Em declarações à imprensa na sede das Nações Unidas (ONU) na tarde de segunda-feira, em Nova Iorque, o secretário-geral da organização, António Guterres, disse que Gaza está a tornar-se “num cemitério de crianças”, afirmando estar “profundamente preocupado” com as “claras violações do direito humanitário internacional” no terreno. “A intensificação do conflito está a abalar o mundo, a região e, o que é mais trágico, a destruir tantas vidas inocentes. As operações terrestres das Forças de Defesa de Israel e os bombardeamentos contínuos estão a atingir civis, hospitais, campos de refugiados, mesquitas, igrejas e instalações da ONU – incluindo abrigos. Ninguém está seguro”, disse. Além do número recorde de jornalistas mortos em quatro semanas, o secretário-geral adiantou ainda que foram mortos mais trabalhadores humanitários das Nações Unidas “do que em qualquer período comparável na história da organização” – 88 trabalhadores foram mortos em Gaza desde o início da ofensiva israelita no enclave.
Segundo Guterres, “nenhuma parte num conflito armado está acima do direito humanitário internacional”. E considerou ainda que a proteção de civis “tem de ser primordial”, condenando o uso de civis como “escudos humanos no conflito” e reforçando que a catástrofe que se desenrola torna a necessidade de um cessar-fogo humanitário “mais urgente a cada hora que passa”. Além disso, deixou uma sugestão quanto à entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza, insistindo na urgência do envio de combustível, ainda negado por Israel.
Segundo Guterres, o terminal de Rafah – que liga o Egito à Faixa de Gaza – “não tem capacidade para processar os camiões de ajuda humanitária à escala necessária”, já que “são necessários 1,2 mil milhões de dólares (mais de 1,1 mil milhões de euros) para ajudar os cerca de 2,7 milhões de palestinianos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia”. Apesar do líder da ONU não ter especificado que outros lugares de passagem seriam viáveis, o correspondente da Al Jazeera, James Bays, indicou que o secretário-geral poderá ter em mente a abertura do posto israelita de Kerem Shalom, no vértice da fronteira com o Egito e com a Faixa de Gaza.