O ex-candidato presidencial da Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan, é o rosto da apresentação do manifesto ‘Unidos pelo Liberalismo’ que se apresenta como «uma alternativa de liderança do partido», que conta com nomes como Miguel Ferreira da Silva, primeiro presidente do partido, Hugo Condessa – três nomes que estiveram juntos num grupo para a revisão dos estatutos – juntamente com conselheiros do partido, como Rui Malheiro e Rafael Corte Real.
Este grupo acusa a atual direção – liderada por Rui Rocha – de se «afastar dos princípios» liberais, considerando que a estratégia tem «consecutivamente falhado em atingir os objetivos declarados», abrindo a porta para Mayan assumir-se como candidato à liderança, tal como já foi avançado pelo Nascer do SOL, referindo que está disponível «para assumir todas as consequências».
As eleições para a liderança do partido estão marcadas para janeiro, já que de acordo com os estatutos da Iniciativa Liberal o ato eleitoral é feito de dois em dois anos.
Já quando questionado pelo nosso jornal sobre qual será a reação da atual direção em relação a este manifesto, o ex-candidato presidencial diz esperar «que lide bem com o pluralismo», sendo um partido liberal. Rui Rocha acabou por reagir, dizendo apenas: «Somos liberais e damos sempre as boas vindas à concorrência e é com esse espírito que encaro essa apresentação».
Este movimento assume-se como «um conjunto vivo, aberto e alargado de membros da Iniciativa Liberal que declaram o seu empenho em promover uma sociedade baseada nos princípios da liberdade, responsabilidade, transparência e mérito. Numa época marcada pela divisão e pela desilusão, esforçamo-nos por construir uma força política que defenda os valores Liberais e adote atitudes reformistas, provocando mudança positiva».
Em causa estão os resultados do último ato eleitoral, em que o que partido, apesar de ter mantido os oito deputados, perdeu em Lisboa – considerado o principal bastião da IL – mas ganhou em Aveiro.
Um resultado que é questionado pelo manifesto. «Consideramos que a estratégia desenvolvida pela atual direção do partido tem consecutivamente falhado em atingir os objetivos declarados, seja nas eleições Regionais nos Açores e na Madeira e nas eleições Legislativas, seja no cumprimento de metas e ações da sua própria Moção de Estratégia Global», lembrando que «aproximam-se mais dois momentos eleitorais para os quais queremos contribuir (novas eleições Regionais na Madeira e eleições Europeias), mas entendemos que, depois disso, enfrentamos um novo ciclo político com novos desafios, tais como a instabilidade governativa, o risco da incapacidade de fazer valer as ideias liberais, e o horizonte das eleições autárquicas, que não podem ser uma oportunidade perdida para a implantação do partido».
Rui Malheiro, conselheiro da IL, que também subscreveu o manifesto, alerta numa nota a que o Nascer do SOL teve acesso que o caminho que está a ser seguido pela atual comissão executiva não está «a ser o mais correto. Desde a elaboração das listas que tanta polémica e divisão interna criou, como a forma pouco atempada e profissional como o programa político foi elaborado que resultou, por exemplo, em propostas sem nenhuma base de sustentação, do qual até o PS se aproveitou. Passando por toda a forma como a campanha foi gerida a nível nacional num partido com a nossa dimensão e com os recursos disponíveis como nunca tivemos».
E acrescenta: «Contra várias opiniões, fui a favor do adiamento da convenção estatutária, por reconhecer o grau de exigência que estas eleições teriam. O partido tinha de estar completamente preparado para o que aí vinha e tínhamos de manter a onda liberal de crescimento para que o ideário liberal cada vez mais faça o seu caminho em Portugal. Todas as condições foram dadas à direção do partido para que um grande resultado ocorresse e a própria conjuntura externa ajudava, uma vez que se sentia que os eleitores se iam deslocar mais para o centro-direita, como se veio a verificar».
Recuperar militantes
é a palavra de ordem
Este movimento promete, por um lado, refundar o partido em valores e princípios liberais, por outro lado, apresentar uma liderança forte e carismática, verdadeiramente liberal e, ao mesmo tempo, defender mudanças estatutárias e regulamentares para garantir a tão desejada transparência e participação. «Um movimento positivo, competente, aberto, sem sectarismos e com espírito de mudança», refere o documento.
O grupo de militantes acredita que é possível «envolver e trazer novos e antigos quadros ao partido, incluindo independentes de reconhecido mérito e competência, na preparação das nossas ideias» assim como «estabelecer programas estruturados, com ideias necessariamente decompostas em aspiração/visão; racional/implementação; fundamentação, acrescentando que mais do que quantidade, pretendemos demonstrar a qualidade das nossas propostas».
Recorde-se que Carla Castro – que perdeu há um ano as eleições internas para Rui Rocha, obtendo 44% do votos – anunciou a saída do partido no início do ano, afirmando ter sido uma decisão «refletida e ponderada». Esta saída ocorreu depois de ter recusado, em dezembro, o convite para integrar a lista do partido às legislativas antecipadas de março entre o quinto e o sétimo lugar pelo círculo eleitoral de Lisboa. Também Pedro Martins, fundador do partido, referiu que se afastou «de um partido que se diz democrático, mas que manifesta sérias inconsistências na sua atuação». Quanto a Carla Castro diz apenas: «Espero que se sinta de novo atraída a voltar ao partido».