Apresentação de contas volta a baralhar a Iniciativa Liberal

Prazo termina a 31 de maio e partido já deveria ter convocado Conselho Nacional. O Nascer do SOL sabe que foi apenas convocado para dia 16 mas para discutir resultado das eleições na Madeira e as europeias.

A Iniciativa Liberal tem até ao dia 31 de maio para apresentar contas, mas o partido liderado por Rui Rocha vai deixar passar esta data em branco. Para as contas serem aprovadas tem de ser convocado o Conselho Nacional, e há uma convocatória feita para o dia 16 de junho, em Coimbra, mas para discutir apenas três pontos: reflexão sobre os resultados das eleições regionais da Madeira, das eleições europeias e a apreciação do relatório anual de atividades do conselho de jurisdição.

Uma situação que inquieta alguns militantes ouvidos pelo nosso jornal. «A Iniciativa Liberal tem uma atitude até um pouco moralista em relação a sermos corretos, transparentes com o Estado e exigentes com este no que diz respeito a obrigações, então não há nenhuma razão para as contas não serem entregues dentro dos tempos regulares».

Com a data limite a aproximar-se, já não há tempo para convocar o Conselho Nacional para aprovar contas e, mesmo que houvesse, como os conselheiros não viram as contas, o mais certo é que fossem aprovadas apenas com os votos da comissão executiva. O Nascer do SOL contactou a Iniciativa Liberal para esclarecer esta situação, mas não obteve uma resposta até ao fecho da edição.

Fonte ouvida pelo nosso jornal lamenta estes atrasos e recorda que todos os anos há problemas nesta matéria com o partido. Com uma exceção: no primeiro ano, pois tendo o partido sido criado no final de novembro de 2017, nesse ano as contas foram a zero.

De acordo com a mesma fonte há duas razões para estes atrasos. Uma delas é o facto de chegarem em cima da hora ao conselho de fiscalização, que pode pedir um conjunto de informações, e esses dados ou não são entregues ou há uma demora na entrega dessa informação, o que resulta numa demora da resposta. Aliás, tal como o Nascer do SOL avançou, no ano passado houve um momento em que membros do conselho de fiscalização se recusaram a assinar. A outra causa poderá estar relacionada com a desorganização interna. A realização de várias eleições, considera a mesma fonte, não serve de desculpa.

Mais saídas

Rafael Corte Real, que integrou a Comissão Executiva de João Cotrim de Figueiredo e que no último Conselho Nacional da Iniciativa Liberal viveu momentos de tensão com Rodrigo Saraiva, agora nomeado vice-presidente da Assembleia da República, desfiliou-se do partido. Ao Nascer do SOL refere que esta decisão «resulta de um afastamento gradual e de uma descrença total em relação ao futuro da IL, das pessoas que a lideram e naquilo que o projeto se tornou».

Corte Real acredita ainda que o partido perdeu a oportunidade de crescer desde as últimas eleições. «Com o Chega a subir acredito que, tanto o PS como o PSD, têm muito mais capacidade de apelar ao voto útil e partidos como a IL, Livre e PAN terão muita dificuldade de sair desta realidade de passar de meia dúzia de deputados e de influenciar verdadeiramente as políticas públicas», salienta.

Questionado se a troca de acusações com os responsáveis do partido poderá ter influenciado a sua saída do partido – em janeiro chegou a questionar se «valeu a pena reduzir o partido a uma seita, composta de indefetíveis» – Rafael Corte Real responde apenas que se foi afastando à medida que foi conhecendo melhor o modelo de gestão do partido liderado por Rui Rocha. «Apercebi-me, na minha pele e na pele dos outros, das consequências desta forma de gerir o partido altamente centralizado em meia dúzia de pessoas, numa lógica de imposição em que tive algumas situações de crispação – e não fui o único. Cheguei a estar na comissão executiva de Cotrim Figueiredo e já, nessa altura, aquilo que entendi é que as pessoas que estão à frente querem um partido pequeno, de nicho, para que possam controlar. Gostam mais de ser servidos do que de servir e com isso fui-me afastando».

Para já, afirma que não tem intenção de fazer política partidária e afasta um regresso à IL ou a filiação em qualquer outro partido que tenha essa filosofia liberal, descartando qualquer possibilidade de aderir ao novo partido que está a ser criado pelo ex-liberal José Cardoso. E acrescenta: «Mais à frente, se fizer sentido, sim, e posso olhar para isso. Estive na JSD e já tinha feito algum percurso no PSD quando decidi sair em 2019, uma semana antes das europeias. Não descarto no futuro seja no PSD ou agora AD, seja noutra força política que vá ao encontro das minhas ideias: força política de centro-direita, moderado, reformista».

Tal como o Nascer do SOL avançou, José Cardoso anunciou a criação do Partido Liberal Social, estando atualmente no processo de recolha das 7.500 assinaturas. A comissão instaladora já referiu que «está consciente de que este é um processo de apresentação de uma nova solução política para Portugal e por isso um projeto de longo prazo», acrescentando que «acredita que o liberalismo social oferece respostas políticas aos problemas reais dos portugueses, e que o Partido Liberal Social irá ser inovador em múltiplos aspetos, trazendo novas soluções e novas formas de fazer política».