O fosso entre os alunos tem vindo a aumentar e o elevador social está parado. A escola tem falhado na sua missão de atenuar as diferenças entre os alunos de famílias de meios socioeconómicos diferentes. Pior: muitas vezes agrava essas diferenças ou perpetua. Os números, as avaliações externas e o simples conhecimento empírico são as evidências que atestam esta realidade. Como dar a volta a isto é um enigma. Cada cabeça tem a sua sentença e a educação, assim como o futebol, tem milhões de treinadores de bancada sendo que cada um avalia pela sua perspetiva e experiência pessoal com certezas absolutas. Todos temos opinião sobre conteúdos, modelos pedagógicos, carreira docente, organização do ano letivo, horários, autonomia, etc. E poucas dúvidas.
O sistema de ensino está cheio de vícios, de procedimentos e de compromissos que não se destroem de um dia para o outro. Seria como tentar puxar um comboio com duas mãos. Resta elencar prioridades. E a prioridade já não é a mesma de há uns anos em que o objetivo era a universalização da educação e a escolaridade obrigatória por 12 anos. Já está: temos todas as crianças e jovens até aos 18 anos na escola. A questão agora é em que condições. Para que serve a escola?
A resposta está cheia de verbos por conjugar: ensinar, orientar, educar, capacitar. No fim do dia, dos 12 anos, pretende-se que tenham descoberto a sua vocação, adquirido competências, aprendido a aprender e que entrem na idade adulta com uma ideia, por mais vaga que seja, do projeto de vida que vão seguir.
Há uns que conseguem melhor e a um ritmo diferente de outros, uma vez que não somos todos iguais. Mas grande parte daqueles alunos que vão ficando para trás estão precocemente identificados, tipo carimbo na testa: vêm de famílias desfavorecidas, têm problemas de aprendizagem ou as famílias não elegem, por incapacidade ou opção, a educação dos filhos como uma das prioridades.
Na zona de risco estão os alunos imigrantes. Ou porque engrossam o grupo dos mais desfavorecidos ou porque a língua é uma barreira difícil de ultrapassar. São 140 mil, representam 14% e triplicaram entre 2019 e 2023. Segundo dados do Ministério da Educação, as escolas do ensino público têm, em média, alunos de mais de 19 nacionalidades, sendo que muitas chegam a ter alunos de mais de 40. 30% destes alunos não falam português (ou pelo menos são oriundos de países de língua portuguesa não materna). Pede-se quase o impossível aos professores e às escolas: que ensinem português, que atenuem as diferenças culturais e sociais combatendo a segregação e que consigam que estes alunos tenham bom desempenho escolar. Como? É outro enigma. Mas uma coisa é certa: se é a escola o elevador social é também a escola a única forma de integração destes alunos e famílias no nosso país. Combater a xenofobia e a integração e humanização da imigração começa aqui. Universalização da educação quer dizer hoje em dia outra coisa. E mais do que um desígnio é uma urgência nacional.