Deputado trânsfuga  também fintou PSD

Maló de Abreu deu a morada de Coimbra ao PSD e outra à AR para receber mais ajudas de custo. 

O deputado António Maló de Abreu deu moradas diferentes ao Grupo Parlamentar do PSD e aos serviços da Assembleia da República para efeitos de ajudas de custo. O agora cabeça de lista pelo círculo Resto  da Europa, declarou ao Parlamento que a sua residência é em Luanda na véspera da tomada de posse, em Abril de 2022. Como prova, apresentou o comprovativo emitido pelo Consulado-Geral de Portugal em Luanda e com isso recebeu cerca de 75 mil euros em ajudas de custo e subsídios, além de duas viagens por ano a Angola «na classe mais alta praticada».

André Ventura afirmou ontem que, se descobrir que o candidato «recebeu abusivamente valores e que a sua residência não era em Luanda e que o seu círculo não era em Luanda», não irá nas listas do Chega. Acrescentou que Maló de Abreu lhe assegurou que a notícia avançada ontem pela revista Sábado não é verdade:_«Perguntei-lhe se isto era verdade e ele transmitiu-me que não». Como avançou a Sábado, o ex-deputado do PSD_declarou ao Parlamento que  residiu durante a última legislatura em Luanda. No entanto, viveu sempre em Coimbra, como comprovam as presenças no Parlamento e vários dirigentes do PSD. Nas declarações que fez, André Ventura disse que achava  «estranho o PSD não ter fiscalizado esta situação».

Contactado pelo Nascer do SOL, Joaquim Miranda Sarmento, líder da bancada social-democrata, afirmou que «mais uma vez André Ventura faltou à verdade». E isto porque a morada de residência que Maló de Abreu – e todos os deputados – enviam à secretaria-geral do Parlamento para efeitos de ajudas de custo e subsídios é uma informação que não é disponibilizada aos grupos parlamentares. E a verdade é que o então deputado do PSD_e agora candidato pelo Chega deu outra morada ao seu grupo parlamentar: a de Coimbra. «O  Grupo Parlamentar pede a morada aos seus deputados e é aquela que eles nos enviam que consideramos como verdadeira». Até porque «os partidos não têm acesso à informação que é enviada aos serviços do Parlamento».

O Nascer do SOL tentou obter esclarecimentos de Málo de Abreu mas não obteve resposta.

Para ter o certificado de residência passado pelo Consulado de Portugal em Luanda – documento que serviu para alterar o seu registo na Assembleia –, o deputado teve de apresentar o cartão de residente que é emitido pelo Governo de Angola ou o visto de trabalho. Quais os fundamentos para conseguir um destes dois documentos, não se sabe. «No Chega, uma das preocupações que tenho e tive enquanto presidente é garantir que todos os deputados e funcionários são e estão de forma exemplar e absolutamente legal face às atribuições subsídios e salários do Parlamento», garantiu Ventura. O que não parece ter acontecido no caso de Málo de Abreu.

ines.pereira@nascerdosol.pt