Israel entre a esperança e as dificuldades

A guerra no Médio Oriente opõe a única democracia da região a uma organização terrorista. A libertação de prisioneiros como contrapartida para o regresso de reféns é, por isso, um dilema.

Após esforços diplomáticos intensos, com negociações difíceis e dilemas complexos, o acordo para a libertação de reféns foi finalmente posto em marcha. O Catar, através do seu primeiro-ministro e ministro dos negócios estrangeiros Mohammed Al-Thani, foi o responsável pela mediação do acordo que permitiu o regresso de 50 reféns, tomados pelo Hamas na sequência dos ataques de 7 de outubro.

Mereceu destaque a refém de 9 anos que se reencontrou com o pai que a julgava morta e que numa entrevista descreveu a sensação de alívio ao saber que não estava refém em Gaza. É, de facto, um respirar de alívio pelos israelitas, mesmo que o seu Governo tenha sido forçado a libertar 150 prisioneiros palestinianos, a maioria com ligações ao grupo terrorista.

A assimetria

O dilema complexo está presente nesta troca: Israel, para trazer de volta reféns inocentes, vê-se obrigado a libertar prisioneiros que constituem uma ameaça ao seu território.

A utilização de reféns como meio de chantagem a Benjamin Netanyahu evidencia as assimetrias numa guerra que coloca um Estado em frente a uma organização terrorista. A dificuldade de Israel em destruir o Hamas existe pelas próprias características demográficas da Faixa de Gaza, um território com uma elevada densidade populacional, e pelos métodos utilizados pelos fundamentalistas islâmicos, onde distinguir civis de membros do grupo se torna um exercício de elevada complexidade. Ainda assim, e como Estado – e única democracia na região -, Israel terá obrigações diferentes das do Hamas, cujo objetivo é extinguir Israel e acumular aliados através de ataques terroristas que provoquem uma reação desproporcional. Os EUA, aliados históricos dos israelitas têm desempenhado um papel fundamental neste capítulo, tendo os próprios experiência em ataques desproporcionais e em acabar com organizações terroristas.

A nova posição indiana

Mesmo sendo um dos principais membros da aliança BRICS, a política externa da era Narendra Modi tem registado mudanças. A proximidade aos Estados Unidos e a Israel, através do grupo minilateral I2U2, que inclui ainda os Emirados Árabes Unidos deixa clara a intenção que Nova Deli e Washington têm em travar qualquer intenção agressiva por parte de Pequim. Isto abarca também o conflito no Médio Oriente, onde a Índia é cada vez mais um player. Apesar de serem históricos apoiantes da causa palestiniana contra a ocupação de Israel, a relação indo-israelita está cada vez mais forte – principalmente depois dos acordos de Abraão e do I2U2 e por Modi ser um nacionalista hindu (relação difícil com muçulmanos) -, e a futura terceira potência económica, segundo previsões, terá uma influência acrescida na geopolítica da região, podendo revelar-se um agente determinante no processo.

Ameaças aumentam, UE mais vulnerável

A União Europeia atravessa um momento delicado, marcado por uma realidade desafiante (tanto interna como externa). O conflito entre Israel e o Hamas veio aprofundar discórdias, num momento em que a EU já começava a sentir pressões internas quanto à guerra na Ucrânia. Vários Estados-membros começaram a assumir o desgaste e as urnas têm sido prova disso. Com este novo foco, a União Europeia fica a braços com outro problema: os ataques violentos recorrentes, consequentes de problemas de integração. A política de fronteiras abertas e imigração desregulada tem sido um problema explorado ao máximo por partidos mais à direita, uma vez que se têm verificado vários ataques contra cidadãos nativos. O reatar do conflito – e a resposta de Israel – tem sido um propulsor do discurso antissemita, que volta a assombrar e a fraturar o continente europeu, que fica assim vulnerável tanto a ataques terroristas, como a populismos internos.