As surpresas das declarações do Presidente da República, conhecidas esta quarta-feira, dão razão a teoria de Cristiano Ronaldo dos golos e do ketchup. Quando Marcelo Rebelo de Sousa abriu a boca saiu tudo de uma vez.
Depois da notícia do corte de relações de Marcelo Rebelo de Sousa com o filho na sequência do caso das gémeas luso-brasileiras, e a forma irrefletida e blasé como falou do distanciamento familiar, chegam as descrições, sem qualquer filtro, do chefe de Estado sobre o líder do Governo do país.
“Ele é uma pessoa que vem do país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. É muito curioso, difícil de entender, precisamente por causa disso. Agora, é completamente independente, não influenciável e improvisador”, disse o Presidente da República sobre Luís Montenegro, perante uma plateia de, certamente, surpreendidos jornalistas estrangeiros a viver em Portugal, um deles repórter no Correio Braziliense que partilhou as declarações.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa não ficou por ali, não se coibindo de dizer que teria preferido ficar com António Costa como primeiro-ministro até 2026, porventura esquecendo-se que foi sua a decisão de aceitar a demissão do então líder do Governo socialista e a convocação de eleições antecipadas.
“Se fosse o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, se eu tivesse que optar, viveria feliz com aquele primeiro-ministro até 2026”, disse, não se coibindo de apresentar a sua comparação entre o atual primeiro-ministro e o seu antecessor, que “por ser oriental, era lento, gostava de informar, acompanhar e entregar”.
“António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado. Faz lembrar o antigo PSD, que era isso. O PS era Lisboa, a grande Lisboa, as áreas metropolitanas, e o PSD era o resto do país, sobretudo o Norte e o Centro-Norte”, adiantou.
Marcelo Rebelo de Sousa insistiu no caráter improvisador de Montenegro. “Todos os dias, tenho surpresas, porque ele é imaginativo e tem uma lógica de raciocínio como sendo de um país tradicional”, afirmou. “É estimulante, mas, para mim, dá muito trabalho”, acrescentou.
E nem poupou nos exemplos: “Ele (Montenegro) formou um governo de forma impensável. Só começou a convidar os ministros na manhã do dia de me entregar a lista, um risco. E foi tão sigiloso, que nenhum deles sabia do outro. Só foram se encontrar no dia da posse”.
Mais tarde, confrontado com as suas palavras, Marcelo Rebelo de Sousa manteve tudo o que disse, sem qualquer arrependimento e rejeitou que as suas apreciações tivessem sido depreciativas.
“Não, não, pelo contrário, foram muito explicativas, para jornalistas estrangeiros”.
Sobre Montenegro reiterou: “É um estilo que está a surpreender, vai surpreender. E por isso eu disse que há um lado imprevisível nele que tem a ver com essa imaginação, é verdade”, acrescentou.