André Silva deixa de rever-se no partido de Inês Sousa Real

Fundador acusa partido de ter perdido a ‘coluna vertebral’. Líder lamenta decisão e critica timing.

André Silva, ex-porta-voz e um dos fundadores do Pessoas-Animais-Natureza (PAN), bateu com a porta ao partido, alegando que perdeu «a coluna vertebral» por andar a «bailar com (quase) todos» e por andar «de gaveta em gaveta política, aparentemente, em busca daquela que mais mandatos tiver para lhe oferecer».

O ex-responsável do partido disse ainda que a atual direção tem a «pretensão de fomentar uma imagem de moderação e sensatez e outras coisas que tais, transforma o PAN num partido quase inútil às causas que proclama defender e que justificam a sua existência» acusando o PAN de abandonar «a ecologia profunda (…) para abraçar um discurso errático, superficial e repleto de lugares-comuns».

Inês Sousa Real lamentou a decisão do fundador. «É uma opção do próprio, lamento profundamente que tenha sido esse o legado que optou por deixar e até por pôr em causa até aquilo que construiu em prol do partido, destruindo assim de uma só vez ao sair no tempo em que saiu, causando claramente dano ao partido», revelou ao Nascer do SOL.

A atual líder defendeu ainda que esta direção «está fortemente comprometida em fazer crescer o partido e deixar não só um presente, como um passado e um futuro porque acreditamos que os líderes que neste caso cessam funções devem saber também permanecer o seu legado e estar à disposição do partido para os desafios futuros e não apenas quando estão no poder».

Uma das razões que criou esta mal-estar está relacionado com o apoio do PAN ao Governo regional da Madeira (PSD/CDS-PP), que entrou em gestão esta segunda-feira. E André Silva justificou «pelo regime em causa», «pela ausência de contrapartidas de mudança», «pelas justificações apresentadas» e «pela venda dos valores do partido». Acusações que levaram cartão vermelho por parte de Inês Sousa Real. «Não nos revemos de todo nessas declarações, neste momento o PAN é o partido de oposição que mais medidas conseguiu aprovar na Assembleia da República, é o partido que quebrou a maioria absoluta de Miguel Albuquerque e inclusivamente garantiu que Miguel Albuquerque renunciava ao cargo e que também travasse também os projetos que estavam em causa nesta investigação, o que já aconteceu já e que foi assumido pelo próprio PSD», acrescentando ao Nascer do SOL que «o PAN mostrou que é uma força útil à democracia, à estabilidade governativa e à credibilidade das instituições e não nos revemos nas palavras de André Silva».

Recorde-se que André Silva anunciou, em março de 2021, numa carta aberta que abandonaria o cargo de líder/porta-voz do PAN e que renunciaria ao cargo de deputado, abandonando assim a vida política ativa.

sonia.pinto@nascerdosol.pt