Numa entrevista ao nosso jornal, disse que há radicais que tem de controlar dentro do partido, os evangélicos, os nacionalistas, etc. Como consegue manter os mais radicais na ordem?
Queria dizer isto só por ter referido os evangélicos. Os evangélicos são hoje uma presença importantíssima no Chega. Nós temos acolhido muitos, muitos imigrantes brasileiros que se reveem no Chega e que se juntam ao Chega para ter aqui um espaço político de acolhimento. Aliás, posso dizer, que um dos grandes objetivos políticos que tenho é integrar toda a comunidade evangélica também no Chega nos próximos tempos. Conseguir que eles percebam que há um espaço político para eles, independentemente de eu ser católico e de haver uma maioria católica em Portugal. No Chega, a comunidade evangélica tem ajudado muito. E o partido quer muito integrar a comunidade evangélica.
Tem ajudado como? Com o financiamento?
Não. Tem ajudado muito no crescimento do partido. Sobre o financiamento, isso é público, não sei quem é que dá e quem é que não dá. Mas nós não temos relações financeiras com a comunidade evangélica. Agora, têm ajudado muito na presença em muitos distritos. Muitos brasileiros que chegam a Portugal juntam-se ao Chega. Esse é outro fenómeno que encontro por todo o país. Há muitos brasileiros, alguns que vieram depois da vitória do Lula, outros antes, e que me dizem que o Chega é o seu partido aqui em Portugal. Portanto, temos muito respeito por eles. Um dos grandes objetivos que tenho é integrar toda a comunidade evangélica no Chega, porque acho que eles são uma mais valia, são pessoas sensatas, de família, com valor. Agora, como em todos os grupos, há elementos mais radicais, mas isso não há só nos evangélicos. Há nos identitários, nos mais conservadores, nos católicos. A esses, eu acho que a minha própria liderança é a garantia de que esses fenómenos mais radicais não tomarão o poder dentro do Chega.
Nomeadamente aqueles que defendem a violência física e por aí fora.
Sim, por exemplo, que defendem a violência física, ou que defendem a expulsão de imigrantes por serem imigrantes, ou que defendem que há pessoas que têm menos valor pela raça. Esses nunca terão lugar no Chega enquanto eu aqui estiver. Acho que sou a melhor garantia de que isso não vai acontecer.
Mas está sempre a falar contra a imigração.
Porque não é contra a imigração. Pelo contrário, reconheço que hoje o país precisa da imigração. Não é isso que está em causa. Agora, o que nós queremos é em primeiro lugar o cuidado com alguma imigração que estamos a receber, sobretudo oriunda do países islâmicos ou islamizados. Em segundo lugar, queremos garantir que quem vem vem para trabalhar e não vem para viver dos nossos subsídios que isso que já temos cá muito. E alguns não são imigrantes. Portanto, não precisamos de ter mais imigrantes para isso. Isto não é ser contra os imigrantes. Muitos imigrantes são nobres, precisamente por isso, porque dizem ‘eu vim para cá, tive que trabalhar e que formar a minha vida e a minha família, não quero outros a vir para cá para estarem a viver à conta do meu trabalho’. Muitos desses imigrantes são do Chega. Em França, hoje, muitos dos quadros da Frente Nacional são portugueses e descendentes de portugueses, portugueses que foram e integraram-se, trabalharam e hoje não querem naturalmente que outros de outras partes do mundo vão para lá para viver dos seus descontos à segurança social. Aqui está a acontecer o mesmo com os imigrantes de segunda geração. Por exemplo, a comunidade afrodescendente, desde angolanos a cabo-verdianos, não só estiveram na fundação do partido, como são parte integrante do partido. Os afrodescendentes em Portugal gostam do Chega e o Chega gosta dos afrodescendentes e eu espero manter isso assim durante muito tempo.
Acha que os cartazes em protesto contra Catarina Martins dignificam o Parlamento?
Essa foi uma das situações que mais me revoltou. Como sabem, a minha imunidade parlamentar tem sido levantada por tudo e mais alguma coisa. O que revolta ali não é isso, é que a comissão tem tido dois pesos e duas medidas para salvaguardar alguns de ir perante a Justiça justificar o que têm de justificar.
O argumento é que entre políticos não têm levantado a imunidade.
Mas eu tive que ir a tribunal há dois meses por uma queixa de Mariana Mortágua. Esse caso até é bom para colocarmos a questão em perspetiva. Há uma jornalista espanhola que diz que Mariana Mortágua recebe dinheiro do BES ou recebeu. Eu e vários políticos nessa semana, ao vermos aquilo espalhar-se nas redes sociais, escrevemos que aquilo tinha que ter uma explicação. O que eu fiz foi partilhar a publicação da jornalista e escrevi ‘Hoje a Mariana Mortágua vai à televisão. Acho que era um bom dia para explicar isto’. Seguiu-se um processo e o levantamento da imunidade. Já Catarina Martins disse que os deputados do Chega eram todos racistas. O processo chega à comissão e a comissão não permite que seja levantada a imunidade parlamentar. Isto revolta. Depois é preciso perceber aqui outra coisa. As pessoas pensam que quem pede o levantamento da imunidade são os queixosos, mas não. Aquilo é visto pelo Ministério Público se tem andamento ou não. O Ministério Público disse que sim. O juiz de instrução olhou para aquilo e disse ‘então vamos pedir o levantamento da imunidade para ouvir a deputada como arguida’ e o Parlamento recusou. Isto é um conflito entre a Justiça e o Parlamento. O Parlamento protegeu uma deputada e não o fez com outros. Inês Sousa Real viu a sua imunidade levantada devido a declarações sobre um toureiro.
Mas nesse caso também não era com outro político.
Nesse caso, não. Mas no caso com Mariana Mortágua éramos os dois políticos. Então qual é o critério? Não há. É a impunidade total. Obviamente que, se eu tivesse dito que Mariana Mortágua estava a receber dinheiro do BES, o que tinha dito tinha responsabilidade criminal e eu tinha que o demonstrar, como aconteceu no caso do Rosas. Eu disse que este senhor teve parte em atos pouco dignos a seguir à revolução. Ele pôs-me um processo, fui a tribunal e depois fui absolvido, mas fui explicar, tive que levar documentos históricos, tive que provar que ele estava envolvido em alguns dos atos. O tribunal disse que eu estava na minha liberdade. A Catarina Martins devia ter sido chamada, como nós todos somos. Mas o Parlamento optou por protegê-la, como já tinha feito com Mariana Mortágua noutro caso que o Ministério Público tinha pedido o levantamento de imunidade. Daí que diga que naquele dia sentimo-nos revoltados. Eu e vários deputados do Chega vimos a nossa imunidade levantada por tudo e por nada.
Mas no caso do bairro da Jamaica acabou condenado.
Nunca fui condenado em nenhum processo criminal. O caso do bairro da Jamaica foi um processo civil, em que aquela família se sentiu ofendida na honra. Não teve nada que ver com racismo. O tribunal considerou que eu tinha ofendido a honra deles. Eu discordei, mas aceito como é óbvio a decisão da Justiça. Nunca foi condenado em nenhum caso criminal. Todos os casos que me imputaram até agora resultaram em absolvição. No caso do bairro da Jamaica fui condenado civilmente e tive que pedir desculpa. Erradamente, na minha perspetiva. Um político não devia ser sujeito a isso. Acho que a razão estava do meu lado, mas respeitei a Justiça e fiz o que a Justiça me intimou a fazer. Agora, ao contrário dos outros partidos, não fugi à Justiça, fui lá e respondi como fiz sempre, como tenho feito sempre. Nesse caso, não, porque não era um caso criminal, mas em todos os outros, não só aceitaram levantar a minha imunidade parlamentar como eu fui o primeiro a pedir para levantarem a imunidade. Porque eu não quero refugiar-me na imunidade parlamentar para não ter que responder.
O que no caso de Catarina Martins não aconteceu.
Exato, Catarina Martins pediu para não lhe levantarem a imunidade. As pessoas deviam pensar um bocado porque é que uma deputada não quer ver a sua imunidade levantada. São dois pesos e duas medidas. Por isso, quando me perguntam se aquela atitude foi correta no Parlamento, foi ostensiva, mas revolta e, portanto, acho que foi a atitude certa, porque foi revoltante o que aconteceu.
Agora, para além dos dois seguranças, também anda num carro com vidros escuros. Tem recebido muitas ameaças?
Temos recebido as ameaças habituais. Mas posso dizer que o cenário está a melhorar nessa matéria. Não tenho os números exatos, mas temos recebido menos ameaças. E o nível de apoio também está a subir muito na sociedade. Continua a haver ameaças de membros da comunidade cigana e de outras minorias, intensas, mas que também não têm levado a maior nível de preocupação, ou seja, o nosso nível de segurança tem-se mantido estável. Mas quer a articulação com as autoridades, quer a segurança do partido, têm mantido os mesmos níveis de desde há dois anos. Não sentimos necessidade de reforçar.
Tem feito muitas queixas ao Ministério Público?
Quando se justifica e apenas quando se justifica. Já demos alguns elementos ao Ministério Público. Quando vamos a algum sítio recebemos antes um relatório com potenciais ameaças daquele local, seja de um comício ou de uma arruada. Aí articulamos com a polícia. Desde há um ano e meio, também fazemos a nossa análise prévia das situações. Eu recebo uma série de ameaças de certas pessoas localizadas e que depois são identificadas pelos nossos membros do partido. Para evitar confusões ou violência, articulamos com a polícia. Quando fui a Mourão apresentar a minha candidatura autárquica, sabíamos que se estavam a organizar membros da comunidade cigana, porque vimos passar carrinhas organizadas, com utensílios na mão e que se deslocavam para o sítio onde eu iria fazer a comitiva. Articulamos com as autoridades e o corpo de intervenção de Setúbal mobilizou-se para impedir que aquilo acabasse em mais violência. Portanto, temos tido uma boa articulação, quer com o Ministério Público quer com as autoridades policiais. Não me posso queixar.
Não o incomoda ser considerado um troglodita perigoso?
Não, porque quem considera isso são os socialistas e os tipos de extrema-esquerda que acham que tudo o que é denunciar a corrupção é ser um troglodita perigoso.
Continua a defender a castração química de pedófilos mesmo contra sua vontade?
Claro. Hei-de morrer a defender isso. Se calhar vai ser a minha última palavra. Quando estiver já no meu leito final, hei-de dizer ‘não se esqueçam da castração química de pedófilos’. Nós submetemos um projeto e o Presidente da Assembleia da República não deixou entrar o nosso projeto da castração química coerciva. Apenas deixou entrar um outro em que prevíamos a castração química se o próprio aceitasse. Mas a nossa posição mantém-se. Devia ser coerciva, como é em alguns países do mundo. Dizem que é inconstitucional. Estamos agora num processo de revisão constitucional na Assembleia da República e o Chega vai discutir dentro de dois meses a castração química na comissão de revisão constitucional. Nós vamos sempre a castração química, duvido que algum dia o partido tire do seu programa a castração química.
Mas acha sinceramente que isso é aceitável?
Ainda agora, que o tema é outra vez os abusos sexuais na Igreja, faz ainda mais sentido. Não é que o método seja infalível. Mas já tentamos de tudo. Não funcionou. Só 30% dos abusadores sexuais de menores cumprem pena de prisão em Portugal. Os outros 70% nunca entram sequer na prisão.Temos que mudar alguma coisa e a castração química dos pedófilos podia ser essa coisa a mudar.
Defende também a prisão perpétua, mas ainda não percebemos muito bem em que moldes. E a pena de morte?
Não defendo pena de morte, por duas razões. Uma do foro pessoal, embora a Igreja até a tenha aceite durante vários anos, que é a minha crença de que Deus dá a vida e Deus tira a vida. Mas isso é a minha crença, evidentemente. Outra razão é sobretudo o exemplo dos Estados Unidos, que nos tem mostrado a questão da fiabilidade, às vezes, do sistema de justiça. Ou seja, haver um erro e a pessoa ser morta e já não há volta atrás, porque ressuscitar só Jesus Cristo é que ressuscitou. Portanto, o que defendemos é uma prisão perpétua revisível de quinze em quinze anos. Isto é, uma pessoa é condenada à prisão perpétua, ao fim de 15 anos a pena pode ser reavaliada, no sentido de avaliar se a pessoa está em condições de voltar à sociedade, se se arrependeu do que fez, se interiorizou a culpa, etc.
A propósito do relatório dos abusos na Igreja, andou num seminário. Alguma vez sentiu assédio sexual e o que acha deste relatório?
É vergonhoso. É algo que nos envergonha a todos enquanto católicos. Acho que é preciso fazer mais. Acho que o Ministério Público tem agora que agir rapidamente sobre os casos que ainda seja possível agir. E acho que a Igreja deve afastar todos os padres que estão no ativo e que estão envolvidos neste relatório. Tem que fazê-lo rapidamente para o bem da sua própria imagem, até num ano em que vem cá o Papa. Isso é especialmente perturbador. De facto, estive num seminário e no meu tempo na universidade vivi numa igreja, na Igreja de São Nicolau. Nunca senti da parte de ninguém qualquer comportamento sexual menos próprio em relação a mim. Admito que o ambiente enclausurado e culturalmente fechado possa contribuir para esse fenómeno.
Mas estava à espera que o relatório tivesse esta dimensão?
Não sei se estava à espera que fosse desta dimensão. Já havia rumores disto, sabia que íamos ter casos e que estes casos não seriam fáceis de lidar. Há duas entidades aqui com uma grande responsabilidade: a Igreja Católica e o Ministério Público. A Igreja Católica tem de fazer a limpeza da casa e o Cardeal Patriarca de Lisboa aí tem que ser implacável e o Vaticano também. Imagino eu que deve haver poucos casos que ainda estejam dentro do prazo da prescrição. Não é que por uns devam pagar os outros. Mas era importante que as vítimas sentissem que pelo menos em alguns casos foi feita justiça. Aí espero que o Ministério Público aja rapidamente. Estou certo que o Ministério Público vai agir rapidamente.
Sabe que há uma corrente que quer maior abertura na Igreja, que quer permitir o casamento aos padres, que quer a ordenação de mulheres, que quer o casamento homossexual reconhecido pelos padres. O que pensa dessa discussão?
Já tinha esta convicção quando estava no seminário e à medida que fui avançando na minha vida. Fazem falta mais mulheres na Igreja. O ambiente, a cultura, se calhar até casos como estes, em muitas situações eram evitados com mais mulheres dentro da Igreja. Esta é a minha opinião pessoal, sou um seminarista mas não sou especialista em direito canônico. A mim não me chocaria que os padres pudessem casar. Acho que era bom para a Igreja e para o ambiente nas comunidades eclesiásticas. Normalizava a relação do padre com a comunidade e a vida do próprio padre. Agora, não sei se eles querem, se a maioria da comunidade eclesial quer, mas isso não me chocava. Há questões aqui teológicas, nas quais eu não sou especialista. Mas a verdade é que muitos dos que andavam com Jesus, nomeadamente os apóstolos, eram casados. São Paulo era casado. São Pedro era casado. Só no século IV é que a Igreja impõe o celibato. Este é um aspeto que devemos ter em conta. Quanto à ordenação de mulheres, é verdade que não havia, mas na altura também seria difícil haver mulheres apóstolas, mas a verdade é que Jesus sempre andou rodeado por mulheres também. Aliás, na história bíblica, a primeira a ver Jesus é uma mulher, quem está junto à cruz de Jesus é uma mulher. Isto mostra a centralidade das mulheres na vida do cristianismo. Acho que devíamos aprender algumas coisas. Com isto não estou a dizer que todas essas mudanças devem ser implementadas na Igreja. Há coisas em que não me revejo tanto. Sobre os direitos dos homossexuais, o Papa foi muito claro nessa matéria disse que a Igreja é totalmente contra a criminalização do comportamento homossexual e isso é o que eu espero de uma sociedade avançada. Não faz sentido criminalizar pessoas pelas suas orientações sexuais. Outra coisa é se deve ser aceite como aceitável o comportamento homossexual dentro da Igreja. Aí há razões de natureza teológica mais fundas.
Não reprova que os homossexuais possam ter os mesmos direitos que os heterossexuais?
Pelo contrário, não tenho nada contra homossexuais. Não devemos perder tempo com o que não se deve perder tempo. Honestamente, a diferença de um homossexual para comigo é que um homossexual tem uma orientação sexual diversa da minha. De resto, se for um cidadão que cumpre as regras, que paga impostos, que trabalha, não sei porque temos de perder tempo com isso. Porque é que não há de ter os mesmos direitos? Essa é a tal diferença que os partidos mesmo à direita têm que perceber. Devemos perder tempo com o essencial e não com o absoluto non sense que já ninguém compreende.
Mas sabe que certas pessoas que de certa forma até idolatra da extrema-direita europeia têm um certo fascínio contra os homossexuais.
Acho um erro. É perder tempo com o que não devemos perder tempo.
Descobriu Deus aos 14 anos. Mas aos 40 ainda não encontrou o Papa Francisco.
Provavelmente vou encontrá-lo agora em Lisboa. Conheci Deus já bastante tarde na minha vida, não era batizado. Fui batizado por vontade própria, fui para o seminário por vontade própria, hoje acredito que Deus teve um papel importante nesse caminho. Mas não deixo de criticar o Papa Francisco em muita coisa que acho criticável. Por exemplo, sobre a imigração europeia. Não concebo muito bem que um Papa aceite receber o Fidel Castro e não receba o Salvini. O Papa para estar acima das questões políticas tem mesmo que se colocar acima das questões políticas. Ao receber um ditador comunista e não receber o líder da direita italiana, está a meter-se no jogo político e não deve. A Igreja hoje quer muitas vezes ser vista como humanista e progressista. Essa ânsia leva a cometer erros. Não se é muito humanista e progressista, por dizer que vamos ter a porta aberta na Europa a toda a gente. Isso não é ser humanista, isso é ser tonto, porque uma casa que não tenha paredes passa a ser um recinto de espetáculos. A Europa não é um recinto de espetáculos, não é uma casa de abrigo, nem é um bunker. A Europa é uma civilização, é um continente. Deve receber migrantes. Mas deve recebê-los de forma integrada, controlada. Devemos saber quem entra. Não podemos continuar a deixar pessoas chegarem à costa grega e depois espalharem-se pela Europa de qualquer maneira, sem saber quem elas são, de onde vieram. Há pessoas que chegam da Síria e do Iraque sem documentos e que dois meses depois desaparecem. Um dia vamos ter um problema muito sério. Já tivemos em França, na Alemanha. Aí vão olhar para trás e dizer assim: a direita é que tinha razão, tínhamos de controlar quem chega.
Mas sabe que precisamos de imigrantes como precisamos de pão para a boca.
Claro. O turismo, a restauração, a construção civil, os transportes, a agricultura precisam de imigrantes. Há muitos empresários agrícolas que me dizem que não vão à procura de imigrantes, mas que precisam deles. Mas uma coisa é precisar de imigrantes, outra coisa é dizer venham de qualquer maneira sem documentos e sem regras, porque isso gera dois fenómenos. Primeiro, o desleixo e o descontrolo das fronteiras. E segundo, é que muitos vêm para cá para obter a nacionalidade para depois irem para a Alemanha e para França e para outros países. Portugal não se pode tornar num quiosque de venda de nacionalidade. É aí que está o erro. Vemos agora cem a viver num apartamento na Mouraria. Nós avisamos para isto há mais de um ano. Estão a dizer-lhes para virem de qualquer maneira e as pessoas desesperadas vêm. Mas chegam aqui e estão cem a viver num apartamento. Há juntas de freguesia a passar atestados de residência em massa. Nós denunciamos isso. Dissemos quando foram os timorenses. Depois isto gera criminalidade, gera sobretudo desintegração. Então chamamos as pessoas para viverem na rua? Se convidar alguém para a minha casa, convido-o para ser bem tratado, não para viver na rua.
E a história do SEF?
É a mesma trapalhada. O PS meteu-se nisso por causa da extrema esquerda, porque na altura precisava deles. Agora não quer voltar atrás, mas também não quer voltar à frente e portanto estamos parados. O SEF não sabe o que vai acontecer. Os próprios funcionários estão desmotivados, estão parados e não fazem o seu trabalho. É trapalhada atrás de trapalhada. É um bom exemplo das trapalhadas socialistas.
Não se arrepende de ter defendido uma cerca sanitária para a comunidade cigana?
Não me arrependo, porque não foi isso que quis dizer. Quis dizer que há comportamentos que podem ser tratados de forma diferenciada e que o Estado não o estava a fazer. Continuo a dizer que o Estado tem que olhar de forma diferenciada para a comunidade cigana, porque eles próprios têm um comportamento diferenciado. Não acho que isso viole o princípio da igualdade e da não discriminação. Acho que é percebermos que há ali um problema localizado e que temos que o tratar como o problema localizado que é. Não é com violência, nem com segregação, mas é diferenciada.
Mas com uma cerca sanitária estava a defender a segregação.
Continuarei a defender sempre que temos de ter um olhar diferenciado para com a comunidade cigana, porque eles têm comportamentos diferenciados. E temos que lidar com esses problemas, porque se não o fizermos uma dia o confronto vai ser muito maior entre a comunidade cigana e a comunidade minoritária.
Como é que acha que se integra a comunidade cigana na sociedade?
Muita da responsabilidade desta desintegração foi do Estado. Deu-lhes a entender que podiam viver em casas oferecidas pelo Estado, com subsídios pagos pelo Estado e não tinham que se preocupar com nada. Quando fazem isto criam um comportamento de gueto. Nós chegamos a ter relatos de ciganos que querem trabalhar e que são gozados pela comunidade. O Estado é que foi responsável por isto, porque era cómodo, era confortável. Hoje já há vários presidentes de câmara que em off me dizem: André, tu é que tinhas razão. Agora temos aqui um problema e não o conseguimos resolver, porque não pagam rendas de casa, porque não conseguimos resolver o problema dos bairros, não conseguimos resolver o problema da integração. Se tivéssemos resolvido esta questão há anos, hoje não estaríamos a lidar com ela desta forma.
A propósito de não dizerem em público aquilo que lhe dizem em off. Há uns meses, na Assembleia da República fiquei com a sensação de que os deputados do Chega eram tratados como uma espécie de pessoas que têm lepra.
Sim, eles fogem de nós como o diabo da cruz. Há grupos parlamentares que não falam connosco praticamente. O Bloco de Esquerda não fala mesmo connosco. Mesmo que eu dê bom dia à Catarina Martins, ela não me responde. À Mariana Mortágua a mesma coisa. Entre outros. Isto é mau para a cultura democrática e acentua a conflitualidade, mas é mesmo assim. Depois, tens vários do PS e do PCP que individualmente também têm esse comportamento. Até no PSD há muitos desses casos. Não é fácil de lidar com este sistema, sobretudo quando o nível de conflitualidade política está elevado. Às vezes com muita facilidade entra-se no plano pessoal. Tenho feito um esforço com os deputados para evitar isso. Obviamente, só sou deputado há quatro anos, mas era capaz de arriscar que, tirando o momento pós revolucionário, a Assembleia vive os momentos mais tensos da sua história nos corredores. A Assembleia viu o seu momento mais tenso da sua história entre o Chega e o Presidente da Assembleia e entre o Chega e os restantes parlamentares.
O que se diz é que o Chega também alimenta isso. Aliás, há quem diga que vocês estão a ajudar Augusto Santos Silva a chegar a Presidente da República.
Se eu estiver a ajudar Augusto Santos Silva a chegar a Presidente da República, então internem-me, porque estou muito mal da minha cabeça. Se há coisa que eu não vou fazer, é ajudar Santos Silva a chegar a Presidente da República. Era capaz de entrar na corrida só para evitar isso. Santos Silva como Presidente da República era o pior que nos podia acontecer. Ele representa a esquerda mais caceteira, mais falsa moralista, falsa intelectual. Augusto Santos Silva personifica isto tudo, com aquele ar impávido, muito sereno, mas que é o mais parcial, o mais caceteiro e o mais troglodita intelectual que temos.
Mas o Presidente da República tem assim tanto poder?
Bom, sempre que eu ligo a televisão, todos os dias vejo Marcelo Rebelo de Sousa a falar sobre qualquer coisa. A última coisa que eu queria era ligar a televisão todos os dias e ver Santos Silva a falar sobre qualquer coisa. Não vai ser bom para ninguém. Aliás, se Santos Silva for Presidente da República o nível de conflitualidade vai exponenciar-se.
Mas vê com algum agrado ver o PS constantemente a atacar o Chega para menorizar o PSD.
Isso é outra coisa a que eu acho graça. O PSD agora tem essa teoria, que isto foi uma espécie de complô para desvalorizar o PSD. Se o PSD fizesse o seu trabalho na Assembleia da República não era o Chega que o PS atacava. Mas, infelizmente, tem que ser o Chega a fazer o trabalho do PSD. Há um caso de corrupção, quem é que chama o ministro ao Parlamento? É André Ventura. Luís Montenegro fica a pensar três semanas se chama ou se não chama, manda uma questão escrita para o Governo. Depois, vai para a Guarda na semana seguinte, aparece de boina na montanha a dizer ‘temos que pensar melhor’. O Chega chama logo e claro que o PS ataca o Chega. O caso com o ministro João Cravinho e a derrapagem nas obras do Hospital Militar. O PSD ficou à espera quatro semanas para o chamar à comissão, André Ventura chamou três dias depois ao Parlamento num debate de urgência. Quem é que o PS ataca? É André Ventura. Isso é porque estamos a ajudar-nos um ao outro? Não. É porque o Chega está a fazer a oposição que o PSD não é capaz de fazer. Isso parece-me evidente. No caso do Banif, o governador dá aquela entrevista, lança o livro e diz que houve interferência política. Tenho razões para desconfiar dos dois, de António Costa e de Carlos Costa, porque os dois podem ter motivações políticas. Mas é grave o que ele disse, porque há um primeiro-ministro que interferiu no caso, que deu a Bruxelas informações confidenciais e ainda tentou proteger alguém que hoje sabemos que é uma criminosa ou, pelo menos, uma pessoa procurada pela Interpol, que é Isabel dos Santos. Naquela noite ou na noite seguinte, eu digo que isto tem que ter uma comissão de inquérito parlamentar e tem que ser investigado até às últimas consequências. O PSD diz que temos que ponderar. O mundo hoje não está feito para se esperar vinte horas ou quarenta até se decidir qualquer coisa. O mundo hoje é ao minuto. Nesta geração, tudo é feito ao minuto. E como é que isto acabou? O PSD decidiu enviar doze questões escritas ao primeiro-ministro. Ficamos à espera dois meses e não vieram respostas nenhumas. Então eu falei com o PSD e disse: agora é o momento de termos a comissão de inquérito e o PSD decide dar ao PS uma segunda oportunidade. Isto é fazer oposição? O resultado disto tudo: o PSD ainda não decidiu o que vai fazer e o Chega teve que avançar sozinho com uma comissão eventual sobre a interferência do primeiro-ministro na banca. Portanto, é o Chega que está a ajudar o PS? Não, o PSD é que não anda a fazer o seu trabalho, porque se o fizesse não tínhamos que andar nisto. Ao momento que estamos hoje, as pessoas querem respostas. Hoje mesmo, ao dia em que estamos a gravar, o Chega vai propor na Assembleia da República que no dia 8 de março seja feita uma fixação da ordem do dia sobre abusos sexuais, na Igreja e no país, para debater o que pode ser feito para melhorar a lei que temos. Foi o PSD? Não. Foi a Iniciativa Liberal? Não. Foi o PS? Não. Foi o Chega mais uma vez que tem de usar direitos potestativos para fazer valer o que está a interessar às pessoas neste momento. Eles estavam habituados a que o Parlamento discutisse coisas que não interessavam a ninguém. Está tudo a discutir caça, o Parlamento está a discutir pesca lúdica. Está tudo a discutir a corrupção, o Parlamento discute o futebol. Não pode ser assim. O Parlamento é a casa das pessoas, é a casa da democracia. É nisto que o PSD não nos conseguiu acompanhar. Por isso é que estamos com quase 15% nas sondagens.
Para fecharmos este capítulo, o que acha dos escândalos que envolvem as nomeações e as demissões no Governo?
Já dissemos que este Governo tem um prazo de validade curto. A história a curto prazo vai dar-nos razão de que vai tornar-se insustentável para o Presidente da República manter este Governo muito mais tempo em funções, por muito que ele queira, e compreendo a posição do Presidente da República. Estive com ele em Belém e disse-lhe isso mesmo. Também não escondo quando a responsabilidade é nossa. Disse que a responsabilidade agora é nossa, para termos uma alternativa que ainda não temos. Estes casos, escândalo após escândalo, mostram duas coisas: que o Governo perdeu a vergonha completamente e que já sentem um nível de impunidade que não se preocupam com o escrutínio. Não estavam habituados ao escrutínio e não sei o que mudou. Mas mudou alguma coisa. Muitos perderam o medo de fazer o escrutínio que não faziam. Vocês, honra vos seja feita, nunca tiveram esse medo, mas outros tiveram. Mas hoje vemos jornais a colocarem na capa e em notícias coisas que há três anos era impensável. Alguma coisa mudou e este Governo não vai sobreviver os quatro anos.