Por Raquel Abecasis
Ainda sem data marcada para ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, Pedro Nuno Santos mantém-se silencioso e desaparecido, mas não rendido. O ex-ministro das Infraestruturas está a preparar cuidadosamente a sua audição e, ao que sabemos, prepara uma intervenção em que não ficará na arena sozinho a arcar com as responsabilidades de todo o processo.
Ainda há esperança para Pedro Nuno Santos? É a pergunta a que ninguém quer responder de viva-voz, sobretudo porque ninguém sabe ao certo que estratégia está na cabeça daquele que ainda é considerado o homem mais bem posicionado para ascender ao lugar de secretário geral dos socialistas.
O reaparecimento do ex-ministro das Infraestruturas é aguardado por muitos dos seus apoiantes com expectativa e esperança de ver nesse momento o renascimento do seu candidato à liderança. Para já ninguém quer dar voz a essa esperança, até porque não querem condicionar os passos que Pedro Nuno Santos entenda dar. «Só ele sabe como e quando deve agir», comenta um deputado socialista ao Nascer do SOL. Mas uma coisa é certa, a maioria dos socialistas ouvidos pelo nosso jornal considera que o futuro do ex-ministro se mantém exclusivamente nas suas mãos. Para os que o apoiam a credibilidade do representante da ala esquerda do PS mantém-se intacta.
Ao mesmo tempo, nos bastidores do aparelho socialista há quem tema que a inquirição de Pedro Nuno Santos traga divisões ao partido e possa arrastar para a polémica outros membros do Governo, senão mesmo o primeiro-ministro. Um dos maiores receios é que o enfant terrible do partido queira agora limpar a sua imagem, não só do que se tem vindo a saber sobre o dossier TAP, mas também da humilhação porque teve de passar quando António Costa o obrigou a uma retratação pública por ter publicado um despacho a definir uma solução para o novo aeroporto de Lisboa. A preocupação já levou mesmo alguns importantes dirigentes do PS, como foi o caso de Carlos César, virem a terreiro valorizar os méritos do ex-governante. A ideia é afastar a leitura de que Pedro Nuno Santos foi retirado das fotografias socialistas, como referiu Francisco Assis.
Mas nas hostes socialistas há também muitos que torcem por uma boa prestação do ministro que teve a responsabilidade do dossier TAP. Os tradicionais apoiantes de Pedro Nuno Santos chamam a atenção para a recente entrevista de Francisco Assis ao jornal Público, onde o Presidente do Conselho Económico e Social (CES), conotado com a ala direita do PS sai em defesa do ex-ministro: «Há uma comissão parlamentar de inquérito a decorrer e Pedro Nuno Santos irá depor nessa comissão parlamentar. Isso é um dossier muito difícil, muito polémico, em que foram cometidos erros. Ele também cometeu erros. Mas o Pedro Nuno Santos não pode ser reduzido estritamente à forma como tratou esse dossier».
Para os que apostam numa reabilitação política do putativo sucessor de António Costa, foi muito importante a defesa do Presidente do CES, sublinhando que a sua é uma das vozes mais autorizadas e independentes do PS. Na mesma entrevista em que não se exclui de uma corrida à liderança, Assis valoriza de forma muito enfática o percurso e autonomia de pensamento de Pedro Nuno Santos a aposta que «vai ser uma figura do futuro do PS», garantindo que o socialista «tem uma grande força interior, é um homem que tem ideias políticas».
O próprio Pedro Nuno Santos, que nos bastidores tem mantido contacto com muitos dos seus apoiantes leu esta entrevista com agrado, mas prefere manter o suspense sobre o que irá fazer no futuro. Quem o conhece acredita que as notícias sobre a sua morte política são manifestamente exageradas e aguardam pacientemente o dia em que o antigo ministro de António Costa vai voltar a entrar no Parlamento para contar a sua versão da história sobre o dossier TAP.
Outro fator que não tem passado despercebido aos mais próximos de Pedro Nuno é a forma como o seu adversário histórico, Fernando Medina, tem ganho protagonismo dentro do Governo. As boas notícias têm surgido pela boca do ministro das finanças e António Costa tem deixado Medina brilhar e assumir o papel de número dois do Governo parecendo estar a ajudar o seu delfim para uma futura batalha pela sucessão. É também essa a razão por que a entrevista de Francisco Assis foi tão apreciada na ala mais à esquerda do PS. O facto de não ter descartado uma possível candidatura no futuro, ofusca Medina e valoriza uma reentrada na corrida de Pedro Nuno Santos.
Sem dados para adivinhar o que aí vem, a central de comunicação do PS prepara-se para imprevistos e procura ganhar tempo enquanto a audição a Pedro Nuno Santos não é marcada. O objetivo é que ela ocorra num melhor momento político para o Governo, de forma a ser mais fácil desvalorizar as possíveis ondas de choque que as revelações do ex-ministro possam causar.