PSD/Madeira não encontra um nome para governar

Sociais-democratas procuram resistir na Madeira, mas o caminho é cada vez mais estreito. Sem um nome sólido, Ireneu não aceitará nomear novo governo. O partido aposta agora numa vitória robusta a 10 de março.

Uma semana depois, o Conselho Regional do PSD/Madeira não saiu do mesmo sítio. Miguel Albuquerque anunciou que vai dizer ao representante da República que os sociais-democratas consideram que o que aconteceu não altera o cenário político da Região Autónoma e que «a legitimidade outorgada em setembro de 2023 se mantém intacta».

A estratégia definida pelos conselheiros foi a de apresentar ao representante da República, Ireneu Cabral Barreto, uma solução de três em um:_propor um novo governo, um novo programa e um novo orçamento.

O problema desta estratégia é que, neste momento, o PSD/Madeira ainda não conseguiu encontrar um nome credível que aceite encabeçar este novo Governo Regional. Ao que sabe o Nascer do SOL, vários dos nomes falados já recusaram e há muitas dúvidas em escolher alguém que esteja a exercer funções executivas. «Não sabemos o que está na acusação, nem quem foi escutado», diz-nos uma fonte que esteve presente na reunião desta quinta-feira. «A verdade é que levámos um tiro em dois porta-aviões ao mesmo tempo», acrescenta, para justificar a dificuldade de se encontrar uma solução.  Pedro Calado, ex-presidente da Câmara do Funchal, ainda à espera de ser ouvido no tribunal de instrução criminal, era o número dois do partido e o homem que se preparava para suceder a Albuquerque. O que for  decidido pelo juiz depois de ouvir Pedro Calado é também um fator que pode ser determinante para as decisões políticas que o PSD/Madeira tarda em tomar. Mas, em todo o caso, Pedro Calado é uma carta fora do baralho, e uma eventual saída em liberdade para aguardar novos desenvolvimentos do processo pode servir apenas para descomprimir um pouco o ambiente muito tenso que se vive por estes dias na Região Autónoma.

Ganhar legislativas na Madeira para  condicionar Marcelo

Na reunião desta quinta-feira ficou decidido que o partido regional deve agora apostar as fichas todas num bom resultado nas eleições de 10 de março.

Os sociais-democratas da região acreditam que uma vitória clara do PSD_na Madeira dificultará uma decisão de dissolução  do Parlamento  regional quando, a partir de 24 de março, o Presidente puder constitucionalmente tomar essa decisão. As ordens são para intensificar a campanha e lutar para não ficar abaixo dos mínimos.

«A questão é o que é que é uma vitória?», refere-nos um dos participantes na reunião. Nas eleições regionais de setembro, o PSD não teve a maioria absoluta mas quase. Miguel Albuquerque conseguiu 41% dos votos, contra 13% do Partido Socialista. Agora, debaixo do terramoto que há uma semana se abateu sobre a Madeira, os sociais-democratas acreditam que uma vitória a 10 de março não estará em causa. O que se teme é que essa vitória não seja suficientemente robusta para caucionar a tese de que nada mudou quanto à legitimidade dos resultados eleitorais das últimas eleições na região há cerca de três meses. «Uma vitória é, no mínimo conseguir eleger três deputados para o parlamento». A meta foi definida pela maioria dos responsáveis do partido e foram muitos os que disseram temer por um resultado abaixo da fasquia definida.

A Madeira elege seis deputados para a Assembleia da República e, até ao presente, nunca aconteceu que o PSD_elegesse menos de três, tendo mesmo chegado a eleger quatro em várias legislaturas ao longo das últimas décadas. «Perder um dos três deputados seria uma derrota que o PSD_nunca teve», por isso, diz-nos a mesma fonte, é para isso que temos de trabalhar. Mas o trabalho não será fácil, não só pelo efeito que teve  junto do eleitorado o processo que abalou a Madeira e fez cair o Governo, mas também porque muitas coisas vão ter que mudar muito rapidamente, como todo o material de campanha que já estava pronto a distribuir com a cara de Miguel Albuquerque e que agora foi para o lixo, e vai ter de ser substituído à pressa.

A ausência de um nome enfraquece a solução

Apesar de haver consenso quanto aos próximos passos, várias vozes presentes na reunião do Conselho Regional do PSD sublinharam que o facto de o partido ainda não ter conseguido encontrar alguém para liderar a estratégia, uma semana depois de Albuquerque se ter demitido, é um sinal de fraqueza. Esta é a razão pela qual muitos dos presentes acreditam que, se um nome sólido não for encontrado até segunda-feira, o mais provável é o representante da República recusar a proposta de Miguel Albuquerque. «O relógio já leva uma semana de atraso e isto demonstra que não temos solução», ouviu o Nascer do SOL da boca de um dos presentes na reunião.

Se Ireneu Cabral Barreto não aceitar a proposta que lhe vai ser apresentada na segunda-feira por Miguel Albuquerque, o Governo Regional fica em gestão até que constitucionalmente o Presidente da República possa tomar a decisão de dissolver o Parlamento regional e marcar novas eleições, o que só poderá acontecer a partir do dia 24 de março.

Neste cenário, a região autónoma ficará a viver em regime de duodécimos até que um novo Governo seja eleito e veja a sua proposta de orçamento aprovada por uma maioria de deputados da Assembleia Regional.