Iniciativa Liberal. Rui Rocha quer fazer parte da solução e admite acordo parlamentar

A Iniciativa Liberal pode bem ser o parceiro indispensável de uma futura coligação com a AD. As sondagens atribuem-lhe 6 a 10 deputados, aquém dos objetivos, mas Rui Rocha prefere valorizar a ideia de crescimento.

É a primeira prova de fogo de Rui Rocha desde que assumiu a liderança da Iniciativa Liberal, há pouco mais de um ano e após uma disputa interna cerrada que levou recentemente à saída da sua principal opositora, Carla Castro, que recusou integrar a lista por Lisboa nas legislativas entre o quinto e o sétimo lugar. Mas, ao longo de pouco mais de 13 meses, foi noticiada a saída de vários quadros que se mostraram contra o rumo escolhido por esta direção executiva.

Rui Rocha, na sua moção de candidatura, pretendia que o partido alcançasse 15% caso as eleições acontecessem em 2026, mas, com a antecipação do voto eleitoral, o objetivo eleitoral acabou por ser revisto. Ainda assim, pretende crescer mais de 50%, a partir dos oito deputados atuais. Um objetivo que, de acordo com as sondagens que têm vindo a ser divulgadas, será difícil de alcançar. O melhor resultado que tem sido dado aponta para a eleição de 6 a 10 deputados e, mesmo que atinja o número máximo, fica aquém dos pretendidos.

Números que não parecem desmoralizar o partido, que se tem mostrado otimista com a campanha. “Interpretamos como uma tendência de crescimento da Iniciativa Liberal”, já referiu Rui Rocha.

É certo que o presidente da IL tem vindo a apelar a uma “maioria clara” para a mesa das soluções, em que a IL conta sentar-se com a AD. Mas, para isso, o partido terá de ter mais força, para conseguir negociar com o PSD as reformas que tem vindo a defender como sendo necessárias. “Estou a pedir uma maioria clara que permita transformar o país e um voto forte na Iniciativa Liberal”, tem vindo a afirmar nas suas ações de campanha Rui Rocha, que tem contado com a presença dos deputados João Cotrim Figueiredo, Bernardo Blanco e Rodrigo Saraiva.

E os apelos são constantes. Ainda esta semana, voltou a afirmar: “Mais do que essa tendência de crescimento nestas sondagens, implícita para a IL, está a formar-se uma ideia de mudança de ciclo político. O que é preciso é que essa onda de mudança se estabeleça e creio que está na altura de pedir uma maioria clara, com voto forte na IL, para que não seja modesta e seja mudança a sério para o que o país precisa”.

Rui Rocha tem assegurado que o partido está pronto para integrar um Executivo com o PSD. No entanto, não afasta a ideia de um acordo parlamentar e recusa a “posição rígida” de Luís Montenegro de rejeitar formar Governo caso de a AD não ser a mais votada nas eleições. Em entrevista à Lusa, o líder da IL afastou preconceitos sobre governos minoritários, lembrando a crise política que conduziu às eleições antecipadas e que resultou de um Executivo socialista que tinha maioria absoluta e que “não correu bem”. Um argumento que voltou a ser repetido: “Estou a pedir uma maioria clara que permita transformar o país”.

Segundo o líder da IL, um governo minoritário do PSD com a participação dos liberais é um “cenário previsto, admissível e desejável”, assegurando que “não é não” e, por isso, mantém a recusa em integrar qualquer solução que conte com a participação do Chega.

Parceiros naturais com algumas visões opostas Apesar dos dois partidos serem vistos como parceiros naturais, há vários temas que separam a IL do PSD, o que foi visível no debate televisivo entre os dois candidatos, nem que seja por terem o mesmo objetivo: tirar o PS do Governo. E, se há vários pontos que unem os dois partidos, ao ponto de Rui Rocha ter apresentado um documento com “10 desafios ao PSD”, em que é fácil haver um entendimento, nomeadamente em matéria fiscal, há outros em que é preciso limar, como é o caso da saúde, e um que os divide a sério: Caixa Geral de Depósitos.

Em matéria de saúde, o entendimento será fácil, uma vez que a solução poderá passar pelas parcerias público-privadas. O PSD defende que a base é o Serviço Nacional de Saúde, onde devem ser assegurados os cuidados às pessoas que necessitam e, no caso de falha, já que a oferta não é ilimitada, terá de haver um recurso ao setor social e à iniciativa privada. Já a IL defende um sistema onde haja liberdade de escolha, entre público e privado.

O grande tema de discórdia é, sem dúvida, o futuro da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Para Rui Rocha, o caminho a seguir é a privatização, defendendo que “não podemos ter um banco sujeito à intromissão política, é melhor poupar o país a essa situação”. Um cenário afastado pelo líder do PSD, que vê o banco público como uma “válvula de segurança” para eventuais crises. “Temos necessidade de um banco público, é reduto de salvaguarda, uma válvula de segurança que garante que os depósitos têm cobertura, e, em segundo lugar, numa situação que perturbe quem tem capital social de dar crédito à economia, que essa garantia seja a CGD”, afirmou Luís Montenegro.

Uma barreira para eventuais entendimentos é o Chega. O presidente da Iniciativa Liberal tem garantido que nunca fará nenhum entendimento com o partido liderado por André Ventura, por considerar que se trata de um partido político “completamente irresponsável e que não assegura a dignidade humana”, afastando um acordo pós-eleitoral com o Chega. “Como é que posso ter um entendimento com um partido profundamente estatista, com um conjunto de medidas que nem a esquerda moderada as defende?”, questionou esta semana.

Meses de turbulência A 18 de janeiro, Carla Castro – que perdeu as eleições internas para Rui Rocha com 33% dos votos – anunciou a sua saída do partido. Um desfecho quase previsível, depois de ter abandonado o cargo de vice-presidente da bancada em 2023, dizendo apenas que considera que aquela era “a altura certa, antes do início da campanha eleitoral e com as listas fechadas, evitando distorções ou distrações mediáticas”.

Dias antes tinha sido José Cardoso, fundador e ex-candidato à liderança da Iniciativa Liberal (IL), que obteve menos de 5% dos votos em janeiro de 2023, a anunciar a desfiliação do partido e manifestar indisponibilidade para apoiar a IL nas próximas eleições legislativas. Ao Nascer do SOL, disse ainda estar disponível para formar um novo partido e admitiu que, mesmo que dure “três, quatro ou cinco anos , mas desde que consiga falar com 1,5 milhões de pessoas e que passe valores liberais, já será positivo”.

Um caminho que já tinha sido seguido por Paulo Carmona, o candidato a vice-presidente da IL na lista derrotada encabeçada por Carla Castro. Ao i, oito meses depois, explica como vê o atual estado do partido e as sondagens das intenções de voto que têm sido dadas. “A IL acabou por estagnar. Era um projeto que podia ir muito mais além, mas que falhou na capacidade de agregar pessoas e tendências, até pelo contrário, desagregou em vez de agregar. E isso é um preço que se paga. Para mim, foi um sonho bonito, foi um projeto giro. Mas faz falta tendência liberal, como faltam outras tendências. No entanto, não creio que vá muito só pelo caminho das ideias, até porque depois falta equipa”.

E admite que, agora, olha para trás com alguma distância em relação ao que se passou, confessando que vê com tristeza as pessoas a saírem. “Quando alguém sai do partido é muito triste, porque significa que as pessoas perderam razão para estarem a lutar. Uma coisa é uma pessoa não concordar com a nova linha orientadora – pode não querer colaborar, pode fazer oposição e crítica interna e isso é válido – outra coisa, muito pior foi o que aconteceu, que é baixar os braços e pensar ‘não vale a pena lutar por este partido porque este partido não tem condições para mudar e para ser aquilo que achei que o partido era quando me juntei a ele’”, confessa, dando como exemplo a saída de fundadores, de autarcas, de cabeças de listas e de dirigentes de núcleos, nomeadamente Famalicão, Évora, Maia, Sintra, entre outros. “Aqueles que foram para a IL acreditavam num sonho porque, em 2019, o partido nem sequer tinha 1% e depois essas pessoas acabaram por sair”.

E, a estes, juntam-se muitos outros nomes.