Foi no passado sábado, dia 13 de julho que o ex-ministro da Economia Pedro Siza Vieira reuniu um grupo de mais de uma centena de familiares e amigos para festejar os seus 60 anos. Foi na Carpintaria de S. Lázaro, em Lisboa. Entre os convidados, marcaram presença figuras de peso do PS como os ex-ministros Mariana Vieira da Silva, Eduardo Cabrita, João Pedro Matos-Fernandes ou Mário Centeno, o antigo vice-presidente da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, o secretário-geral adjunto, João Torres, os seus antigos secretários de Estado, como João Neves e Rita Marques, ou o antigo administrador da TAP Diogo Lacerda Machado, ex-melhor amigo de António Costa .
A festa prolongou-se noite dentro, com Pedro Siza Vieira a mandar baixar a música à meia-noite, para não incomodar a vizinhança, mas não deixou de mostrar o resultado das suas aulas de canto no Hot Club, interpretando algumas músicas como vocalista do grupo que tem como teclista o seu filho mais novo.
Diversão à parte, dizem socialistas mentores do movimento de apoio à candidatura de Siza Veira à Câmara de Lisboa que «aquilo mais parecia uma reunião da comissão de honra». Ao que o Nascer do SOL apurou, há um movimento crescente no interior do PS_para que Pedro Siza Vieira seja o candidato do PS_com a difícil tarefa de tentar retirar a autarquia a Carlos Moedas, desafio que o antigo ministro não rejeita. «Mais do que um bom candidato, sei que daria um bom presidente da Câmara», respondeu Siza a um dos seus amigos de longa data. O_mesmo amigo que confirmou que o ex-ministro tem recebido cada vez mais apoios a uma candidatura a Lisboa – ainda que muitos deles sejam eventualmente apoiantes, sim, de uma alternativa a Mariana Vieira da Silva ou Alexandra Leitão, os dois nomes apresentados como mais consensuais na direção nacional e na da concelhia do partido.
Desde que abandonou funções governativas, Siza Vieira voltou à sua atividade como advogado e tornou-se sócio de um dos mais importantes escritórios do país, a PLMJ. Mas a sua atividade profissional não o arredou das lides políticas, continuando a manter contactos dentro do PS e com presença regular nos meios de comunicação social como comentador.
Quem o conhece bem diz que a passagem pela política não foi apenas um episódio. Os mais próximos acreditam que Pedro Siza Vieira tem gosto, ambição e disponibilidade para aceitar novos desafios e a presidência da Câmara Municipal de Lisboa é o lugar ideal para um regresso à política ativa.
Um dos entusiastas desta solução é mesmo Manuel Salgado, o homem forte do município durante os mandatos de António Costa e de Fernando Medina. Contactado pelo nosso jornal, Manuel Salgado, durante dez anos vereador do urbanismo da capital, confirma ter estado na festa, mas garante que não ouviu conversas sobre uma possível candidatura a Lisboa. Mesmo assim, o antigo vereador diz que, «se for essa a escolha, seria uma ótima hipótese» e lembra que Siza Vieira já trabalhou na Cãmara nos tempos da presidência de Jorge Sampaio. Na opinião de Manuel Salgado,«o Pedro é uma pessoa com a cabeça muito bem arrumada, muito inteligente e conhece muito bem a cidade». Apesar de o próprio não o ter confirmado, as nossas fontes, presentes na festa de aniversário de Siza Vieira, garantem que Manuel Salgado será uma peça-chave numa futura candidatura de Siza Vieira. Um apoio de peso que poderá vir a dar grandes dores de cabeça ao atual autarca lisboeta, Carlos Moedas, tendo em conta o profundo conhecimento e contactos que Salgado continua a ter na Câmara da capital, e as críticas ao atual autarca que Salgado tornou públicas recentemente.
Direção pode ser obstáculo
Apesar de tudo parecer estar bem encaminhado para uma candidatura de Siza Vieira, a verdade é que a escolha depende das estruturas do partido e o antigo ministro poderá encontrar resistências no aparelho. O antigo ministro da Economia não é dos mais próximos do atual secretário-geral e Pedro Nuno Santos tem outros nomes na lista de possíveis candidatos.
A disponibilidade para uma candidatura pode não passar disso se não encontrar caminho para ser acolhida pelas estruturas e essa é uma questão que terá que ser avaliada com o auxílio de outros instrumentos, à cabeça, com estudos que permitam avaliar a popularidade de uma lista de nomes que possam vir a candidatar-se.
Fonte dos socialistas de Lisboa ouvida nos últimos dias pelo Nascer do SOL refere que um dos critérios para escolha de um bom candidato, capaz de se bater com o incumbente Carlos Moedas, é escolher alguém com visibilidade, de preferência que tenha feito parte do Governo. Entre os nomes mais falados para o duelo lisboeta estão: Mariana Vieira da Silva, Alexandra Leitão, Pedro Siza Vieira e Ana Mendes Godinho (este um nome que tem sido apontado a Sintra, para o lugar de Basílio Horta, tal como António Mendonça Mendes – que também foi dado como possível em Cascais, mas aqui tem ‘concorrência’ de Marcos Perestrelo, que quer suceder a Carlos Carreiras).
A partida de Marta Temido para Bruxelas não só afastou a ex-ministra da Saúde da corrida, como gerou mudanças na concelhia que deverão pender para a preferência do secretário-geral. O certo é que todos os nomes da lista deverão ser testados junto do eleitorado e terá vantagem quem conseguir reunir melhores scores.
Outra questão é a estratégia que vai ser seguida. Vai ou não haver uma coligação à esquerda para tentar derrubar Moedas? E quem está disponível para se juntar a essa coligação, uma vez que os comunistas já fizeram saber que estão fora? De acordo com a escolha que venha a ser feita, o programa eleitoral terá adaptações. «Quando o PS vai sózinho, o programa é mais à esquerda, quando vai em coligação é mais ao centro», diz-nos um militante socialista da capital.
Eleições internas já mexem
A decisão final dos socialistas tem como pano de fundo a ideia de que um bom candidato poderá recuperar a Câmara para os socialistas e se o conseguirem, conseguem uma vitória importante numas eleições em que dificilmente o PS_conseguirá um resultado semelhante ao de 2021, quando os socialistas conquistaram a liderança de 152 Câmaras municipais. Na altura, a pedra no sapato foi a derrota de Medina em Lisboa, facto que ofuscou a vitória socialista na contabilidade autárquica nacional, agora a reconquista da capital poderia bem ser o sinal de uma vitória, ainda que os socialistas já assumam que vão perder a liderança de alguns municípios.
O certo é que as concelhias e as federações socialistas têm o tema das autárquicas em cima da mesa e, em muitos pontos do país, a discussão e as escolhas fazem-se à luz do último embate interno.
José Luís Carneiro (que esta semana se mostrou disponível para uma candidatura autárquica, embora não tenha especificado qual seria a sua preferência) tem influência em muitas estruturas locais do partido, que, com a aproximação das eleições autárquicas, querem mostrar que mantêm peso e influência.
As movimentações mantêm-se discretas, por enquanto, mas já começam a marcar terreno, nalguns casos, tornando as escolhas de futuros candidatos praticamente inevitáveis. Será este o caso de Leiria, onde este fim de semana decorre na sede da Federação Distrital a apresentação do livro A democracia passa por aqui, com testemunhos das principais figuras do partido. A sessão é organizada pela presidente das mulheres socialistas, Cláudia Avelar, e muitos militantes do distrito encaram o evento como o lançamento de uma candidatura que não será consensual nas estruturas regionais, nem junto da direção do partido.
O caso de Leiria é apenas um exemplo do que se estará a passar um pouco por todo o território nacional. Os próximos tempos serão conturbados no interior do PS e um teste de resistência à liderança de Pedro Nuno Santos.
O calendário autárquico é, aliás, uma das principais razões pelas quais o líder socialista pondera viabilizar o Orçamento de 2025. Isso mesmo lhe tem sido exigido pelos autarcas socialistas.