A mudança de estatutos da Iniciativa Liberal poderá estar comprometida. O tema vai estar em cima da mesa na Convenção Nacional do partido marcado para Santa Maria da Feira entre hoje e domingo, sendo que este é um dos temas em cima da mesa – esteve para ser discutido em dezembro do ano passado, mas foi adiado devido às eleições legislativas antecipadas para que o partido estivesse focado no novo ciclo eleitoral – a par do debate do programa político. O Nascer do SOL sabe que há cerca de mil inscritos, mas a ‘ameaça’ do bom tempo poderá afastar militantes do evento e comprometer o quorum necessário para aprovar as alterações. Se isso acontecer, os temas poderão nem sequer ser discutidos e, mesmo que o sejam, é precisoque haja quorum durante todo o encontro.
No debate estarão duas propostas de alteração. Uma delas foi avançada por Miguel Ferreira da Silva (o primeiro presidente da Iniciativa Liberal), Tiago Mayan (ex-candidato à Presidência da República e que entretanto avançou com Manifesto Unidos pelo Liberalismo), José Cardoso (que avançou na corrida à liderança da Iniciativa Liberal – e que já saiu da IL e anunciou a criação de um novo partido) e Hugo Condessa (ex-candidato a líder do núcleo do Porto). A outra é avançada pelo grupo de trabalho estatutário.
Tal como o Nascer do SOL já avançou, a revisão dos estatutos tem feito estalar o verniz junto de alguns membros do partido. O nosso jornal apurou que há militantes que consideram essenciais as alterações, já que as últimas mudanças – como avançou uma fonte da IL – têm vindo a «concentrar poder na Comissão Executiva e a retirar poder ou tornar inúteis outros órgãos, nomeadamente o Conselho Nacional e os núcleos territoriais».
A mesma fonte lamenta que, apesar deste processo ter começado no Conselho Nacional, a comissão de revisão estatutária foi criada através da fusão de duas propostas: uma proposta da Comissão Executiva e uma proposta de um grupo de membros da lista T, mas assente na lógica que haveria abertura, partilha e envolvimento com os membros, o que, no seu entender, está a ‘fugir’ desse princípio. «A ideia é que qualquer membro da Iniciativa liberal possa fazer uma revisão estatutária, chegar à convenção e apresentar uma proposta alternativa, mas a partir do momento em que foi criada esta comissão de revisão estatutária, o processo passou a ser desvirtuado e controlado». Mas lembra que a Comissão Executiva precisa de 2/3 para fazer qualquer tipo de alteração estatutária. «Há um conjunto de alterações estatutárias que a Comissão Executiva quer fazer, nomeadamente a ideia de que é preciso delegados para as convenções, o que significa que, se a proposta avançar, o membro individual vai deixar de ter qualquer tipo de palavra a dizer numa convenção», criticou, acrescentando que, «se isso avançar, há uma quantidade enorme de membros que sairá do partido».
O nosso jornal sabe que há risco de as duas propostas chumbarem, uma vez que há militantes que não se sentem representados por nenhuma. «Ambas as propostas não resolvem absolutamente nada de estrutural no partido. É uma oportunidade perdida gigantesca de ambos os lados. E é uma falta de visão estratégica sobre aquilo que o partido deve ser agora e no futuro», diz um conselheiro ouvido pelo Nascer do SOL. E acrescenta: «Vai ser interessante ver como é que isto tudo se resolve, até porque Tiago Mayan que avança com uma das proposta de mudança contou 400 pessoas que subscreveram o Manifesto Unidos pelo Liberalismo que pode ser visto como uma fação dentro da IL». Quanto ao resultado final, acredita que «nenhuma vai ter 2/3 de votos. A Comissão Executiva vai tentar mobilizar as pessoas para chumbar a do Mayan e só precisa de 228. Mas o contrário também é possível, até porque há pessoas que vão votar contra as alterações da Comissão Executiva porque estão descontes com a liderança do partido».
De acordo com os militantes ouvidos pelo nosso jornal, a solução seria fazer os estatutos do zero, apostando numa reforma «verdadeiramente estrutural» ao partido. «Diria que ambas as propostas são extremamente limitadas naquilo que impacta de forma estrutural o funcionamento do partido, tendo em conta a nova realidade e o partido que está representado em todos os parlamentos e quer vir a ter expressão local, nacional e europeia».
Outra das críticas feitas por vários militantes diz respeito à realização de sessões paralelas com tópicos não relacionados com a convenção, ou seja, com a discussão dos estatutos e do programa político. Um desses exemplos é a hipótese de construir o seu próprio outdoor. «Muitos temos a opinião de que isto é uma forma da comissão executiva distrair face ao essencial da Convenção. São dois documentos extremamente importantes, mas quem organizou esta Convenção, imagino que tenha sido a comissão executiva, acha mais importante estar a discutir outdoors do que ter mais sessões e fazer mais esclarecimentos, quer em relação ao programa politico, quer em relação aos estatutos. Estas sessões não se realizam ao mesmo tempo do que as sessões plenárias, ainda assim, é bizarro porque estão a encurtar o tempo do debate», salientam.