Massa e Milei na 2.ª volta

A primeira volta das presidenciais na Argentina registou uma abstenção recorde nos últimos 40 anos.

Sérgio Massa, atual ministro da Economia e um dos responsáveis pela hiperinflação que assola os argentinos, conseguiu 36,7% dos votos, deixando para trás o principal candidato da oposição, Javier Milei, que estagnou nos 30%, numas eleições que registaram a taxa de abstenção mais elevada das últimas quatro décadas. A candidata do Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich, foi a terceira mais votada, com 23,8%.

Embora fora da corrida, o posicionamento de Bullrich, e dos que nela votaram, poderá ser determinante na segunda volta. E a candidata já anunciou o apoio a Javier Milei: “Temos diferenças (…) não as ocultamos. No entanto, encontramo-nos diante do dilema de mudança ou continuidade mafiosa para a Argentina. A maioria dos argentinos escolheu uma mudança, e nós representamos parte dessa mudança”. Foram também eleitos 130 dos 257 deputados e 24 dos 72 senadores.

A ‘remontada’ de Massa

O candidato do partido do Governo, o União pela Pátria, conseguiu um resultado surpreendente no passado dia 22, saltando do terceiro para o primeiro lugar e somando 8,9 pontos percentuais aos resultados obtidos nas eleições primárias. O peronista conseguiu reverter a queda principalmente em Buenos Aires e em Rosário, as regiões eleitorais mais relevantes. A aproximação a Axel Kicillof, o governador da capital argentina, e o apoio de Fernando Espinoza, presidente de La Matanza, e de Leo Nandini, das Malvinas Argentinas, representaram um contributo fundamental para a vitória de Massa. É certo que a abstenção acima da média e o aumento da subsidiodependência nos últimos tempos podem ter beneficiado o ministro da Economia, mas esta vitória parcial poderá também ter sido fruto de algumas posições controversas assumidas pelo seu principal adversário. Num país onde 70% da população é católica, Milei criticou o Papa, argentino. Ainda que se tenha retratado, as declarações, em que acusou Francisco de encobrir regimes antidemocráticos como o russo e o chinês e até colocou a hipótese de cortar relações diplomáticas com o Vaticano causaram indignação entre vários segmentos do eleitorado.

Milei: a luz ao fundo do túnel?

A Argentina atravessa um dos períodos mais difíceis da sua história, principalmente no campo da economia, registando níveis de inflação na ordem dos 128% e uma taxa de pobreza de cerca de 40%. Será a candidatura de um economista e professor de renome, que conta já com várias propostas de combate à inflação e estímulo à economia, com destaque para a dolarização, a oportunidade ideal para o país, ou continuará a aposta no atual Ministro da Economia, que se apresenta sem soluções concretas? Esta é a questão de fundo que será respondida pelos argentinos no dia 19 de novembro, data da segunda volta.

Mesmo tendo tomado a dianteira, Massa depara-se com uma posição anti-Governo de 54% dos votantes, que optaram por Milei ou por Bullrich. É difícil colocar um cenário em que os eleitores do Juntos pela Mudança escolham o atual partido do Governo na segunda volta e o discurso da candidata vem demonstrar a impossibilidade de tal cenário, já que parabenizou a oposição, criticou o Governo e negou o apoio a Massa. Milei já apelou ao apoio contra a esquerda.