Conflito na Síria: Regime de Assad sobre ataque

As feridas da Guerra Civil Síria estão novamente abertas. Os rebeldes já controlam Alepo e Hama. Assad tenta resistir.

A guerra na Síria voltou a escalar. Num momento em que o Médio Oriente está a ferro e fogo com o conflito em Israel, que arrasta outros países da região, os grupos rebeldes sírios voltam a atacar o regime de Bashar al-Assad. As tensões reapareceram quando o cessar-fogo entre Israel e o Líbano foi atingido, e as feridas profundas deixadas pela guerra civil de 2011, que nunca sararam, voltam a ser abertas.

Entre 2010 e 2011, na sequência da Primavera Árabe afetou o Norte de África e o Médio Oriente, o regime da família Assad, que controla o país desde a década de 1970, fez uso do exército e da polícia secreta para reprimir brutalmente os levantamentos populares. Os protestos do povo sírio, que surgiram um pouco por toda a parte, principalmente nas grandes cidades de Alepo e Damasco, contaram com o apoio do Exército Livre da Síria, um grupo fundamentalista islâmico e opositor do regime. O grupo dedicou-se a combater o povo curdo no Norte da Síria, um aspeto importante já que é precisamente por isto que a Turquia – uma das peças mais importantes do tabuleiro do Médio Oriente – está ao lado dos rebeldes.

A importância estratégica da Síria

O conflito sírio é mais um dos focos de confronto em larga escala. Os Estados Unidos apoiam os rebeldes, enquanto que a Rússia e o Irão são os principais aliados de Bashar al-Assad, sem os quais não conseguiria continuar no poder. O caso da Turquia, que funciona quase como joker geopolítico, merece destaque. Um país que tem estado alinhado com o eixo Rússia-China-Irão-Coreia do Norte, principalmente no que ao conflito em Israel diz respeito, e que até aderiu este ano aos BRICS, apresenta-se neste conflito ao lado dos Estados Unidos puramente por interesse nacional. Uma espécie de realpolitik. Ainda assim, e mesmo que ambos apoiem os rebeldes, os Estados Unidos têm como objetivo também a proteção dos curdos.

A Síria representa um território estratégico tanto para a Rússia, que detém duas bases na costa ocidental síria, quanto para o Irão, já que lhe permite ter uma zona que permita o fluxo de armas para Gaza e no Líbano. A Rússia, que operou também com a ajuda do grupo Wagner, ajudou o regime de Assad na reconquista de Aleppo em 2016, quando se encontrava sob o controlo da Jabhat Al Nusra e do Exército Sírio Livre.

Nos dias que correm, o grupo que tenta derrubar o regime é o Tahrir al-Sham. Os fundamentalistas islâmicos, de vertente sunita, têm ligações ao ramo da Al-Qaeda que foi parte beligerante na última década de conflito, e voltaram a atacar em força as tropas de Assad.

Na quinta-feira, as forças da oposição conseguiram conquistar Hama, uma das cidades-chave, mesmo após Damasco ter desmentido inicialmente as alegações, noticiou a Al Jazeera. O exército de Bashar al-Assad confirmou que voltou a enviar forças para a cidade de modo a «preservar vidas civis e prevenir o combate urbano». Este novo golpe para o regime sírio vem na sequência da conquista de Aleppo. «Em pouco mais de uma semana, conseguiram tomar o controlo total da segunda maior cidade da Síria, Alepo, e agora da quarta maior cidade», disse Resul Serdar, correspondente da mais importante estação de notícias árabe.

Posto isto, a tensão no Médio Oriente agrava-se e o surgimento de novos focos de conflito teima em cessar. O historiador Niall Ferguson tem argumentado que estamos perante uma II Guerra Fria, e os acontecimentos a que se tem assistido, sempre com o envolvimento indireto das grandes potências, sustenta fortemente essa tese.

A guerra na Ucrânia escalou, mas há agora um compasso de espera até Donald Trump assumir a presidência, no Médio Oriente, ainda que com um cessar-fogo entre Israel e o Líbano, a solução para Gaza não está ainda à vista e agora, na Síria, a paz está cada vez mais longe.