Acordo na Madeira: CDS mantém presidência do parlamento

Pela primeira vez em 49 anos, o PSD vai ter de governar em minoria na Madeira, mas Albuquerque consegue sobreviver por falta de alternativa política e, de caminho, afasta o fantasma de Alberto João Jardim

O governo minoritário do PSD na Madeira já ditou um vencedor: o CDS, que, na sequência da crise que conduziu à queda do governo de coligação na região autónoma, rompeu o entendimento e concorreu sozinho a eleições, volta agora a assinar um acordo parlamentar com Miguel Albuquerque e a moeda de troca é a manutenção de José Manuel Rodrigues, número um da lista do CDS, como presidente da Assembleia Regional. O acordo permitiu ao ministro da República indigitar Albuquerque para formar governo, ignorando o anúncio de Paulo Cafôfo, líder do PS/Madeira, de que poderia formar governo, na sequència de um entendimento com o JPP, o que lhe daria mais deputados (20) do que os 19 eleitos pelo PSD. Com o entendimento parlamentar com os  centristas, os sociais-democratas superam a minoria de Cafôfo, apresentando-se com uma minoria de 21 deputados. Faltam três para a maioria absoluta, mas Albuquerque já conseguiu assegurar que os restantes partidos (IL, PAN e Chega) deixarão passar o programa de governo no parlamento regional.

O CDS mantém assim a sua influência na Região Autónoma, muito acima da representação parlamentar conseguida, mas os dois deputados que conseguiu eleger são os suficientes para  os centristas garantirem a estabilidade possível ao futuro governo.

Cunha e Silva afasta-se e Jardim perde para Albuquerque

João Cunha e Silva, próximo de Alberto João Jardim, ocupou o segundo lugar na lista do PSD, assegurando a calma interna no partido regional durante a campanha eleitoral e posicionando-se para ser a alternativa jardinista a Albuquerque em cenário de crise pós eleitoral. 

Cunha e Silva tinha como expetativa mínima ocupar o lugar de presidente da Assembleia Regional, mas menos de uma semana após as eleições passou a ser uma carta fora do baralho. 

Conhecidos os resultados, Alberto João Jardim apressou-se a dar uma entrevista à SIC para exigir a demissão de Albuquerque, considerando-o um obstáculo à manutenção do PSDno poder. O histórico presidente do Governo Regional da Madeira defendia a saída de Albuquerque, esperando que João Cunha e Silva assumisse o lugar, de forma a permitir um entendimento de governo com o Chega. As negociações de Miguel Albuquerque com o CDS, e o facto de o partido de André Ventura não ter conseguido subir o score eleitoral na região estragaram os planos a Alberto João Jardim. 

Com a manutenção de José Manuel Rodrigues à frente dos destinos do parlamento regional, João Cunha e Silva perdeu a esperança de ter qualquer papel na legislatura que agora se inicia. O número dois da lista do PSD não gostou do entendimento com os centristas e afastou-se, o Nascer do SOL sabe que Cunha e Silva não tem marcado presença nos principais encontros havidos já depois das eleições e nem sequer esteve na reunião da Comissão Política do partido onde foi apresentado e votado o acordo com o CDS. 

Ninguém quer eleições antecipadas

A situação política saída das eleições na Madeira deixou a instabilidade à vista, mas, ao contrário do que aconteceu nas eleições nacionais, nenhum partido da oposição, à exceção do partido regional Juntos Pelo Povo, pôde cantar vitória e esse é o maior seguro de vida para o novo governo de Miguel Albuquerque. 

Face aos resultados obtidos, socialistas e Chega não conseguiram capitalizar a crise política dos últimos meses e muito menos conseguem encontrar uma alternativa de poder. 

Os próximos tempos são de reflexão interna e, ao que disseram ao nosso jornal, provavelmente de mudança de lideranças. 

Cafôfo ainda não tirou consequências do facto de não ter conseguido melhorar o resultado desastroso que os socialistas tinham obtido nas eleições de setembro, passando de 19 para 11 deputados, mas ao que sabemos o pedido de assunção de responsabilidades está a chegar.

No Chega a decisão é de André Ventura, que também quererá mudar as peças depois de pela primeira vez não ter conseguido crescer numas eleições onde a corrupção era o prato forte.