Os ânimos deverão aquecer este domingo no conselho nacional da Iniciativa Liberal, em Coimbra. Os órgãos do partido deverão estar debaixo de fogo com os militantes a pedirem esclarecimentos sobre as promessas eleitorais feitas para os primeiros 100 dias. O Nascer do SOL sabe que os temas mais quentes dizem respeito às contas que foram agora disponibilizadas (no dia 9), que até à data não conta com o parecer do conselho fiscal, assim como o ponto de situação da revisão estatutária.
Tal como o nosso jornal avançou, Rui Rocha assim que assumiu as rédeas do partido esteve sob pressão para mudar os estatutos que foram feitos com o objetivo de serem simples, que fossem aprovados pelo Tribunal Constitucional sem problemas e que defendessem o partido – que, na altura, tinha poucas pessoas – de qualquer tipo de invasão externa. Aliás, a questão das inerências surgiu para que não houvesse o risco de alguém dominar o Conselho Nacional e desvirtuar a estratégia do partido.
Recorde-se que o Conselho Nacional – órgão responsável por acompanhar e orientar a estratégia política do partido – é formado por 50 conselheiros, mas depois tem um conjunto de representantes de outros órgãos também presentes nas reuniões por inerência. Um desses casos é a Comissão Executiva, que também tem direito de voto, e a ideia é eliminar essa possibilidade. Também o presidente do conselho de jurisdição e o de fiscalização estão presentes por inerência mas apenas como observadores.
Ao que o Nascer do SOL apurou, outros temas quentes mas que estarão ausentes no conselho nacional é o facto de os conselheiros nacionais não saberem de qualquer tipo de conversações com o PSD. Depois de ter sido partilhada uma fotografia de um almoço entre Luís Montenegro e Rui Rocha, numa tentativa de estabelecer uma solução alternativa para o país. Já esta quinta-feira, Duarte Pacheco referiu que estava a ser preparada uma alternativa de governação alargada com a IL. De acordo com o deputado, num podcast ao jornal Observador, sublinhou que o país está desgovernado e adiantou que o PSD tem muitos princípios em comum com a Iniciativa Liberal. Uma notícia que não caiu bem aos conselheiros por estarem ausentes desta discussão.
Outra dor de cabeça e que também não deverá ser discutida diz respeito ao gabinete de estudos do partido que além de ter mudado de nome para ILab, criando um conselho consultivo que, até aqui não existia, e ao que o Nascer do SOL apurou irá contar com nomes como Inês Teotónio Pereira, ex-deputada centrista.
Saída de Carla Castro
Esta convenção vai decorrer ainda pouco mais de uma semana depois da saída de Carla Castro como vice-presidente da bancada parlamentar. O anúncio foi feita na semana passada pela ex-derrotada à liderança do partido nas redes sociais e explicou que aceitou a continuidade do mandato após a convenção, «até pela unidade que defendia e defendo».
Mas afirma que entende que «os cargos devem ter efetivo exercício dos mesmos – neste caso participação na estratégia, comunicação e gestão – e não sendo o que está a acontecer, e não estando na política por cargos», apresentou a sua demissão.
E deixa um recado: «É muito importante a união e é nisso que temos de nos centrar: há promessas eleitorais para ajudar a cumprir, um partido para crescer e uma enorme necessidade de ajudar a tornar Portugal Mais Liberal: contam comigo e não obsta a nada no orgulho e honra em trabalhar, todo os dias, colaborativamente, em prol dos compromissos para um Portugal Mais Liberal».
Uma decisão que não agradou ao líder parlamentar do partido. Rodrigo Saraiva explicou que Carla Castro comunicou «a sua intenção de se demitir» no dia anterior, mas que tinha sido alertada de que o «tema deveria ser colocado na reunião de deputados» daquele dia e que, nessa mesma reunião, a deputada foi «convidada a ponderar essa decisão». E recordava que «estava prevista para setembro a reorganização de todas as funções do grupo parlamentar e das funções que os deputados exercem em representação do mesmo».
E os recados não ficaram por aqui. «Foi-lhe igualmente explicado o potencial impacto externo, nomeadamente num momento em que o partido e o grupo parlamentar tinham estado sob forte pressão pública nas horas precedentes», referindo que estava ainda prevista uma declaração ao país do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre «a crise política institucional» e que não se sabia se o Portugal «estaria em vias de entrar num novo período eleitoral» e que, mesmo assim, manteve a sua posição, apesar de ter sido informada das «consequências e da leitura política» que a sua demissão poderia causar.
Já no domingo foi a vez de Paulo Carmona – que foi candidato da Iniciativa Liberal, pela Guarda, nas legislativas de 2019 e candidato da IL, por Sintra, nas autárquicas de 2021– bater com a porta e anunciar a sua saída do partido.
«Hoje é um dia triste. Solicitei a minha desfiliação do partido Iniciativa Liberal. Foi uma caminhada de 2 dois anos que termina hoje. Obrigado a todos», disse na mensagem divulgada nas redes sociais.
Paulo Carmona assegurou, no entanto, que irá continuar «a defender um país mais liberal com preocupações sociais, agora como independente, mas sempre comprometido com a causa».
Carla Castro reagiu a esta saída dizendo que lamenta, mas que compreende. «Um partido que não retém uma pessoa com o valor e entrega do Paulo Carmona deve fazer uma profunda reflexão. Os partidos devem fazer o caminho inverso: conseguir que pessoas como o Paulo estejam ativamente na política. O papel da implantação do liberalismo é um caminho em construção e, seja via sociedade civil, seja, quem sabe, num futuro regresso, conto continuar a batalhar por um Portugal Mais Liberal com o Paulo. Liberal, independente, livre, com valor: assim o era antes e continua a ser. Perde, e muito, o partido».