Diz que se não tiver maioria absoluta que se vai embora. Mas também já li que se conseguir fazer um acordo, não com o Chega, que pondera ficar. Isto ainda não ficou muito claro…
Com o Chega não faço devido a ser um partido de matriz centralista, mas também não vejo que possa fazer muitos acordos, não tenho muitas forças à direita. Penso que a IL não vai ter uma votação muito forte na Madeira, portanto, se não tiver maioria, tenho muito poucas condições de formar Governo.
Em relação ao Chega, já mudou um pouco de opinião. Em 2022 dizia que…
Nunca mudei de opinião. O que sempre disse é que essas linhas vermelhas têm sido uma armadilha traçada pelo PS para condicionar a direita, porque quando se criou o Governo de geringonça, o PS não teve problemas em se aliar a partidos anti União Europeia que acham que a democracia pluralista é algo burguês. O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista são partidos radicais. Por conseguinte, essas linhas vermelhas não podem ser estabelecidas uma vez que o Chega, tal como o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista são autorizados pelo Tribunal Constitucional e representam eleitores. A estigmatização do Chega é que não é aceitável. Agora, daí a haver acordos, é uma coisa diferente.
As sondagens que tem dão-lhe a maioria absoluta?
Dão.
E daí ter já cortado com o Chega…
Os eleitores têm de saber que a votação tem consequências. Sou muito claro. Se querem continuar com um Governo da região com prosperidade, com crescimento económico, com desemprego residual, têm de votar nesta maioria.
Não admite, em cenário nenhum, se precisar dos hipotéticos deputados da Iniciativa Liberal, continuar à frente do Governo?
Acho que não vão ter grande votação na Madeira.
Mas vamos imaginar que precisa de um deputado deles…
Com a Iniciativa Liberal é mais fácil entendermo-nos.
À semelhança do Continente, a Madeira está com um grave problema de habitação…
Temos um problema de habitação que está a ser resolvido, uma vez que já estamos, ao contrário do Continente — que tem a solução no Power Point –, já estamos a construir 600 casas ao abrigo do PRR. Já estão em construção, não estão em Power Point, não estão em papel, não estão em projeto, não estão em conversa fiada e que nunca mais acontece. Para o ano temos 600 prontas, 800 em 2025 e avançámos também já com as cooperativas de habitação, através de um sistema que acho que é ótimo que é o sistema de renda resolúvel, ou seja, já abrimos as inscrições e é, sobretudo, para jovens casais licenciados. A renda é fixada em função do rendimento. Se estiverem a trabalhar é fixada uma renda que não excede nunca 30% do rendimento e, ao fim de seis anos, podem adquirir as habitações. As habitações são todas construídas em lugares privilegiados de todos os concelhos. Temos, por exemplo, aqui no Funchal, nove prédios em construção, mas estamos a construir em todos os concelhos da região. Lugares privilegiados e com apartamentos muito bons.
Mas à semelhança do Continente, a Madeira debate-se com o mesmo problema. Ontem cheguei e tivemos alguma dificuldade em arranjar hotel…
Esse é um bom problema.
Mas também há muitos turistas que já estão a comprar casa…
Sim, estão a comprar e ainda bem. O imobiliário é algo que é fundamental para trazer capital e residentes estrangeiros de alto rendimento para o país, assim como o Alojamento Local é ótimo para dinamizar a economia, trazer um complemento de rendimento para as famílias. Não vamos eliminar nem o turismo, nem os residentes de alto rendimento, nem o AL para resolver um problema de habitação. O problema de habitação tem de ser resolvido através do Estado, através de políticas inteligentes. E qual é a política inteligente? É, por um lado, reduzir a carga fiscal sobre os arrendamentos. O que se está a fazer agora, estabelecer um limite na atualização, vai retirar milhares de casas do mercado, ninguém está para sofrer nem para aturar as utopias socialistas que acham que uma pessoa deve atualizar a renda num valor inferior à inflação para estar a perder dinheiro. Isso é completamente utópico. Da mesma forma que essa ideia de penalizar com 15% o AL, sendo que os proprietários e as famílias que têm AL já pagam 23%, por que vão dar mais 15% em cima? É o chamado o saco fiscal. Portugal, neste momento, à boa maneira socialista, atingiu um valor que, acho, as pessoas nem se aperceberam bem do que é o saco em Portugal.
Saco fiscal?
Sim, o saco fiscal. 87,7 mil milhões de euros foram apurados no ano passado. Isto é uma coisa ridícula, 36,4% do Produto Interno Bruto. E para quê? Para meter mais dois mil milhões na CP, que teve, nos primeiros sete meses do ano passado, 111 greves, para meter 3,2 mil milhões na TAP que não serve para nada. É nisto onde se gasta o dinheiro. Em vez de devolver o dinheiro às famílias e à sociedade. Esta ideia de resolver o problema da habitação rebentando com o mercado de arrendamento, rebentando com o mercado imobiliário… O mercado imobiliário de alto rendimento é fundamental para o desenvolvimento das cidades, para a dinamização da economia das cidades e o AL tem sido importantíssimo com o complemento de rendimento às famílias e também para a dinamização das economias locais. Desde os arquitetos, engenheiros, construção civil, minimercados, tudo ganha. Decoração, produtos para casa, tudo isto movimenta a economia.
Mesmo que os preços estejam altamente inflacionados?
Os preços estão inflacionados porque o Estado sempre teve a tendência, desde o tempo do senhor António Oliveira Salazar, de intervir no mercado. Se deixassem que o mercado funcionasse as coisas estavam muito melhores. E o Estado teve outro problema por não ter avançado com a habitação quando devia ter avançado. E agora, pelos vistos, o que é ridículo, depois de desde 1987 ter recebido 167 mil milhões de euros da União Europeia, o primeiro-ministro ainda vai para a União Europeia pedir dinheiro para fazer habitação. Isto é ridículo. O Estado tem é que se disponibilizar neste momento a promover a habitação corporativa, como fez, aliás, nos anos 90 e correu bem. Temos uma taxa de cobertura aqui na Madeira de 4,2%. A média nacional é de 2% de habitação pública, nos Açores é 2,2% e vamos atingir os 5%. Agora esse sistema do arrendamento através de renda resolúvel acho que é um ótimo sistema. Ao fim de seis anos, se as pessoas quiserem comprar a casa, passam a deduzir a prestação a partir da renda.
A Madeira tem vindo a atrair muitos turistas jovens. Há meia dúzia de anos não havia…
Mudámos porque fizemos uma política em que, sobretudo, concentrámos por um lado a promoção na Associação de Promoção, e abrimos as operações no aeroporto. Neste momento temos 43 companhias a operar na Madeira com cerca de 92 rotas diretas. Isso significa que em 2022 tivemos 9 milhões e 600 mil dormidas, este ano vamos ultrapassar as 10 milhões de dormidas. Os proveitos do turismo de alojamento subiram quase 70% entre 2015 e 2022. O preço subiu, a diversificação do mercado é importante e temos turismo jovem e isso vê-se até pela criação de 330 empresas de animação turística. Hoje o turismo é muito mais ativo, é um turismo de natureza, que não fica circunscrito à vida dos hotéis.
Os transportes e o aeroporto são problemas reais. Está a equacionar aquilo que se fala há muitos anos de conseguir fazer a travessia por barco de Porto Santo até ao Caniçal quando os aviões não conseguem aterrar na Madeira?
Acho que a solução é fazermos agora – e isso aliás já foi combinado com o ministro – de criarmos um grupo de trabalho técnico no sentido de melhorar a operacionalidade do aeroporto. Os limites do aeroporto foram fixados por uma pista, na altura, em 61, com um avião de 1945 e a pista tinha metade do tamanho e estava posicionada noutra posição. Há, neste momento, que fazer um estudo técnico no sentido de se fazer a revisão do limite de aterragem de dentro. Até porque os aparelhos evoluíram exponencialmente. Hoje em dia um avião não tem nada a ver com aquilo que era um avião em 45. A própria pista tem o dobro do tamanho. Os aparelhos de aproximação são diferentes, há que fazer um trabalho sério, com a colaboração das próprias companhias, as construtoras dos aviões, no sentido de garantir uma atualização desses limites. Basta uma pequena alteração para que 80% das aterragens que neste momento não são feitas na Madeira, possam ser efetuadas.
Essa questão do barco…
O barco do Porto Santo pode ser viável, mas, neste momento, não temos sequer condições. Falta fazer agora a nova gare no aeroporto do Porto Santo para acolher as pessoas. É uma solução, mas não é uma solução imediata. Nem uma solução muito prática. A hotelaria no Porto Santo, felizmente também está cheia.
Outra coisa que me falam é que há um tipo de turismo, chamado selvagem, que muitas pessoas vêm acampar livremente, não deixam dinheiro…
Isso são casos pontuais que acontecem. Temos quatro milhões e tal de pessoas por ano aqui, mais 550 mil de cruzeiros, é normal que haja um ou outro turista que faça isso. Agora a verdade é esta: se o preço subiu, a pessoa está no Porto Santo com quartos a quase 400 euros no mês de agosto, o RevPAV [receita por quarto disponível] está muito alto na Madeira. Se há mais dinheiro, se o turismo rende, sobem os proveitos diretos, entre 528 milhões e 530 milhões o ano passado. Se o preço é mais alto, a tendência é para diminuir esse tipo de turismo.
Em relação às apostas no Ensino Superior, atendendo a que os custos no Continente estão muito elevados para os estudantes arrendarem quartos, acha que a Universidade da Madeira vai ter mais madeirenses no futuro?
A Universidade da Madeira neste momento é uma excelente universidade e é nova. O que estamos a fazer é a reforçar as bolsas de estudo em 20% e vamos majorar para as residências universitárias sobretudo em Lisboa e no Porto. Apresentámos uma proposta há um mês e meio na Assembleia que foi chumbada pelo PS no sentido de garantir uma quota, uma reserva, para os estudantes deslocados. No fundo reservar uma quota nas residências universitárias para os estudantes da Madeira, era 3,5, e isso foi chumbado pelo PS.
Acha que a Universidade da Madeira poderá ser bastante importante para…
A Universidade da Madeira é uma plataforma essencial de desenvolvimento da Madeira e está associada a duas instituições muito importantes que é a Arditi, que neste momento tem cerca de 300 investigadores e a Startup Madeira. E porquê? Sobretudo na reconversão económica da ilha. O que estamos a fazer? Aqui fizemos um acordo com os professores, temos estabilidade nas escolas, e optámos por introduzir o sistema de ensino das escolas mais avançadas do mundo que são as de Singapura. Os alunos nas escolas primárias recebem kits de ciência e de robótica no primeiro ciclo e todas as escolas têm as chamadas salas do futuro. São salas selecionadas para a programação robótica, ligação da programação robótica aos sensores, impressão 3D e o desenvolvimento das matemáticas aplicadas. Isso significa que a nossa grande aposta é, neste momento, um ensino digitalizado. Aliás, nem tivemos nenhum problema na covid porque aqui os estudantes já têm os manuais digitais do 5.º ao 10.º ano. Isso significa que a nossa grande aposta, neste momento, é uma aposta na diversificação da nossa economia. E para onde? Sobretudo para as grandes empresas da área tecnológica, porque a área tecnológica exige apenas competência e know how dos próprios jovens. E a verdade é que temos tido um crescimento exponencial das empresas tecnológicas que se têm fixado aqui na Madeira e que têm sido criadas cá. Neste momento, para dar uma ideia, a faturação das tecnológicas – não tenho os números de 2022 – anda à volta dos 400 e tal e em 2021 já ascendia a 521 milhões de euros. Neste momento penso que vai ultrapassar as receitas do turismo. Não tenho os números de 2022, mas o crescimento foi de 26% de 2020 para 2021.
Vai ultrapassar as receitas do turismo?
As receitas diretas penso que sim, a nossa ideia é continuar a fazer esta aposta e vamos introduzir a Inteligência Artificial (IA) nas escolas e já temos centros de competências muito importantes. Temos uma grande empresa de inteligência artificial, que tem sócios da Madeira, que está ligada à Meta e neste momento já tem 86 jovens a trabalhar e vai ter 300. Esta economia digital pode ser feita a partir da ilha sem qualquer problema, estas empresas embarcam o mercado de três ou quatro mil milhões de pessoas sem o ónus de deslocação de pessoas e bens e sem o problema do distanciamento e da periferia geográfica. É fundamental para o país e devia ser a grande aposta do país. Temos também aqui na universidade alguns centros de competências muito importantes. O maior centro de estudos de plasmas da Europa está fixado na universidade, estamos neste momento na Ardite a desenvolver, por exemplo, a área dos drones, em que os drones estão todos a ser feitos aqui para as Forças Armadas. Estão a ser desenvolvidos aqui pelos nossos engenheiros, estamos a trabalhar em tudo o que é pesquisa oceânica e, portanto, temos grandes centros de competência e uma coisa importante será a circunstância de o próximo hospital da Madeira ser universitário, onde vamos ter uma área dedicada à investigação médica.
Mas a universidade ainda tem poucos estrangeiros?
Sim, mas a tendência é para aumentar. Mas temos muitos investigadores e neste momento estamos a criar no quadro das áreas de investigação, vamos atingir o quinto ano de Medicina e temos neste momento na área da Medicina um protocolo com o professor Sobrinho Simões para criar um núcleo de investigação sobre o cancro na Madeira, que será o segundo do país. O primeiro é o Champalimaud.
Em relação ao ensino ficou bastante chateado com a redução do número de vagas para os alunos das regiões autónomas no Continente…
Isso era uma coisa ridícula, era o que mais faltava, mas foi alterado.
Uma das acusações que a oposição lhe faz é que há um despovoamento da Madeira. As pessoas estão-se a concentrar nos centros e a apostar na emigração…
Não, é bom que os alunos saiam e que vão trabalhar para fora, acho que é fundamental. Um dos programas mais importantes da União Europeia é o programa Erasmus para abrir a cabeça, agora o que temos é um aumento de residentes de estrangeiros. Se formos contar em alguns concelhos da zona Oeste, cerca de 24% das crianças no ensino primário são estrangeiras. Isso não é mau. É a abertura da Madeira ao mundo, queremos ser uma terra cosmopolita e é evidente que esta é uma situação que à medida que as pessoas se vão fixando em alguns concelhos devido à situação climática, mas outros vão ter outra preferência, como os do norte da Madeira que neste momento começam a ser muito atrativos para a fixação de pessoas.
Não acha que está a haver um despovoamento de algumas regiões da Madeira?
É normal que algumas zonas mais rurais, mais remotas, estejam despovoadas, como acontece em todo o lado. Os jovens querem ir viver para a área urbana, mas antigamente estavam a duas horas de Santana e neste momento conseguem fazer essa viagem em 25 minutos, por isso é que existem as vias-rápidas.
Os fundos comunitários vão ser investidos no turismo, na economia circular, sustentabilidade, agricultura e economia do mar…
Já estamos a fazer três áreas fundamentais da aplicação dos fundos, e estou a falar do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], que é uma parte muito importante. A primeira foi na habitação e estamos a aplicar já 128,4 milhões de euros na construção de habitação. A segunda área que acho fundamental é a da captação e melhoria da distribuição de água, que anda à volta de 100 milhões de euros. A água é um bem essencial e neste momento estamos a fazer investimentos maciços na melhoria da captação com vista a evitar perdas e isso é uma mais-valia. E o terceiro é na área das energias alternativas, a Madeira está a avançar já, como ilha, no sentido de 50% da produção elétrica derivar da energia solar, hídrica e eólica. E isso são investimentos maciços que estamos a fazer em painéis, em centrais hídricas e em novos contadores, que vai abarcar cerca de 100 milhões de euros. São três áreas prioritárias: alterações climáticas, água e habitação, que vão ser abrangidas pelo PRR. Depois há um conjunto de áreas que serão afetas ao nosso desenvolvimento.
A agricultura na Madeira não é sustentável sem o apoio, quer comunitário, quer do Governo?
A agricultura na Madeira é uma atividade essencial para a manutenção do ecossistema e também para a paisagem. É hoje uma agricultura que tem tido uma evolução muito grande. Por exemplo, a banana produzida na Madeira, cerca de 22 a 23 mil toneladas por ano, grande parte é exportada e é a banana mais cara da União Europeia. E é uma banana que é altamente consumida, principalmente em Portugal continental. A cultura da banana é defendida pela França, Espanha e Portugal que são as três regiões europeias de produção de banana. Mas a banana hoje é um bom negócio e está a ser vendida ao produtor a 94 cêntimos, quase um euro o quilo, e isso é uma atividade lucrativa.
Mas não é sustentável sem o apoio comunitário e do Governo?
Sim, de certa maneira, mas, como se costuma dizer, temos que manter alguma agricultura na Madeira que é altamente rentável e que já é feita por jovens em estufas, por exemplo, com computador e tem inteligência artificial para o controlo de temperatura dentro da estufa.
E que produtos saem daí?
Todos os que são hortícolas. O preço dos produtos hortícolas subiu 17% no ano passado. Outro exemplo, a pesca deu 15,6 milhões no ano passado e só o peixe-espada, no ano passado, deu 7,6 milhões de euros. E o que acontece? Antigamente, grande parte deste peixe era vendido em bruto ou era exportado, porque 80% vai para o exterior e outra parte era consumida aqui. E o que se fazia? Era exportado congelado para Londres e para não sei onde, gora temos duas empresas de reconversão do pescado e essa empresas criam uma mais-valia fundamental, só uma delas deu 26 milhões de euros de volume de negócio, no ano passado. Ou seja, a transformação é fundamental. Vou dar outro exemplo, o rum, a aguardente da Madeira vendia antigamente 400 mil euros de rum e hoje em dia vende 5,4 milhões e porquê? Porque o rum da Madeira é altamente parabenizado e cada garrafa chega aos cem euros. Em relação ao vinho da Madeira produzimos à volta de quatro milhões, mas o volume de negócios atinge 22 milhões de euros. Ou seja, a ideia é termos produtos premium, de alta qualidade com valor acrescentado para os produtores. Não podemos produzir em escala, temos de produzir em qualidade.
Mas, por exemplo, o vinho da Madeira dará seguramente menos lucro do que o rum. Vai acabar com o vinho da Madeira?
Não, o vinho da Madeira deu 22 milhões de euros de lucro, no ano passado. É um setor exportador da Madeira e é altamente consumido. Estou a dar a evolução do rum, porque produzimos cerca de 10 mil toneladas de cana sacarina, que também é muito importante para a manutenção do nosso ecossistema e à medida que os produtos vão sendo valorizados no mercado e vão sendo vendidos quem ganha são os produtores e é uma maneira de fixar as pessoas na agricultura. Agora não temos aquela agricultura do passado, temos uma agricultura moderna, com pessoas formadas, que sabem produzir e que produzem também para as grandes superfícies.
Dizem-me que há uma grande tentativa do setor imobiliário de ficar com os terrenos agrícolas de pessoas que faturam pouco…
É verdade, está a falar dos terrenos mais próximos do mar. Evidentemente que o setor imobiliário pode, mas isso não implica que não hajas áreas…
Não vai desvirtuar o cenário?
Não, porque 86% do território da Madeira terrestre é de reserva ou tem um tipo de proteção. Aliás, 65% e a parte marítima tem 86%. O nosso território tem de manter a paisagem. Estamos a falar, por exemplo, da parte turística. Até 2027 não vamos ultrapassar as 40 mil camas. E 40 mil camas é residual no contexto, quando comparado com as Canárias ou com outros.
Não vai aumentar então as 40 mil camas até 2027?
Não.
Mas qual é a razão?
Neste momento, a grande parte da hotelaria está concentrada em melhorar a qualidade e subir os preços. Isso é que é a ideia: melhorar, fazer o upgrade, fazer reinvestimento, melhorar a qualidade, ter melhor serviço. Isso é que é o essencial e é subir o preço. Mas um preço de qualidade.
A ideia é que a Madeira seja um produto premium para o turismo e não tão envelhecido como até aqui?
O envelhecimento não é mau. Não tenho nada contra o envelhecimento. O que acontece é que antigamente uma pessoa de 60 anos…
Fico com a ideia, sua e não só, que, ultimamente, o que se fala mais neste país é de impostos. Porque é que de repente se acordou para a questão dos impostos? Também faz muito a batalha do IRC…
Já disse ao Luís Montenegro que temos de reduzir os impostos para as empresas e para os agentes económicos. São os agentes económicos que criam empresas. Portugal precisa de capital, de investimento estrangeiro. É essencial, neste momento, fazermos uma redução progressiva do IRC. E porquê? São os agentes económicos que criam riqueza em Portugal, não é o Estado. Governar não é gerir consensos, nem gerir esta mediocridade da dependência do Estado, em que eles têm os salários. O Estado está a cobrar esta enormidade de impostos, que é dinheiro dos cidadãos, para depois ter os piores serviços públicos que alguma vez aconteceram em Portugal. Ou seja, fez uma coisa na saúde, e agora mete 14,4 mil milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde, o SNS está a cair aos pedaços. E porquê? Porque a esquerda fez uma coisa sensacional, passou das 40 horas para as 35 horas. Ou seja, as horas de produtividade diminuíram e não aumentaram os salários. E está tudo assim. Está a criar uma dualidade, que é três milhões de portugueses terem seguro privado de saúde. Portanto, vai ter um Serviço Nacional de Saúde para os pobres. Em relação à educação o que está a acontecer? Teve dois anos de pandemia e as pessoas têm de olhar para a realidade. A realidade é dura, mas é esta a realidade que o país tem. Agora tiveram um ano em que houve 3,6 greves por dia. O que está a acontecer? Os filhos dos ricos em Portugal não estão nada preocupados que a educação seja catastrófica. Estou a criar uma fratura social que nunca vamos recuperar durante uma geração. E porquê? Porque os filhos dos ricos vão para o St Julian’s, para o Liceu Francês, e depois vão para as universidades estrangeiras.
E onde é que entra a redução do IRC?
Tem de se diminuir o IRC para trazer empresas para Portugal, tem de se criar know-how e atrair empresas de ponta. Portugal tem todas as condições para o fazer. Agora não o faz. Porque, em primeiro lugar, se vir bem, nem as empresas portuguesas estão em Portugal, ou seja, chegámos ao cúmulo em que as grandes empresas portuguesas cotadas estão na Holanda e porque é que estão na Holanda?
Porque pagam menos impostos…
Está explicado. Ou seja, quem leva com isso são as pequenas e médias empresas. Tem de se criar grandes empresas em Portugal, não há nenhuma grande empresa que venha para Portugal com uma taxa fiscal destas, com a imprevisibilidade. Tem de se fazer um programa sério de redução fiscal. Nós aqui fizemos aqui a redução de 30% do IRC, e a derrama nem sequer é aplicada no Funchal, e nos primeiros quatro escalões reduzimos em 30% no IRC. Tivemos esta redução e devolvemos 420 milhões nos últimos quatro anos às famílias e às pessoas. Esse dinheiro foi restituído e as pessoas têm a liberdade de aplicar, de investir esse dinheiro ou consumir. E houve uma coisa curiosa é que, em 2022, a cobrança de impostos aumentou 15,4%. E porquê? Porque as pessoas pagam com mais facilidade e têm mais facilidade em pagar.
Uma provocação: fala muito que é preciso libertarmo-nos da dependência do Estado…
Não é libertar da dependência do Estado, o que o digo é que precisamos de ter uma economia forte e a crescer e é preciso criar um ambiente propício ao empreendedorismo, à atratividade de empresas, ao desenvolvimento empresarial e à fixação de empresas estrangeiras.
Outra provocação: um madeirense para ir ao continente tem um subsídio do Estado, um madeirense para a agricultura tem subsídios do Estado. Como é que vê esta, chamemos-lhe assim, dualidade?
Estamos a falar de duas coisas completamente diferentes. A mobilidade dentro do território é um princípio constitucional. Está a falar de um madeirense…
Ou de um açoriano…
Se vier de Lisboa ou do Porto tem direito a circular dentro do território nacional a preços mais baratos do que ir a Espanha ou ir a Roma.
Vou a Madrid com preços mais baixos do que ao Funchal…
Dentro do território nacional é fundamental assegurar o princípio da coesão económica, social e da mobilidade territorial. Por isso é que existe um país, são princípios fundamentais, assim como um exercício de soberania que pode ser deficitário, era o exercício da ligação às ilhas por via marítima, através do Estado, que é uma forma de exercer a soberania como Espanha faz. Portugal, apesar do ‘Tribunal Colonial’ achar que não é, Portugal é um país descontinuado. É fundamental assegurar a circulação dentro do território. A questão da agricultura é através dos fundos comunitários, como existem, apoiamos a agricultura dentro dos princípios que estão consagrados no quadro dos apoios comunitários.
Por que ataca tanto o Tribunal Constitucional?
Porque as decisões do Tribunal Constitucional têm sido sempre contra as autonomias, desde o tempo da Comissão Constitucional, são sempre contra a Madeira e contra os Açores. E são decisões cada vez mais ridículas e mais patéticas.
Em relação às críticas que lhe fazem por ter acabado com o parque de campismo de Porto Santo?
Esse é um problema gravíssimo, ainda bem que acabei. Estava a cair aos pedaços, não ia ninguém para lá e fiz um parque maravilhoso para a população.
Quanto ao resultado das eleições. Penso que em 2019 dizia-se muito que o PSD ia perder.
Havia, na altura, uma grande bipolarização porque o então líder do PS ria muito e era uma pessoa simpática.
Estamos a falar de Paulo Cafôfo?
De políticos simpáticos que não sabem governar o mundo está cheio.
Mas, nessa altura, tremeu e pela primeira vez perderam a maioria absoluta…
Tivemos quase o mesmo número de votos das eleições 2015. Só que a bipolarização fez desaparecer os votos no Bloco de Esquerda, o Partido Comunista quase desapareceu. Ou seja, a bipolarização estava perfeitamente assumida e isso fez com que, na altura, os pequenos partidos da oposição concentrassem os votos no Partido Socialista. Mas continuamos com o mesmo número de votos praticamente de 2015 e ganhámos.
Mas baixaram muito o número de deputados….
Baixámos por causa da bipolarização, porque só temos um círculo único pelo método de Hondt.
Outra das críticas que a oposição lhe faz é que há uma taxa de pobreza de 25,9%…
Isso é na cabeça deles, porque neste momento o rendimento médio bruto é o segundo do país, a seguir a Lisboa. Lisboa tem um gap relativamente ao resto do país porque tem as grandes empresas. Temos o segundo rendimento e no ano passado, para ter uma ideia, as caixas multibanco na Madeira movimentaram 2,4 mil milhões de euros e 80% dos cartões de bancos nacionais. Está mais ou menos explicado.
A vinda de muitos lusos venezuelanos alterou um pouco…
Para melhor. Recebemos quase 11 mil pessoas e a muitos deles tivemos de dar tratamento médico porque estavam doentes, muitos deles ficaram cá e vieram criar uma nova dinâmica à economia. São empreendedores, são pessoas que trabalham muito, estavam habituadas a trabalhar, criaram as suas empresas e vieram de facto trazer uma grande dinâmica à nossa economia e hoje são pessoas que estão perfeitamente integradas.
Há uma coisa que me faz pensar. Todos os estudos dizem que dentro da emigração portuguesa, aqueles que têm uma taxa de sucesso maior lá fora, seja no Canadá, na Venezuela ou na África do Sul, são os madeirenses e os açorianos. Mas por sua vez, se olharmos para o território madeirense não vemos tanto essa iniciativa. Será que as pessoas quando vão ficam mais despertas?
Não. Acho que, neste momento, é preciso termos em linha de conta aquilo que era a Madeira em 1900. Em 1975, 50% da população não sabia ler, nem escrever. Ou seja, tivemos uma situação em que tivemos de melhorar em duas gerações toda uma ilha. Ou seja, não havia mobilidade social, não havia educação, não havia infraestruturas. Tudo isso foi feito em duas gerações. Acho que é extraordinário comparar, eu que já nasci numa Madeira atrasada, preconceituosa, não havia mobilidade social, só os ricos é que podiam estudar. Não havia escolas, não havia centros de saúde, não havia acessos. E foi extraordinária a mudança que ocorreu aqui em duas gerações. Isso mostra a garra e, sobretudo, a capacidade de realização dos ilhéus. Costumo dizer que nós aqui falamos pouco e concretizamos. Esse aspeto é muito bom. Somos muito mais práticos e resistentes.
Quais são os grandes problemas da atualidade da Madeira? O fenómeno das drogas sintéticas não o preocupa?
Preocupa.
Quais as razões para a Madeira e os Açores serem as zonas mais afetadas?
Nós aprovámos um diploma na Assembleia, onde são enumeradas essas drogas e esse diploma tinha e tem uma grande virtude, que é ser um diploma que está sempre em atualização. A questão das drogas sintéticas está na Madeira e nos Açores mas não tenha dúvidas que vai chegar ao território continental. E era fundamental nessa lei haver uma presunção de tráfico a partir de uma determinada quantidade, e isso foi desvirtuado por uma iniciativa do PS que vai alterar tudo, contra os especialistas, os médicos, as autoridades judiciais e policiais, e o que vai ter é uma grande dificuldade no combate ao tráfico por causa destas utopias que se introduziram na lei. Isso é um problema que o Presidente da República tomou boa nota, fez um veto político à lei, mas neste momento é preciso as pessoas terem bom senso, um indivíduo tem um saco cheio de drogas sintéticas em casa, um saco de 20 quilos, não é para consumir, é, com certeza, para fazer tráfico.
A lei não diz isso. Fala em quantidades que deem para consumir em dez dias, salvo erro…
Isto é tudo feito por gente que não tem experiência de vida, nunca entrou num tribunal, nunca trabalhou numa polícia… acha que algum polícia está motivado para aturar isso? Vai atuar para quê? Para perder tempo, pois os traficantes ainda vão gozar com a polícia.
Acha que algum dia se vai ganhar essa guerra contra a droga sem a legalizar a nível mundial, com grandes campanhas de prevenção ao mesmo tempo?
Isso é uma questão que dava para duas entrevistas, mas a verdade é esta: neste momento é muito mais difícil o combate ao tráfico com esta alteração louca que estes deputados do PS fizeram, e não sei para quê. Para dizer que são a favor da humanidade? Talvez.
Acha que o seu percurso pessoal, nomeadamente ter tocado piano em hotéis aos 16 anos para ter a sua mesada, esse seu prazer pela música, e por cultivar rosas, tem influência no seu papel de presidente do Governo Regional?
Tem a ver com a educação que tive, eu e o meu irmão sabemos fazer tudo. Fomos educados para isso. Sei cozinhar, sei coser. Fomos educados, não pela especialidade, o meu avô sempre disse: ‘A especialidade é sempre uma limitação’. Nós sempre fomos educados a aprender botânica, a cozinhar os alimentos, música, artes, tudo. E isso para mim faz parte da minha vida, hoje temos acesso a tudo, mas antigamente tinha de saber de pintura, de escultura, botânica, nós fomos educados para isso tudo e isso é ótimo.
Nunca mais foi premiado num concurso roseiral?
Não tenho tido tempo, para o ano vou tentar editar dois livros sobre roseiras. Fiz agora uma coisa gira com o jardim Botânico aqui na Madeira, estamos a melhorá-lo, fiz uma zona de roseiras especiais, e vamos fazer uma estufa tropical, e estou entusiasmado. O nosso Jardim Botânico é sensacional.
Penso que é muito mais fã de Passos Coelho do que de Luís Montenegro…
São personalidades completamente diferentes. Passos Coelho é um homem austero, vocacionado para a República, com grande capacidade de resiliência, um homem que nos momentos difíceis soube estar à frente e ser um patriota. Luís Montenegro é um líder que está há pouco tempo, tem de se afirmar como oposição, marcou bem a agenda política recentemente, e tem o caminho pela frente de consolidar a sua liderança, trazer para o PSD aqueles que são os agentes da mudança e de Portugal, os empresários, os jovens ligados às tecnologias, aqueles que querem mudar Portugal, que não querem que sejamos ultrapassados pela Roménia.
Faço-lhe a pergunta de outra forma. Gostava mais de ter Miguel Albuquerque como presidente do Governo Regional e Passos Coelho como primeiro-ministro ou ter Luís Montenegro como primeiro-ministro?
Ainda tive Passos Coelho como primeiro-ministro, no início do meu mandato, e resolvemos duas coisas essenciais para a Madeira. Primeira, foi o subsídio de mobilidade, algo fundamental, e a outra, também muito importante, sobretudo num país que não tem estratégica, e a estratégia do mar está metida numa gaveta, foi o grande salto que se deu no registo internacional de navios. Neste momento a Madeira tem o terceiro registo da Europa. Temos aqui os grandes armadores e os tripulantes aqui registados, e está em crescimento e em grande consolidação, ou seja: os grandes navios que neste momento atravessam o Canal do Panamá, os grandes porta-contentores, têm a bandeira portuguesa. Isso para nós é um orgulho enorme. Estamos a olhar para a nossa vocação atlântica, em termos geopolíticos, e concentrar esforços e recursos nessa vocação.
Acabou por não responder…
Ainda não tive nenhuma experiência com Montenegro, vamos ver se vou ter, assim o espero.
Numa entrevista recente disse que admite candidatar-se à Presidência em 2031.
Vamos ver. Não ponho nada de lado.
Alberto João Jardim também disse isso várias vezes…
Sabe que, às vezes, essas candidaturas também são estratégicas.
Chegou a dizer de Alberto João o que poucas pessoas teriam coragem de dizer dentro do partido…
Isso deve ter sido em guerras antigas, hoje está tudo esquecido. (Risos) Eu dou-me muito bem com ele.
Almoça com ele?
Sim, almoçamos com frequência, está ótimo, é um grande português que fez obra na Madeira. O serviço público que se fez na Madeira foi ao serviço de Portugal. É evidente que tivemos as nossas guerras, frente-a-frente, não sou pessoa para dar facadas nas costas a ninguém, e hoje respeitamo-nos imenso. Mas foi uma guerra boa, foi como deve ser.
Poucos apostavam em si nessa guerra?
Mas é bom, hoje em dia tem um conjunto de políticos que é tudo pelo consenso, não se pode dizer nada, nhanhanham, andam todos a pisar ovos, e a política está a ficar uma chatice, e uma das razões para isto estar assim é esta história da lei das incompatibilidades. Os partidos do centro, o PS e o PSD, foram atrás destas conversas do Partido Comunista de funcionalizar os deputados, aquelas baboseiras do costume. Então, se comparar os debates da Assembleia da República de hoje com os de 76, vá ao YouTube e veja as diferenças. A AR tinha um conjunto de pessoas que lhe davam sociedade, eram administradores de empresas, grandes advogados e engenheiros, pessoas que iam à AR e diziam o que tinham a dizer e iam para os seus escritórios, iam para a sua vida, sabiam o que era a vida… Hoje em dia tem lá deputados das 9 às 5 horas, recebem o salário e só estão ali presos, e a Assembleia empobreceu muito a sua capacidade dialética, e a sua própria pluralidade e alienação em relação à sociedade. As coisas estão um pouco chatas.
O que acha desta cultura do wokismo, do cancelamento?
Isso já existe há 25 anos, a gente recebe as coisas todas muito mais tarde. Há 25 ou 30 anos que isso já existe nos EUA. Começou nas universidades dos EUA e agora estendeu-se aos países latinos. Essa história do beijo e não beijo. Há dois ou três livros escritos sobre esta matéria, isto é tudo uma parvoíce e altamente problemático, sobretudo o que se passa nas universidades. As pessoas ficam condicionadas sobre a forma de escrever, aquilo que dizem, e é uma censura miserável feita por gente tarada. Não se pode criar segmentos na sociedade em função da sua identidade: se você é branco, homossexual, se é preto, isto é uma limitação. Está a limitar aquilo que a pessoa é à sua cor, à sua raça, à sua tendência sexual… Isto é uma regressão, e nesse sentido acho muito engraçado e costumo dizer por que é que não vão para a Arábia Saudita ou para os países muçulmanos aplicar o wokismo? Podem ir para os países muçulmanos dizer que as mulheres são escravizadas, vão lá. Isso é bom para fazer no conforto das sociedades pluralistas e democráticas.