André Ventura. ‘Fará algum sentido ser mais calmo, mais amorfo?’

É um homem destemido, mas com sentido de humor e que responde a todas as provocações com fair play. Reafirma tudo o que disse sobre os ciganos e a castração química.

Não tem problemas de estar neste restaurante?

Nenhum.

Na cozinha só está a dona, que é portuguesa. De resto são todos do Bangladeche.

Portugal precisa de imigrantes para muitos setores, essa imigração deve é ser orientada e regulada. Isto nem devia ser uma questão de esquerda ou de direita, ou de Chega contra os outros todos. Todos os países da Europa estão a fazer isto – impor algumas regras e algum controlo. Isto que fizemos com a CPLP, acabar com o visto de trabalho, com todo o respeito que tenho por essas pessoas, foi um disparate absoluto. Ou ter que apresentar meios de subsistência. Sem isto, é um convite à miséria, ao abandono, ao conflito social e ao descontrolo. A nossa missão não é contra nenhum dos imigrantes que vem, Portugal já foi e é um país de emigrantes. Mas um país sem portas e janelas não é um país, é um baldio. Segundo o último estudo, nós já temos inscritos no Sistema Nacional de Saúde cerca de um milhão e 500 mil imigrantes, quando dizem que nós só temos cerca de um milhão. Os outros quinhentos mil quem são? Isto gera pressão na habitação, na saúde, etc.

Como se preparou para os debates e como estuda os dossiês? Ao ouvi-lo falar de Justiça fico um pouco banzado. Interrogo-me por que não leu o trabalho da Associação de Juízes ou do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, entidades que têm estudos feitos de como resolver o problema, de como se encurtam os prazos e por aí fora.

Primeiro é a minha área, também me sinto qualificado – em áreas como a económica ou ambiental tenho mais dificuldades. Por outro lado, o Chega, na preparação deste programa, e isso foi tornado público, juntou advogados, economistas, magistrados. E no debate com Pedro Nuno Santos eu afirmei que não fui eu que disse que um dos problemas é o confisco e apreensão, foi o diretor da Polícia Judiciária.

Por que tem dificuldade em dizer quais são os maiores financiadores do Chega?

Não tenho, o Chega não tem financiadores. O nosso financiamento é público, são os donativos. Temos um portal, e qualquer pessoa pode ir lá, e todos os dias há dezenas de pessoas que entram, metem o nome e fazem uma transferência. Pode ser de 10 mil euros ou de 100 euros. Ou de cinquenta. É aberto a todos, pobres, ricos…

Segundo Mariana Mortágua, Humberto Pedrosa deu 400 mil euros ao partido.

Isso é completamente falso. Como é que íamos receber 400 mil euros? Por baixo da mesa? Andei a vida toda a criticar isso e agora ia fazer o mesmo? Receber dinheiro por baixo da mesa? O Chega nunca violou a regra do financiamento, ao contrário de outros partidos. O Chega tem um sistema de donativos aberto em que qualquer pessoa pode lá ir e transferir cinco euros! Fica lá o seu nome que vai para a Entidade de Contas. Todos os anos a entidade de contas tem o nome daqueles que nos dão os donativos, não são financiadores. Repare, nós lançámos uma grande campanha de donativos para ajudar a pagar os nossos outdoors. Cada concelho do país que quer ter um outdoor tem de nos ajudar, nós não conseguimos encher o país de outdoors. Se querem participar na campanha, têm de nos ajudar, paguem parte, façam um donativo.

A história da falta de dinheiro para os outdoors do país inteiro é semelhante à falta de jovens e menos jovens talentosos para as listas de candidatos. Aquilo que se diz é que estão a ir buscar o refugo do PSD, a ilustre flor do entulho dos evangélicos e por aí fora. Como reage a isso?

Quem está a perder tração é que nos acusa sempre disso. Antes era porque não tínhamos gente, agora como temos muita gente, é gente má.

Mas eram ou não de terceira ou quarta linha do PSD? O Maló?

Era presidente da Comissão de Saúde, uma das mais importantes. Se alguém tinha um peso político, era o Maló.

Que foi uma desilusão?

Eu tomei decisões, parece que o Pedro Nuno Santos não quer tomar essa decisão sobre ele próprio.

Como assim?

Ele também aparentemente tinha uma casa em Lisboa e estava a receber subsídios de apoio de Aveiro. Eu tomei uma decisão sobre uma coisa que não me parecia ética, pedi esclarecimentos, legitimamente optaram por não mos dar, e fiz o que faço sempre na minha vida. Tomo as mesmas decisões em coerência. O Eduardo Teixeira, nosso candidato em Viana do Castelo, mostrou-me que não foi o PSD que não o quis na lista, ele informou o PSD que não estava disponível, pois ia abraçar o nosso projeto. Outro exemplo, o Rui Cristina, que na minha opinião foi o melhor deputado do PSD nesta legislatura. Aguerrido, jovem, ambicioso, com uma força enorme, e vai ser o nosso cabeça de lista por Évora. O grupo parlamentar do PSD era sofrível, ele era o único que saía daquele registo. Nós ficámos com os que se identificaram connosco, com os que acham que o PSD deixou de fazer o trabalho de oposição, e passou a ser uma muleta do PS, e vieram para nós. Recebi-os bem porque são pessoas que, tal como eu, disseram: ‘Estive aqui [PSD], agora percebo que o PSD não representa aquilo que quero para o futuro, a oposição que temos de fazer ao PS, e, portanto, vou mudar de partido’. O que eu podia fazer? Impedi-los de vir? Dizer que não queríamos ninguém que viesse do PSD, quando eu próprio vim do PSD há cinco anos? Qual era o motivo? Recebi pessoas que vieram do CDS, como o Diogo Pacheco Amorim, o Pedro Pinho, pessoas que vieram do PAN, como a Cristina Rodrigues. O nosso antigo presidente da distrital de Évora, se não me engano, foi funcionário do PCP. Nós abrimo-nos à sociedade e recebemos pessoas que reconhecem que andavam enganadas.

Mas não são altos quadros. Não têm pensadores reconhecidos…

O coronel Simões de Melo, que foi um dos fundadores da Iniciativa Liberal, dantes era um grande pensador, alguém que via mais longe, como agora está no Chega, é um burro, um bruto e é um homem sem valor [risos]. Veja o Henrique de Freitas, nosso candidato a Portalegre. Foi governante do PSD, uma das pessoas mais próximas do Passos e de outras pessoas, e hoje é nosso cabeça de lista. Agora isto não vale nada? Perdeu a inteligência que tinha?

Um dos factos engraçados desta pré-campanha, temos de reconhecer, é o silenciamento na AD de Câmara Pereira, o líder do PPM. Mas na AD há muitas pessoas que podem falar, desde o Paulo Rangel, Lobo Xavier, a um número infindável de pessoas. No Chega, não há ninguém que possa falar sem ser o André Ventura.

O Chega tem zero comentadores nas televisões. Não fazem um convite, quando o Chega é a terceira maior força política. Quando era o Bloco a terceira força política, eles estavam em todas as televisões. Aliás, ainda estão em algumas.

O PCP também se queixou do mesmo no passado.

O PCP sempre teve comentadores na televisão, desde o Octávio Pato. Veja os comentadores do serviço público de televisão, é tudo esquerdalhada da pior, paga com os nossos impostos. Se só andam atrás do André Ventura de manhã à noite, é difícil ter outros nomes.

Mas os outros quando abrem a boca até assustam.

Não é verdade, não lhes dão é espaço. Faz algum sentido o partido ser o terceiro maior do país e não haver um canal que tenha um comentador do Chega? Vou contar-lhe outra história. A Cristina Rodrigues era comentadora da SIC quando era do PAN, mas ao comunicar que vinha para o Chega correram com ela. A SIC pode desmentir, mas é a verdade. Disseram-lhe que o Chega não é um partido igual aos outros. Por isso, não digam que o Chega não tem gente. As televisões, e, infelizmente, muitos jornais, preferem fazer um silenciamento à volta do Chega. Outros convidam-nos para escrever uma coluna semanal, mas exigem que seja eu a fazê-lo. Sabem bem que isso não é possível e fazível. Isso aumenta a ideia de que o Chega sou só eu.

Vamos às questões básicas. Muitos dizem que é completamente lunático nas propostas que apresenta, que é um aldrabão, que inventa, que não tem noção das promessas que faz e que só não promete a lua porque seria demais. Recordando um candidato a prefeito no Brasil, só não oferece anéis de noivado.

Isso não corresponde à verdade, e já agora que fez uma brincadeira com a história do prefeito brasileiro, há pessoas que dizem, na brincadeira também, que eu devia prometer que a gravidez vai passar para três meses [risos]. Em realismo dizem que se aumentássemos as pensões como prometemos, significaria um aumento de sete por cento de despesa em seis anos. O Livre, o Bloco, o PCP e agora uma parte do PS, querem reverter as privatizações da GALP, da TAP, da ANA, REN, dos CTT, etc. Isto provocaria um aumento da dívida pública de 15%. Quem é que é irrealista aqui? Sou eu ou esses partidos que nunca foram confrontados com isso? Querem nacionalizar tudo e nunca ninguém lhes pergunta quanto vai custar isso?

Como reage quando dizem que é um vigarista do pior que só não promete a gravidez de três meses?

Isso é o ataque que me fazem quando não têm argumentos. Todos os meus opositores começam o debate comigo com isso, para tentar logo descredibilizar-me. Porque sabem que em debate direto não ganham, tentam logo vir com isso. Tentam vender a ideia que o Chega promete tudo a todos… Há sempre uma boa razão para não se fazer nada em Portugal, e quando há um partido que diz assim: ‘Não, não. O nosso problema não é falta de dinheiro, o dinheiro está é a ser mal distribuído e mal gerido’.

Vamos imaginar que vocês conseguem eleger 50 deputados. Vamos ter sessões evangélicas na vossa bancada?

Vamos ter é uma coisa…

É público que vocês têm muitos evangélicos.

Como também temos católicos, só que como os evangélicos são menos dão mais nas vistas. O que sei é que vamos ter, pela primeira vez, na AR uma assembleia que não pactua com conluios interparlamentares. Vou dar um exemplo que pode ser fundamental: comissões de inquérito. O Chega pode, pela primeira vez, conseguir sozinho abrir comissões de inquérito, sem precisar de mais nenhum partido. E só isso vai fazer tremer os maiores partidos do sistema. Quando nós formos investigar o BES, o financiamento das campanhas dos partidos, aí é que eles vão sentir o peso dos nossos 40 ou 50 deputados. Penso que são precisos 46, nós já passámos esse limite nas sondagens, mas podemos voltar a descer. Mas se conseguirmos esses números podemos abrir comissões de inquérito potestativas. Só isso já os vai pôr a tremer um bocadinho.

A propósito das vossas propostas ‘lunáticas’. Foram muito atacados por defenderem o direito à greve nas forças de segurança, além de poderem estar filiados em partidos. O Sindicato Oficial de Polícias quer defender o direito à greve, mas com restrições.

Também eu.

Mas eles são do Chega?

Não sei. Nunca lhes perguntei. Agora sei uma coisa. Dois comentadores [Marques Mendes, na SIC, e Paulo Portas, na TVI] juntaram-se em horário nobre, ainda por cima dois comentadores que não são independentes, que são parciais, pois estão a apoiar uma força política, juntaram-se para atacar uma ideia, para descredibilizar o Chega. No outro dia eu expliquei a ideia e nunca mais se ouviu falar nisso. O que mostra que há aqui uma tentativa concertada de nos atacar. Depois tiveram azar porque eu de leis ainda percebo alguma coisa, e disse: ‘Isto na Bélgica é assim, na Suíça é assim’. O que estou a dizer não é disparate nenhum. Isto já foi discutido há uns anos por outros partidos na AR, nomeadamente pelo PCP, que é insuspeito de ser um partido anárquico, e o próprio sindicato dos polícias já pediu uma discussão sobre isto. As pessoas dizem: ‘Então e se os polícias pararem todos? Os bandidos não ficam à solta?’. Então e se os médicos pararem todos? Morremos nas urgências dos hospitais? Não, evidentemente que tem de haver restrições, com serviços mínimos garantidos, como há noutros setores da sociedade. Dei também outro exemplo que Luís Montenegro parecia não saber: se os magistrados podem ser filiados, qual a razão para os polícias não poderem? É simples, há uma perseguição permanente aos polícias. É um anacronismo, é um disparate. É só porque criámos uma cultura de perseguir polícias, que são o parente pobre da justiça.

Vamos imaginar que há uma manifestação do Chega. Se alguém se estiver a portar mal, se os polícias forem do Chega, vão obedecer a quem? Ao partido ou ao…

E se eu for preso e chegar ao juiz e ele for do Chega? Não é a mesma coisa?

É diferente.

Nós temos de acreditar que as pessoas sabem fazer o seu trabalho, independentemente da sua cor partidária. Da mesma forma que acredito que os juízes fazem isso, e os procuradores fazem isso, também os polícias o podem fazer. Parece é que o Luís Montenegro não sabia a lei dos magistrados no debate que teve comigo. Eles não podem é ter participação política, isso é outra coisa. Portanto, defendo que os polícias possam fazer greve, possam ser filiados, com limitações, com as restrições que existem, por exemplo, na Bélgica, em que têm de garantir sempre a segurança mínima nestes casos.

Numa das suas bandeiras, o André Ventura faz-me lembrar Mariana Mortágua com a história dos vistos gold. O André respondeu-lhe, no debate, que os vistos gold representam 3%. Se Mariana Mortágua estivesse aqui, dizia-lhe que a subsidiodependência “representa um por cento!!”.

A subsidiodependência é uma coisa diferente, pois não me refiro só ao RSI. O país mergulhou na cultura da subsidiodependência, inclusive alguns empresários e alguns setores empresariais, passaram a estar absolutamente dependentes dos subsídios do Estado. Toda a gente quer o ‘subsidiozinho’ para continuar a funcionar. Toda a gente quer viver à custa do subsídio e temos de acabar com esta cultura. Os países mais desenvolvidos do mundo evitam culturas de subsidiodependência e nós estamos a aumentá-la. Porquê? Porque isto dá votos. Uma pessoa não tem que fazer nada, simplesmente recebe subsídios, e vai votar no PS quando chegar a hora. Queremos acabar com isto, e não é só o RSI, há uma cultura da subsidiodependência enraizada, de todos os setores, e isto tem de acabar. A agricultura é importante e ninguém está a falar nestes debates. Tento e não me deixam falar porque acham que não é importante. A agricultura é decisiva. Temos em Portugal mais de mil e duzentas taxas sobre a agricultura. Pergunto que agricultor é que pode trabalhar neste país com 1200 taxas? A esquerda, onde está o PS, criou um sufoco sobre os agricultores que se traduz nisto: o dinheiro da Europa não é executado, os apoios que lhes prometem nunca chegam – há agricultores que ainda estão à espera do apoio do tempo da covid-19. Finalmente, enchem-nos de impostos, no gasóleo verde, nos fertilizantes, nos adubos. Qualquer coisa que um agricultor queira fazer hoje, tem uma taxa, um imposto. Isto é possível?

Não acha que lhe chamam fascista, xenófobo e por aí a fora por causa da forma e não tanto pelo conteúdo?

Acho que sim, até pelo medo que têm de mim. Mas é pelo estilo e pelo medo. Isto aumentou muito nos últimos meses, até porque tinha estado mais ou menos amenizado no último ano e meio. Na rua já não sentia aquela contestação que se sentia no início, agora reacendeu-se uma espécie de polarização entre muito apoio e alguma contestação extremada. E isso é porquê? Porque têm medo por causa do crescimento do Chega nas sondagens. Aliás, uma daquelas sondagens do ISCTE já nos dava 21% e as pessoas têm medo. Têm medo de perderem os benefícios, de perder privilégios, ou acham que nós somos racistas e que pomos em causa a sua condição, e isso está a aumentar. E muitas vezes é o estilo. Mas sobre o estilo quero dizer o seguinte: houve milhares de pessoas, e posso dizer milhares, que me disseram para ter calma, sentido de Estado, muita ponderação nos debates.

Não teve nada disso nos primeiros debates.

Pois não, não sou como as pessoas querem.

Mas no debate com Pedro Nuno Santos tentou ser mais calmo, mais ponderado…

É verdade, mas depois, aqui e ali, saiu-me o ataque, a resposta rápida, a voz mais elevada. Mas fará algum sentido alguém que passou o tempo todo no Parlamento a confrontar combativamente, às vezes zangado, a gritar, etc, agora subitamente, porque há eleições, apresentar-se aos eleitores um homem muito mais calmo, muito mais parado e muito mais amorfo?

Deixou de falar de ciganos e de castração química. São questões que desapareceram para agradar a um maior número de pessoas. Esses ataques inicias criaram lastro, agora é preciso consolidar.

Se me perguntar o que penso sobre ciganos, digo exatamente a mesma coisa. Continuo a achar que vivem essencialmente de subsidiodependência. E também continuo a achar que a castração química é a melhor solução para os pedófilos. Também tem de concordar que o país hoje tem três ou quatro problemas com uma seriedade enorme que acho que tenho de endereçar em primeiro lugar.

Alguma vez pensou moderar o seu discurso para deixarem de lhe chamar racista e xenófobo…

Se pensei meter um cigano nas listas? Olhe que temos ciganos que nos apoiam.

Ainda não vi nenhum, apesar de nas vossas ações colocarem simpatizantes de várias proveniências geográficas…

Já apareceram ciganos a apoiarem-nos. Em Vila Franca de Xira, um casal de ciganos, que tem uma loja, veio dizer-nos que nos apoiava. Pois dizem que a grande maioria de ciganos vive de subsídios.

Temos de ir conhecê-los.

Nós sabemos quem são, podemos dar-lhe os contactos.

Não, é preciso ir lá, não vá serem ‘venturinhas’ disfarçados ao telefone de ciganos.

[risos].

A propósito do seu estilo. ‘Se a pessoa que vai receber o RSI não vier com água paga e com a renda da casa paga, se for de um morador municipal, põe-se uma cruzinha e não vai receber RSI nenhum’. ‘Em relação às ocupações ilegais de casas, não vamos compadecer com isso e, aí, vai haver ordens de despejo’. Foi o Ventura que disse isto?

Eu diria que sim, que é meu.

Mas não é. É do presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, autarca do PS. Não ataca nenhuma etnia, mas explica o que fará. Qual a razão para o André Ventura não usar a mesma linguagem?

Em primeiro lugar, o presidente da Câmara de Loures está, basicamente, a copiar tudo aquilo que o Chega defende, até porque viu o resultado que nós lá tivemos, mesmo agora. Eu tive o melhor resultado do PSD em Loures quando fui candidato. Mas, agora, o Chega tem um vereador e vários deputados municipais em Loures. Esta conversa que Ricardo Leão tem é uma tentativa de dizer o que o Chega diz.

O que interessa às pessoas é saber se quem não cumpre é desta ou daquela etnia? As pessoas querem é que cumpram com as suas obrigações como elas fazem.

Quem vive ao lado destas comunidades sabe o que eu estou a dizer, e por isso não vou deixar de dizer. Se for ao Alentejo, a Setúbal ou a Loures, essas pessoas sabem o que estou a dizer. Isto vai sair mal outra vez, mas eu vou dizer: viver ao lado de algumas comunidades ciganas em Portugal é um inferno. E as pessoas sabem isso e é por isso que nos contactam, por isso é que nos dizem o que se está a passar.

Vivo rodeado de ciganos e não vivo em inferno nenhum.

Se não vive o Vítor, devem viver outros que estão ao seu lado. Se eu for ao seu bairro de certeza que vou encontrar muitos que dizem o que estou a dizer. Nós recebemos todos os dias dezenas de queixas de puxadas de eletricidade e de água, de barulho, de crimes, de tudo.

Não me vai dizer que os caucasianos não cometem crimes puros e duros.

Ninguém tem feito mais combate à criminalidade do que eu. Já falei de brasileiros, já falei dos nossos portugueses que cometem crimes e são bandidos, já falei dos afrodescendentes, agora em Portugal parece que há uma comunidade que, apesar de todas as tentativas de integração, recusa essa integração.

Porque não usa uma linguagem como a do autarca de Loures?

Isso é a linguagem do Melhoral, não faz bem nem mal.

Mas isso é o seu segredo, diz pela negativa. Ele como diz pela positiva…

Sabe qual é o meu segredo? É amar este país. Isso é que é o meu segredo.

Não me dê música. Tem aprendido com os evangélicos, não tem?

Acho que este país está farto do politicamente correto. Quase não tenho contacto com os evangélicos. O partido tem muitos evangélicos, isso tem. Não vou mentir. Muitos dos evangélicos que estão a chegar a Portugal são nossos.

É considerado fascista, e não tem comportamento fascista, não tem disciplina…

Qual é o único deputado negro do Parlamento e a que partido pertence? É o deputado Gabriel Mithá Ribeiro e é do Chega.

O PS tem.

Tem uma, não um. E faço outra pergunta. Quem é o único partido que tem em lugar elegível um brasileiro, imigrante negro? Eu, no Porto. O Marco. Que é instrutor de artes marciais. Imigrante, negro, fez a vida dele cá, casou, teve filhos, é nosso candidato. Onde é que está a xenofobia? Onde está o racismo? É o primeiro a querer o controlo à imigração, a dizer ‘eu vim e cumpri as regras. Tive que ter trabalho, tive que ter meios de subsistência, integrei-me’. Agora vêm outros, não precisam de cumprir nada e não têm que cumprir regras nenhumas. Hoje é candidato de quem? Do Chega.

O que pergunto é o seguinte: não cumpre nenhum requisito nem de católico… Supostamente foi seminarista…

Supostamente não, fui mesmo, que eu não sou como o José Sócrates. Pode ir confirmar. Estive mesmo no seminário. Não confundo isso com beatice ou com catolicismo hipócrita.

Não corresponde a nada do que o Papa pede. Nada. O seu discurso e o do Papa…

Eu sou católico – e agora não é violino – mas a minha lealdade não é ao Papa, é ao povo português.

O que acha de Mário Machado?

Não tenho nenhuma ligação com ele. Nenhuma mesmo. Nunca falei com ele.

É uma pessoa que apresentava à sua família?

Não, não apresentava.

Porquê?

É um criminoso condenado, tem posições que não se compadecem com a dignidade da pessoa humana. Não tenho nenhuma ligação com ele. Nunca estive com ele e nunca falei com ele na vida. Nunca estivemos no mesmo sítio.

Ele defende o princípio neonazi.

Sim e isso não tem nada a ver connosco. Absolutamente. Ele não tem lugar no Chega.

Não acha que ele seja racista?

Acho.

Perguntava à Patrícia, que é a sua diretora de Comunicação, antes de André Ventura chegar, se tinha perdido amigos por ter começado a trabalhar com o Chega, que me disse que tinha perdido quase todos. E o André? Tem perdido amigos?

Tenho perdido alguns. Não só amigos que eram já de longa data, da faculdade ou dos primeiros anos de trabalho ou televisão. Perdi alguns, é verdade, mas também ganhei muitos outros. Ganhámos uma família enorme.

Apoia a invasão russa à Ucrânia?

Claro que não, completamente contra.

O que acha das declarações de Trump a pedir a Putin para atacar os países que…

São disparatadas e irresponsáveis, mas ele não pediu, disse que os países da NATO deviam pagar a sua quota.

Ele disse que…

E depois disse que até o encorajaria.

O que acha disso?

São coisas disparatadas. Mas isso não me afeta nada.

Então não concorda com Trump?

Não concordo mesmo, até porque sou europeu. Mas se fosse americano… provavelmente também acharia irresponsáveis os países europeus não pagarem a sua quota de participação. Então é só viver à grande e à francesa e os outros que nos defendam e que se matem?

Para fechar, está a pensar apresentar uma moção de censura a um hipotético Governo da AD com a IL se não fizer parte dessa solução?

Nós estamos dispostos a falar depois de 10 de março. Essas questões não estão em discussão neste momento.