Maus resultados na educação. Afinal, de quem é a responsabilidade?

Para o ex-ministro a queda dos alunos e dos adultos portugueses nos relatórios internacionais que avaliam as competencias é de Nuno Crato, da demografia, da ditadura e da pandemia.

João Costa, ex-ministro da Educação, não se surpreende com os maus resultados de Portugal nas avaliações internacionais. Os relatórios que foram publicados nos últimos dias sobre as competências dos alunos e dos adultos dos países da OCDE revelam que a situação de Portugal é grave, mas para o ex-ministro estes resultados eram «previsíveis» e nada têm a ver com as suas políticas nos últimos oito anos. Os adultos portugueses aparecem como aqueles que têm menos competências dos 31 países analisados, só à frente do Chile. Nos relatórios que avaliam as competências dos alunos, os vários relatórios têm vindo a confirmar a descida em todos os domínios desde 2015 com exceção das Ciências. As causas destas quedas, segundo o ex-ministro, são várias: pandemia, questões demográficas, ditadura e de Crato.

Em relação ao  Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) 2023, que avalia  as competências dos alunos do 8.º e 4.º ano, Portugal aparece a cair em todos os domínio desde 2015, revertendo nesse ano a tendência de melhoria dos anteriores relatórios. Em declarações ao Nascer do SOL, João Costa, explica a sua teoria: «Os anos de maior subida nos desempenhos a Matemática foram aqueles em que tivemos o Plano da Ação da Matemática, um plano muito forte de formação de professores, que vinha desde 2009 e em 2012 tudo isso foi extinto». E acrescenta: «Aquilo a que assistimos é a uma estagnação que decorre sobretudo de algum desinvestimento que houve durante vários anos na formação de professores. Estas coisas são difíceis de recuperar».

Os exames

Apesar de os alunos portugueses terem registado as maiores subidas no PISA entre 2006 e 2009, período em foram introduzidos os exames do 9.º ano, e a maior subida a Matemática no TIMSS, que avaliou o período entre 2011 e 2015, quando foram introduzidos os exames do 4º e 6º anos, o ex-ministro considera que o fim dos exames não foram a causa da descida. «A critica que é feita não tem grande cabimento porque aquilo que sabemos é que na generalidade dos países do mundo não existem exames nesses anos e há países que não têm exames em que os resultados são bons. Não se pode extrair nenhuma conclusão daí». Não é o que pensa o investigador em estatísticas de Educação, João Marôco. «Há o chamado efeito testagem, segundo o qual exames com consequência para os alunos, têm efeitos positivos na consolidação das aprendizagens e no envolvimento dos professores no cumprimento dos currículos»

Outra das causas para a queda nos rankings na Matemática para João Costa é a pandemia. «Há uma queda dos resultados de uma forma igual em todos os países, que é efeito da pandemia, o mesmo que foi encontrado no PISA. Mas reflete sobretudo a necessidade de dar continuidade ao que estava a ser feito». Quanto ao facto de essa descida já vir de antes da pandemia, e de Portugal ter caído mais do que a maioria dos países, o ex-ministro afirma que devem ser levados em conta «fatores demográficos». Ou seja, «uma redução muito grande do abandono escolar precoce, mais gente na escola, perfis sócio económicos diferentes e mais alunos estrangeiros. Tudo isto tem consequência nos resultados». Apesar de serem «coisas boas, porque significa que há menos gente a desistir, coloca novos desafios às escolas e tem um impacto global nos resultados».

No Programa Internacional para a Avaliação das Competências dos Adultos (PIAAC) em que Portugal participou pela primeira vez e que avalia as competências dos adultos entre os 16 e os 65 anos em literacia, numeracia e resolução de problemas, os adultos portugueses aparecem em penúltimo lugar. Apenas seguidos pelo Chile. Na literacia, 42% dos adultos obtiveram pontuação no Nível 1 ou abaixo, o que significa que, no máximo conseguem compreender textos curtos ou frases curtas e simples. Em numeracia, 40% obtiveram resultados iguais ou inferiores ao Nível 1. Ou seja, apenas são capazes de fazer cálculos básicos com números inteiros ou compreender o significado das casas decimais. Abaixo do Nível 1, conseguem apenas adicionar e subtrair números pequenos. Para João Costa, o PIAAC «tem algumas boas notícias». São, em primeiro lugar resultado de «um défice muito grande de qualificações na população adulta  porque ainda vivemos o impacto dos nossos anos de Ditadura». A boa notícia é que «quando olhamos para os níveis de proficiência, quanto mais velhos, pior é. Ou seja, vimos já um bom efeito dos níveis de qualificação. Quanto mais elevado é o nível de estudos, melhores são os resultados. Significa que vale a pena estudar e, sobretudo, continuar o investimento na educação de adultos». Mais uma vez, aponta o dedo a Nuno Crato que acabou com o programa Novas Oportunidades. «Nós recuperamos com o programa Qualifica», Medida, aparentemente, ainda sem efeito. No entanto, ressalva o ex-ministro que «Apesar dos maus resultados, o relatório mostra a eficácia do nosso sistema educativo. E aqui falo dos governos todos».