literária está centrada no Nordeste. Agora, também é capaz de haver quem faça essa classificação para reduzir. Sabe que há gente da escrita muito mazinha, que sucumbe a sentimentos negativos, como a inveja, por exexmplo, e – admito – o faça para me diminuir, mas eu não me considero diminuído por isso, até porque o assumo: o Nordeste é a minha terra, a minha casa, o meu pó a haver, como digo num poema.
Como é viver entre o xisto e o granito?
A minha situação como poeta enraizado no Nordeste satisfaz-me. E não me limita. Continuo a ser um poeta do homem e do que existe dentro dele. Um poeta que, especialmente nos últimos livros, põe em causa a transcendência e tenta manter um diálogo com Deus e que nem sempre se deixa convencer pelos argumentos de Deus. Tenho discordado muitas vezes da ideia de Deus que me tentam meter dentro do caco. Mas mantenho com Ele uma relação muito peculiar. Há momentos em que me faz falta, às vezes preciso dele mas outras vezes sinto: sou um homem e um homem não precisa de nada estranho a ele, um homem deve manifestar-se em todas as suas potencialidades e não tem nada de se subordinar à ideia de um ser superior que o criou. É uma relação muito estranha: tanto o amo como, não diria odeio, mas o ignoro. É uma linha de poesia que tenho seguido. Neste último livro, Caderneta de Lembranças, são muitos os poemas em que procuro um diálogo com o transcendente e que não encontra eco da outra parte. Sou eu que procuro sempre, sempre contactar e não obtenho resposta.
E que efeito tem em si a ausência de respostas?
É algo que de alguma forma me angustia, naturalmente. Se falo com Deus, se lhe peço alguma coisa, gostaria que Ele me respondesse: ou sim ou não. Diz-se que responde. Se não responde com as palavras dos homens, responde com o vento, o canto das árvores, isto e aquilo… mas isso a mim não me interessa. Interessava-me sim uma palavra, uma «simples sílaba», como digo num desses poemas, que me fosse inequivocamente dirigida. Era isso que eu precisava de Deus, mas até ao momento não tive. Também não sei se Ele, cansado destas minhas invectivas, um dia não acabará por me dizer alguma coisa.
O seu livro de estreia, intitulado, justamente, Algures a Nordeste, foi publicado em edição de autor…
Sim. O livro acabou por se vender porque os Bombeiros Voluntários de Macedo de Cavaleiros precisavam de comprar uma ambulância. Souberam que eu tinha o livro, e dispuseram-se a pagar a edição. Na altura, nove contos de reis, o que era alguma coisa, era um vencimento. Deram-me 50 exemplares que ofereci a alguns amigos, fui despachando para aqui e para ali, e os restantes venderam-nos porta a porta. As pessoas compravam, não porque gostassem de poesia, mas porque era para ajudar os bombeiros [risos]. Entrou em muitas casas, essa tiragem de mil exemplares, um número que hoje já não se pratica. Houve quem o tenha lido, terá havido quem leu dois ou três poemas e depois arrumou num canto qualquer. Numa manhã mais fria de janeiro, pode bem ter servido para acender o lume. É possível.
E esse livro teve críticas?
Sim. Enviei para alguns dos críticos que na altura me pareceram susceptíveis de serem mais sensíveis ao livro: Joaquim Manuel Magalhães e Luís Miranda Rocha (há muito não oiço falar dele, era um óptimo crítico). E tive a sorte de ambos terem gostado do livro e de terem escrito sobre ele; disseram coisas lisonjeiras. Foi, digamos, o pontapé de saída para a minha carreira como poeta. O ficcionista já entra relativamente tarde, já é uma coisa dos anos ‘80.
E como se deu esse salto para a ficção narrativa?
A certa altura, pensei que havia outras disciplinas literárias que poderia tentar, como a ficção. E foi então que escrevi um romance chamado Sancirilo (1983), que obteve o prémio do Círculo de Leitores. Foi o meu bater à porta de uma disciplina literária que até então me estava vedada; penso que a consegui abrir dessa forma. A partir daí, fui alternando poesia com ficção. Também um pouco de teatro, mas em relação a esta área temos de ter alguma indulgência porque foi sempre um teatro escrito a pedido de companhias de teatro locais. Reconheço que em algumas dessas peças, talvez já umas doze, há momentos que melhor seria que lá não estivessem, mas escrever por encomenda também condiciona bastante. Outra coisa que facilitou também foram as crónicas. Publiquei talvez umas mil crónicas mas, lá está, o problema da periferia… se tivessem sido publicadas num jornal de Lisboa, poderiam ter tido algum rendimento, em termos de visibilidade. Mas foram para mim muito importantes: é sempre um treino de estilo e convém não perder a mão.
Nessa altura da sua estreia poética, Joaquim Manuel Magalhães parecia ditar para os poetas mais novos caminhos a explorar, propondo o famoso “regresso ao real”. Alguma vez se sentiu tentado por esse caminho?
Mas quer poesia mais atida ao real do que a do meu livro Algures a Nordeste? Basta passar os olhos pelo índice. Há, claro está, alguns poemas mais especulativos e arredados do mundo concreto. Mas depois comparecem pessoas, usos e costumes, acidentes geográficos, fenómenos atmosféricos, animais, flores, e sei lá que mais – tudo arrancado à realidade. Não regressei ao real porque não nos é possível regressar a um lugar onde já estamos. Quanto a essa tentação de que fala de seguir o caminho que outros seguem, deixe-me dizer-lhe que faço gala de ser, por conformação psicológica, uma ‘carta fora do baralho´. O que quero dizer com isto? Quero dizer que não vou em epigonismos, escrever à maneira de. Não sou ávido de seguir novidades. Quer um exemplo? A certa altura há como que um surto daquilo que ficou conhecido por poesia experimental. Assistimos então, em grande número de poetas, a uma proliferação de poemas com aquela disposição esquisita das palavras. Viu alguma vez um poema experimental em livro meu? Não viu. Segui o meu próprio caminho e a minha voz poética tem sido reconhecida como uma voz pessoal.
Antes de publicado esse primeiro livro, escrevia para o eco morto da gaveta?
Sim, já escrevia há muito tempo. Em Coimbra, já publicava os meus versos na Via Latina, que era o jornal da Academia, e já me sentia motivado para escrever poesia. No entanto, ainda não se tinham reunido todas as condições necessárias para publicar um livro. Havia o problema de haver um editor, por outro lado, os custos económicos que isso comportava… Mas também alguma hesitação, alguma timidez de me dar a conhecer enquanto poeta. De modo que só fiquei maduro para a poesia aos 33 anos, um pouco tarde para os padrões portugueses, mas foi assim que aconteceu.
Parece-lhe que actualmente se publica com demasiada pressa e facilidade?
A poesia tem sido uma espécie de manta espanhola que tem coberto muita gente. Há muita gente que escreve poesia que, se calhar, se a não escrevesse não seria pior, digo eu. É uma das actividades humanas mais sujeitas, mais atreitas a charlatanismos, a experiências estrambóticas. De modo que, se se publicam 300 livros de poesia por ano em Portugal, três ou quatro chegariam para honrar a poesia. Há muito poeta – e não me estou a por fora desta consideração – que publica porque tem dinheiro para pagar a edição, por vaidade em mostrar aquilo que faz (embora possa não valer nada), que publica para se afirmar, o que é legítimo, mas através da poesia é um pouco duro para a imagem que deixamos da poesia. E penso que aqui ao lado, em Espanha, é exactamente a mesma coisa. Em França será o mesmo. Uma grande percentagem de livros que aparecem não vieram trazer nada de novo. Poderiam ter sido eliminados à nascença que não se tinha perdido nada.
O que se sente bastante na poesia que hoje se publica é que, estranhamente, os poetas mais novos parecem desconhecer o que é o verso.
Quando a poesia começou a extravasar daqueles limites das rimas, da métrica, as pessoas convenceram-se de que se podia escrever poesia de qualquer maneira, o que naturalmente não é verdade. A poesia pode não ter rima, pode não ter esses valores fónicos, mas tem de ter um ritmo, uma música interior que a certifique enquanto poesia, é essa a sua essência. Não basta alinhar palavras ao longo da página, cortar as frases de modo a que pareçam versos. Nada disso.
E também a própria palavra terá perdido alguma centralidade na cena poética. O que lhe parece?
Bom, sou apenas um poeta, nada mais que isso. Não sou daquele género do dois em um que, além de poeta, também consegue ser teórico da poesia. Mas o que me parece fundamentalmente é que quando a poesia se libertou de alguns esquemas mais rígidos, as pessoas conquistaram essa liberdade e quiseram mais liberdade, quiseram uma poesia que não é poesia. As liberdades puxam umas pelas outras. E liberdades legítimas acabam por atrair liberdades ilegítimas, que são espúrias. É o caso desses senhores poetas que pensam que basta alinhar as palavras. Ainda há quem não se tenha convencido disso e também não lhes interessa a qualidade da palavra, que usam como quem usa um sabonete. A palavra deixou de ser a pedra de toque fundamental da poesia para ser usada de maneira arbitrária. Precisamos de reconduzir a palavra à sua dignidade inicial. Eu esforço-me para o fazer.
Há na sua poesia traços que se desenharam cedo. Um deles é a ironia que carrega um certo divertimento que habitualmente faz reverter o humor em coisa séria, em reflexão. A nossa poesia é ainda muito sisuda?
Talvez, mas sou avesso a generalizações. Sou um poeta irónico por definição. O que está no centro da minha poesia é uma atitude irónica perante tudo, nada escapa, tenho sempre à mão o frasquinho da ironia. Raro é o poema em que não há uma gotinha. Parece-me que é um ingrediente que enriquece a poesia. Sendo divertida, a ironia é uma coisa extremamente séria. Sou assim na própria vida, gosto de encarar as coisas pelos óculos da ironia. É um modo de ver e sentir as coisas, é parte integrante do meu modo de ser e da minha poesia também. Não consigo escrever nada onde não me sinta inteiro lá dentro. Por vezes, há um poema ou outro onde isso acontece e o destino dele, normalmente, é a gaveta ou o caixote do lixo.
Há um poema do livro Frentes de Fogo, ‘Da Inútil Idade’, em que refere «a inata habilidade/ de me contentar com pouco». Quer concretizar?
É da minha própria natureza. A nível literário, por exemplo, não busco aquele poeta que as pessoas reverenciam. Contento-me com pouco, que é aquilo que eu próprio faço. Nesse poema, irónico, diz-se que já está tudo dito. A certa altura, comparo-me com um «cão compenetrado/ que rói interminavelmente um osso/ que julga indesgastável».
Quando deita o olhar ao caminho andado, que balanço faz do percurso?
Poderei parecer vaidoso, mas, apesar de tudo, faço uma apreciação claramente positiva. Creio que valeu a pena aquilo que escrevi. Não há um livro de que me arrependa de ter feito. Quando foram abatidas árvores para o papel para aquilo que escrevi, talvez não tenha sido desperdício. E em alguns momentos talvez tenha conseguido a cumplicidade do leitor. E se pudesse voltar atrás, julgo que seria, passo por passo, o mesmo percurso que me trouxe até aqui.
É um dos raros poetas que tem sublinhado o papel da sua mulher, sua primeira leitora, na extensa obra que tem vindo a construir. E sabemos da importância, a este nível, de uma Mécia de Sena, uma Agripina Costa Marques, Olga Lima… Escrever é um ofício que pede tempo, mas não só…
Sempre conseguiu gerir a família, gerir a casa sem com isso perturbar o meu próprio ritmo, o meu mundo literário. Não é nada fácil, mas ela é uma mulher de uma força extraordinária. E tem feito tudo isso com gosto, muito embora isso por vezes lhe cause problemas, dificuldades. Mas estou convencido que de alguma forma está orgulhosa porque, da sua colaboração, tem resultado uma obra literária com alguma expressão.
Tem uma biblioteca com o seu nome e também o Grémio Literário de Vila Real. Como lida com estas ‘glórias’?
Não lido muito bem, não. Sinto-me um pouco embaraçado, porque me parece que as pessoas interrogarão: porque é que foram tomar o nome deste sujeito para este grémio ou esta biblioteca? E podem pensar que fiquei inchado. São na verdade deferências que têm para connosco. Ao darem o meu nome à biblioteca de Macedo de Cavaleiros e ao Grémio Literário Vila-Realense foram excessos de pessoas que me querem bem, fizeram-no porque gostam daquilo que eu represento para elas.
Foi professor durante décadas. Como vê a actual luta dos professores?
Como professor que fui, tendo a colocar-me ao lado dos professores. Calculo que se se consegue mobilizar esta quantidade impressionante de professores, a razão esteja do lado deles. É claro que um líder sindical pode fazer distorcer a realidade, mas todos temos dentro de nós o filtro necessário para saber o que é que sim e o que é que não. Creio que têm razão, embora a razão também se perca quando se procura fazer valer a razão de qualquer modo. Agora, quando se tratar do movimento no sentido de a carreira docente absorver todos os que estão no ensino, é preciso cautela. Há quem esteja no ensino porque não tinha outra solução. A carreira docente também servia para tapar buracos, às vezes com muito pouca habilitação. E quando me parece que se pretende que esse tipo de professores, que ainda existem no nosso ensino, sejam absorvidos pelo sistema, aí, tenho de pôr as minhas reticências.