AD. Um acordo, um programa

PSD e CDS reúnem no mesmo dia à mesma hora os Conselhos Nacionais para aprovar a AD. Depois, é tempo de fazer o programa com nomes de peso.

Anunciada a nova Aliança Democrática, agora é tempo de centristas e sociais-democratas começarem a construir uma estratégia em contra-relógio. As conversas entre Luís Montenegro e Nuno Melo ditaram o entendimento geral entre os dois partidos, garantindo aos centristas o número de deputados suficientes para que o partido possa reentrar em São Bento com um mínimo de dois deputados, suficientes para constituírem um grupo parlamentar, mas, se as coisas correrem bem, o CDS poderá chegar aos quatro deputados.

Resolvida a negociação de lugares, os dois líderes entenderam-se também sobre os procedimentos e a regra é coordenação máxima e sigilo. A gestão da informação é fundamental na estratégia de Montenegro, que tem estado a distribuir novidades taco a taco com o calendário de Pedro Nuno Santos. O primeiro sinal desta coordenação é o facto de os dois partidos terem marcado para o mesmo dia, à mesma hora, a aprovação em Conselho Nacional dos termos da constituição da nova Aliança Democrática.

Comissão executiva vai elaborar programa

O primeiro passo do acordo de coligação entre os dois partidos será a constituição de uma Comissão Executiva com representantes do PSD e do CDS para elaborar o programa eleitoral. Apesar de, dos dois lados, ninguém querer avançar para já com nomes, o Nascer do SOL sabe que é provável que figuras como Adolfo Mesquita Nunes ou Alexandre Relvas possam vir a fazer parte desta comissão. Ao que nos dizem, a ideia é aproveitar a disponibilidade dos melhores quadros para dar corpo a um programa que possa ser claro na alternativa que a nova AD quer apresentar aos portugueses.

 Mais do que pôr o foco na distribuição dos recursos, o programa deverá apostar tudo na dinamização de economia, que permita criar a riqueza que os dois partidos consideram que há tempo demais escapa ao país. Do lado centrista é muito importante que o programa contenha a marca da Democracia Cristã, aquilo que mais diferencia o partido e que os dirigentes do Largo do Caldas acreditam que pode fazer o justo equilíbrio com algumas políticas mais liberais na economia.

Melo em São Bento, Mota Soares em Bruxelas

Do lado do CDS, a única certeza para já é que Nuno Melo será candidato a um dos dois lugares garantidos para o CDS. Outros nomes? Fonte centrista garante-nos que não há convites e que, quando houver, o critério de escolha  é «talento, vontade e disponibilidade». Consciente de que, apesar de ter perdido representação parlamentar desde as eleições de 2021, o maior ativo do CDS continuam a ser os seus quadros, reconhecidos em todo o país, a direção centrista quer compensar com nomes de qualidade uma representação parlamentar que será necessariamente curta. «Esta é a tarefa de uma vida», diz-nos um dirigente centrista, que garante que o CDS não vai repetir os erros do passado que levaram à sua quase extinção. Recordando discussões do passado, a mesma fonte assegura que desta vez não vai haver uma gestão de mercearia na escolha dos candidatos a deputados. 

Certo é que, com a passagem de Nuno Melo para o Parlamento nacional, Luís Pedro Mota Soares, ex-ministro e número dois da lista do CDS nas últimas eleições europeias, vai assumir, no final do mandato, o lugar deixado vago pelo presidente do partido. Depois disso, é praticamente certo que o nome do ex-ministro da Segurança Social irá encabeçar a lista nas eleições europeias de junho. O facto de o acordo de coligação se estender também às eleições europeias e autárquicas garante a eleição de Mota Soares e a representação do CDS em Bruxelas.

Montenegro de olho nos quadros do CDS

Desde o anúncio da coligação entre PSD e CDS, na última semana, o ambiente mudou na tradicional sede dos centristas no Largo do Caldas. 

Já em dezembro, quando a coligação ainda não estava no horizonte, Nuno Melo, lado a lado com Paulo Portas, chamaram à sede muitos nomes do partido para apelar à unidade e a um esforço comum para garantir o regresso do partido a São Bento.

Nomes como os dos ex-líderes Manuel Monteiro e Assunção Cristas, ou de deputados e antigos governantes, como Nuno Magalhães, Cecília Meireles, João Almeida ou Mota Soares, responderam à chamada. O mesmo aconteceu com outras figuras que nos últimos anos tinham abandonado a militância, como é o caso de Adolfo Mesquita Nunes e Francisco Mendes da Silva.

Agora, a disponibilidade para colaborar com a direção de Nuno Melo  é redobrada. Muitos destes nomes, que entretanto retomaram as suas vidas fora da política, não equacionam voltar a ocupar lugares políticos, mas estão disponíveis para trabalhar para uma vitória da Aliança Democrática nas eleições de 10 de março. 

A ajuda é bem vinda, não só para os centristas, mas também para os sociais-democratas, que, na análise das vantagens e desvantagens de se juntarem com o CDS, tiveram como argumento principal o facto de poderem contar com quadros reconhecidos do partido. No horizonte está não só a luta eleitoral, mas também a formação de um possível Governo em caso de vitória. Acredita a direção da São Caetano à Lapa que poder contar com nomes do CDS, alguns já com experiência governativa, pode ser um ativo precioso para dar credibilidade e peso político a um Governo de direita.