Debate. Rui (Tavares) testa soluções “no laboratório”, Rui (Rocha) tem visão “arco-íris” da economia

Pelo meio, houve “arco-íris”, “laboratórios” e “escorregas”.

Foi um frente a frente entre dois Rui’s. Mas dois Rui’s com visões diferentes para o país. Pelo meio, houve “arco-íris”, “laboratórios” e “escorregas”. O debate, desta quarta-feira, que colocou frente a frente Rui Rocha (IL) e Rui Tavares (Livre), começou com o líder dos liberais a explicar que o “choque fiscal” que o seu partido propõe passa por uma taxa de IRC de 12% para atrair empresas estrangeiras, medida essa que irá, também, beneficiar as grandes empresas. “È verdade”, disse.

Impostos 

A redução da carga fiscal, ainda que Rui Rocha não tenha lançado para cima da mesa um valor concreto, ronda os cinco mil milhões de euros. Dada a palavra ao Livre, Rui Tavares quer falar sobre os jovens. E sobre o Futuro. O seu programa está a rondar as “dezenas e centenas de milhões de euros”, disse, sem apresentar, também, um valor concreto. Mas aproveitou a deixa para lançar uma crítica ao seu adversário, afirmando que o programa da IL se situa na casa dos milhares de milhões de euros. Os portugueses têm “pouco apetite de se lançarem em experimentações liberais com grandes sacrifícios”, disse. “Tem de haver espaço para reduzir divida pública, para fazer investimento em que toda a gente saiba o excedente que temos. Tem faltado investimento público nos últimos anos.”  

Para Rui Rocha, o Livre segue o caminho do Partido Socialista (PS). As propostas são “mais do mesmo” e, por isso, nada “diferenciadoras” das dos socialistas. Em resposta, Rui Tavares critica a “visão de arco-íris” em relação à economia portuguesa que a Iniciativa Liberal apresenta. 

“Nós não fazemos dar um desconto aos mais ricos de 4.000 por ano, agora, para chegar aos 8.000 euros. Os mais ricos têm que ajudar a pagar as necessidades dos mais pobres”, afirmou. 

Sáude  

Na saúde, as diferenças entre dos dois partidos e, portanto, dos dois Rui’s, também são notórias. Para a IL, o atual modelo não funciona. É preciso “alterar radicalmente o sistema” e dar “liberdade de escolha” quer seja no SNS ou no privado. “É o que se faz em muitos países da Europa e a partir de aí há concorrência”. E rematou: “Não nos perguntem porque queremos mudar um sistema que não funciona, perguntem a quem quer manter um sistema que não funciona.” 

Para Rui Tavares, o objetivo para a mesma pasta é o de todas as pessoas entrarem num hospital “de cara levantada”, distanciando-se do “sistema misto” defendido pela IL. E explicou: “os privados podem estar a fazer concorrência desleal com o conhecimento que têm do público. Um liberal deveria defender que se saibam os valores praticados no privado”.  

O líder liberal acusa ainda Rui Tavares que o que defende é uma “passagem de informação” e “não uma reforma estrutural” no setor, e concluiu: “Rui Tavares está no laboratório a fazer testes sobre a realidade”. 

Semana de quatro dias 

Para Rui Rocha, Rui Tavares querer “impedir o progresso tecnológico para Portugal”, dando o exemplo de o Livre ser um defensor da semana de quatro dias. O problema, diz Rocha, é que o Livre quer travar o avanço tecnológico ao propor um “imposto à automação”. “Rui Tavares quer testar soluções de laboratórios”, atirou, pela segunda vez. 

Em resposta, Rui Tavares explicou o porquê de ser favorável ao projeto piloto. “Sabemos que 1.000 trabalhadores trabalharam quatro dias por semana e que de metade das pessoas que tinham dificuldade em equilibrar vida profissional e pessoal passaram a ser apenas um quinto”, afirmou. “A objeção da IL há dois anos é que afetava a produtividade.” 

Habitação 

Ainda no uso da palavra, o líder do Livre referiu que Portugal “é o país da UE mais procurado para milionários viverem”, uma percentagem da população à qual a IL, disse, quer baixar impostos, acrescentando que a realidade habitacional em Lisboa é caracterizada por sem abrigos que vivem, por exemplo, “em tendas atrás da igreja dos Anjos”.  

O líder da IL afirma que o seu objetivo é colocar mais casas nos mercados. Atira um número e uma data: 250 mil em quatro anos, acompanhados de licenciamentos e eliminação de IMT e imposto de selo. “É assim que se traz habitação para o mercado.”  

“Vender uma casa a 2 milhões de euros a quem a pode pagar a pronto é perfeito para os construtores, melhor do que vender várias a 200 mil euros”, responde Rui Tavares, acrescentando que os jovens portugueses “têm medo de entrar num banco para pedir um crédito”. E, por falar em jovens, Rui Tavares acusa Rui Rocha de ser um “miúdo num parque infantil” que fica preso no “escorrega” perante o mercado económico.