Dia D. Barroso desfaz Pedro Nuno

Depois de Passos, Durão. Ao Nascer do SOL, o antigo líder do PSD apela ao voto na AD e atira: ‘Um novo Governo do PS seria o mais esquerdista desde o gonçalvismo’. Pedro Nuno Santos aposta tudo no dia do voto antecipado

A última semana de campanha começa com um dia que é considerado determinante tendo em conta o histórico dos últimos atos eleitorais, desde que se abriu a possibilidade de os eleitores votarem antecipadamente. No domingo, dia 3 de março, muitas pessoas vão já exercer o seu direito de voto e a esse dado não estão alheias as várias máquinas de campanha.

A distribuição de argumentos de campanha, mudança de cartazes e as presenças de nomes fortes com poder de atração de eleitorado, particularmente dos que ainda estão indecisos, não é alheia ao calendário do voto antecipado. Por isso mesmo, pesos pesados como António Costa, do lado dos socialistas,  Pedro Passos Coelho, do lado dos sociais-democratas ou mesmo Sampaio da Nóvoa, que se junta por estes dias à campanha dos comunistas, fizeram questão de aparecer na primeira semana. Os partidos sabem que estes nomes têm um efeito estratégico na conquista de eleitorado que ainda não tomou uma decisão definitiva.

Barroso entra na campanha em busca do voto útil

Ciente de que se entra agora na semana decisiva, José Manuel Durão Barroso entra em cena com um artigo publicado nesta edição do Nascer do SOL onde avisa para os perigos de um hipotético Governo liderado por Pedro Nuno Santos: «Seria o mais esquerdista de sempre desde o gonçalvismo».

O ex primeiro-ministro e antigo presidente da Comissão Europeia vem a terreiro fazer um apelo à concentração de votos na AD, em nome de uma mudança que considera determinante: «É essencial não desperdiçar os votos daqueles que querem a mudança em Portugal: por um se ganha, por um se perde. É preciso concentrar os votos na AD, a única alternativa ao atual estado de coisas». 

Tendo presente o risco da dispersão de votos à direita, Durão Barroso dramatiza, «seria grave que a maioria dos portugueses que claramente não apoiam o PS, e que querem uma mudança em Portugal, descobrissem na noite de 10 de março que, por causa das divisões  entre as diversas alternativas e da dispersão dos votos, se vissem condenados a mais do mesmo».

O artigo que publicamos nesta edição (ver pág.9), é um primeiro passo para uma intervenção que deverá ser presencial nos próximos dias.

Tal como Durão Barroso, também outros antigos líderes e figuras de prôa do PSDe do CDS deverão juntar-se a Luís Montenegro, numa demonstração de unidade e de força que a AD quer dar ao eleitorado, numa campanha que, apesar de alguns tropeços, todos consideram que tem vindo em crescendo.

Marques Mendes, Paulo Portas, Luís Filipe Menezes e até Rui Rio são esperados nos próximos dias em ações de campanha. O  Nascer do SOL não conseguiu confirmar até ao fecho desta edição se vão mesmo todos marcar presença, mas essa é a expetativa da caravana da AD.

Socialistas acreditam em viragem na última semana 

Apesar de as sondagens indicarem que o PS segue em segundo lugar nas intenções de voto, atrás da AD, há quem considere no inner circle de Pedro Nuno Santos que esses dados não são necessariamente negativos.

2024 não é 2022 (em que o PS acabou por ter uma surpreendente maioria absoluta),  mas a verdade é que na mesma fase de campanha, em 2022, as sondagens também não indicavam uma vitória segura aos socialistas. Agora, os estrategas da campanha acreditam que algo de semelhante  possa repetir-se, ainda que com outra dimensão (ninguém espera uma maioria absoluta). Nos últimos dias aterraram em Lisboa especialistas vindos do Brasil para ajudar a ajustar a campanha em pormenores que podem fazer a diferença.

Depois de uma primeira semana mais dispersa pelo país, a grande aposta para os últimos dias é concentrar a presença em Lisboa e no Porto. Na quinta-feira, 7 de março, os socialistas têm um grande comício no Porto e no dia 8, a campanha encerra com um comício em Lisboa. Pedro Nuno Santos, que foi esta semana muito criticado por estar a fazer uma campanha pela negativa, centrada nos ataques à AD, mudou esta quinta-feira a agulha e voltou a vestir o fato de fazedor. O dia passou-se a visitar obras lançadas pelo Governo de que fez parte e a valorizar os projetos que diz ter deixado lançados, nomeadamente na área da ferrovia. Nas suas várias intervenções, foi percetível a mudança de estratégia e o próprio Pedro Nuno fugiu a responder a perguntas que não se concentravam exclusivamente na sua campanha, chegando a queixar-se: «Depois dizem que eu só falo da campanha dos outros». 

O próximo domingo, 3 de março, é considerado um dia determinante para a campanha socialista.

É o último domingo de campanha e também o dia em que milhares de portugueses já vão votar. O facto de a lei não prever para o voto antecipado o famoso dia de relexão é uma oportunidade para tentar influenciar a decisão dos eleitores no próprio dia em que vão às urnas e os socialistas acreditam que isso pode ter influência nos resultados.

Facto é que os organizadores da campanha estão convencidos de que, nas últimas eleições , o dia do voto antecipado foi o dia da viragem que culminou na maioria absoluta.

Seja ou não verdade, os organizadores da caravana socialista desenharam um dia de campanha em tudo igual ao dia 24 de janeiro de 2022, dia do voto antecipado das últimas eleições legislativas. O dia vai começar com uma arruada nas Caxinas, no distrito do Porto, depois Pedro Nuno Santos parte para o distrito de Braga e tem previstas outras duas arruadas em Vizela e Guimarães. À noite o comício é em Viana do Castelo. Paragens estudadas para conseguir banhos de apoiantes nas ruas e muitos militantes no comício. Mas, para além da repetição do percurso, 3 de março deverá ser também o dia em que Pedro Nuno Santos trará novidades para o discurso político. 

Sabendo que os organizadores da campanha têm esta referência de que o dia do voto antecipado pode ser decisivo, o Nascer do SOL foi revisitar o que aconteceu em data semelhante em 2022.

Os títulos da imprensa falam por si:  «PS ajusta discurso e (re)aproxima-se da esquerda», «Costa disponível para falar com todos menos com o Chega», «Sondagens obrigam Costa a mudar de estratégia a 180 graus», «Nasceu um novo António Costa. O que está disponível para falar com todos».

As notícias falam num PS a mostrar humildade democrática face ao que as sondagens iam dizendo (nessa altura a maioria das sondagens dava um empate técnico entre PS e PSD, com uma ligeira vantagem para os sociais-democratas).

O que vão dizer as sondagens no dia 3 de março? É cedo ainda para prever, mas esta é uma data crucial para a caravana do PS. O próximo domingo é o dia certo para ajustar o discurso e tentar todos os esforços para obter uma vitória que permita aos socialistas manterem-se à frente do Governo, se for caso disso, «falando com todos menos com o Chega», como António Costa admitiu em 2022.