Todos os cenários estão em aberto para o futuro político da Madeira a partir das eleições do próximo domingo. Apesar de as sondagens continuarem a dar por garantida a vitória dos sociais-democratas, a verdade é que esta pode ser uma vitória bem amarga para Miguel Albuquerque.
A maioria absoluta, que parecia estar ao virar da esquina nas eleições de setembro, agora é uma miragem. Nem as sondagens mais otimistas colocam esse cenário em cima da mesa, e o problema é que Albuquerque não tem parceiro com quem possa procurar essa maioria. Apesar de os dados, previsivelmente, não se alterarem muito na votação de dia 26 de maio, a verdade é que as circunstâncias pessoais de Miguel Albuquerque se alteraram profundamente desde setembro, e o líder do PSD/Madeira, apesar de reeleito depois da crise que deitou abaixo o governo da região autónoma, não consegue agora captar apoios de outras forças partidárias, justamente por estar envolvido num caso de alegada corrupção. André Ventura já fechou a porta a Albuquerque, embora numa resposta enviada esta quinta-feira ao nosso jornal admita poder juntar-se ao PSD desde que Miguel Albuquerque não esteja à frente do governo.
Juntos pelo Povo podem assegurar geringonça
As últimas sondagens internas dos partidos indicam que há uma única força partidária que pode vir a ter uma alteração significativa no número de votos, e essa força é o Juntos pelo Povo (JPP), um partido que nasceu na Madeira em 2015 e que se constitui como uma oposição clara ao poder social-democrata que governa a região desde o início da democracia.
Segundo as sondagens mais recentes, o JPP, que atualmente tem 5 deputados eleitos, poderá subir para 8 deputados e esta subida, a verificar-se, pode tornar possível, embora não certo, que Paulo Cafofo lidere uma geringonça na Madeira e leve pela primeira vez os socialistas ao governo regional.
O líder do PS/Madeira tem alimentado essa expectativa nos últimos dias de campanha e terá razão para isso. Os socialistas não deverão ter alterações significativas em relação à votação que obtiveram nas últimas eleições, consideradas desastrosas para o partido, em que elegeram apenas 11 deputados para a Assembleia Regional. As sondagens indicam que a mudança de líder, que entretanto se verificou, não produziu efeito e Cafofo não deverá conseguir fazer muito melhor do que Sérgio Gonçalves, que liderava o partido nas eleições de setembro. Ao que indicam os estudos, o PS_deverá eleger entre 11 e 12 deputados.
Como é que se transforma uma derrota em vitória? Isso pode acontecer se, contando com o crescimento do JPP, os restantes partidos, excluindo o Chega, conseguirem alcançar o número mágico de 24 deputados eleitos e se estes aceitarem juntar-se, ou viabilizar um governo liderado por Paulo Cafofo, em nome de uma alternância democrática inédita na região. A diferença pode estar em poucas dezenas de votos.
Governar à Montenegro: o pesadelo de Albuquerque
Apesar de ser possível uma mudança, o cenário mais provável continua a ser o de a direita ter uma maioria de deputados na Assembleia Regional, mas isso não chegar para conseguir uma maioria estável para governar.
Ao contrário do líder do seu partido, Miguel Albuquerque não coloca linhas vermelhas para constituir soluções políticas e a hipótese de se vir a entender com o Chega não é um problema. Mas o problema surge do lado de André Ventura. Apesar de as sondagens não ditarem um crescimento significativo do partido, conseguindo, no melhor dos cenários, eleger mais um deputado, passando de 4 para 5, Ventura prefere privilegiar a sua agenda anticorrupção a entrar no governo com Albuquerque.
O problema poderia ter solução se Albuquerque cedesse o lugar a outro nome do PSD, mas, segundo uma fonte dos sociais-democratas da Madeira, esse número dois não existe no momento. «Foi um dos maiores erros nos últimos meses, não se ter dado um sinal claro de quem poderia ser o sucessor de Albuquerque, e agora podemos estar num beco sem saída».
A nossa fonte não acredita que na lista de Miguel Albuquerque haja alguém preparado para assumir a liderança no caso hipotético de Albuquerque ceder o lugar para que o PSD pudesse ter um governo estável com o Chega. «Essa pessoa era o Pedro Calado, era ele que estava preparado para a sucessão, mas isso acabou com o processo», diz-nos, lamentando que depois da demissão de Calado não se tenha aproveitado o tempo para preparar e lançar um novo sucessor, que deveria integrar as listas às eleições de domingo.
Não havendo alternativa, Miguel Albuquerque pode ter mesmo que enfrentar o maior dos seus pesadelos. Governar sem maioria e com todo o parlamento regional, à esquerda e à direita, contra si. «Isso é o princípio do fim, o PSD nunca governou na Madeira sem estabilidade, a estabilidade para nós sempre foi uma peça essencial para podermos governar», dizem-nos várias vozes do PSD/Madeira que começam a preparar-se para, pela primeira vez em 49 anos, provarem o gosto amargo da vitória.
Depois dos Açores e do país, a Madeira pode ser o terceiro governo na corda bamba que Marcelo Rebelo de Sousa vai ter que gerir, no final do seu mandato presidencial.