Apurados todos os votos, as contas finais são claras, a escassa maioria que dá a vitória à Aliança Democrática é determinada pelos três deputados eleitos pelo círculo da Madeira.
Sem estes três deputados, a AD elegeria apenas 77 deputados, tendo o Partido Socialista acabado por eleger 78 deputados.
O facto foi esta semana notado ao Nascer do SOL, como um dado relevante para as contas sobre maiorias ou minorias que, a partir de agora, podem formar-se no complexo xadrez parlamentar saído das eleições de 10 de março.
Na hora de negociar o orçamento, Luís Montenegro tem mais uma sub-bancada com quem negociar: os três deputados da Madeira, que caso não vejam as suas reivindicações atendidas podem, como por diversas vezes já aconteceu no passado, votar contra o orçamento da seu próprio Governo.
«Entre a estabilidade nacional e os interesses da Madeira e do seu governo regional, não tenho nenhuma dúvida, estou no Parlamento para representar os interesses da região», afirmou um destes deputados ao nosso jornal.
Albuquerque e Montenegro com relações tensas
A gestão dos deputados da Madeira, que é sempre complexa, em particular quando o PSD assume funções governativas, pode agora ser ainda mais difícil.
Miguel Albuquerque (que esta quinta-feira foi novamente a votos em eleições internas para se reeleger como líder do PSD/Madeira, tendo saído vitorioso) não perdoa a falta de solidariedade sentida da parte de Luís Montenegro quando, no final de janeiro, se desencadeou a Operação Zarco, que acabou por conduzir à demissão de Albuquerque da presidência do governo regional e também da liderança do PSD/Madeira.
Depois das eleições diretas desta quinta-feira, que venceu ainda que por pequena margem, Albuquerque quer tornar caro o seu apoio ao Governo de Montenegro e a sua guarda avançada, para o fazer, vão ser precisamente os três deputados da Madeira que deram a vitória à AD. No caderno de encargos estão alterações à Constituição – como o fim do Representante da República na região autónoma –, aumento de compensações financeiras ao governo regional nas áreas da Saúde e da Educação e outras medidas fiscais que contemplem a especificidade da região.
Acordo com IL ainda não está descartado
O tema de um acordo alargado e de Governo foi assunto de uma primeira conversa entre Luís Montenegro e Rui Rocha poucos dias depois das eleições de 10 de março. Ao que sabe o Nascer do SOL, os dois líderes ficaram de ter uma conversa posterior, ainda antes de Montenegro fechar o elenco governativo que levará a Belém na próxima quinta-feira.
Em cima da mesa está a possibilidade de a IL_se juntar à solução governativa da AD. As contas que se fazem do lado da AD têm em vista dois objetivos: por um lado, garantir um maior apoio parlamentar que permita criar uma frente de direita moderada, capaz de enfrentar umas eventuais eleições antecipadas; e, no imediato, juntar os liberais à coligação para enfrentar as eleições europeias, onde se espera uma abstenção elevada que pode beneficiar ainda mais o Chega. A hipótese de que o partido de André Ventura possa vencer as eleições em junho é um cenário que Montenegro quer afastar em absoluto, até pelas consequências que isso traria a nível de política interna. O líder da AD_está convencido de que uma AD alargada que integre a IL pode mais facilmente afastar o risco de uma vitória do Chega.
Os prós e contras de uma entrada da IL no Governo, que a concretizar-se implica a entrada de dois ministros liberais, estão agora a ser avaliados pelos responsáveis da AD. Fonte bem informada garante ao Nascer do SOL que, apesar de o assunto ainda estar em aberto, muito provavelmente acabará por não se concretizar. «É um erro e é pensar mais em interesses partidários do que numa visão mais abrangente e de longo prazo», dizem-nos.
Do lado dos liberais, não há ainda decisões tomadas, mas o tema vai ser discutido no Conselho Nacional do próximo domingo, onde vai ser decidido se é desta vez que o partido desiste da prioridade em concorrer sózinho a eleições (ver pág. 10).
Uma decisão final sobre a entrada ou não da IL no Governo deverá ser tomada na próxima segunda-feira e será só depois dessa decisão que o primeiro-ministro indigitado fecha em definitivo o desenho do Executivo que no dia 28 vai levar a Marcelo Rebelo de Sousa. Será também só a partir de segunda-feira que Montenegro fará os convites em definitivo e esse é o trunfo que joga a seu favor para manter o sigilo. Neste momento, ninguém pode garantir que vai para o G overno nem que pasta vai ocupar.