Presidenciais: Manobras de bastidores

As guerras de bastidores entre apoiantes das várias ‘protocandidaturas’ presidenciais estão a acelerar calendários. António José Seguro multiplica-se em iniciativas e criou o UPortugal. No PSD a prioridade é blindar a candidatura de Marques Mendes e não dar espaço ao surgimento de alternativas.

A cada semana que passa adensa-se a trama das eleições presidenciais. Por mais que os putativos candidatos tenham planos para só avançarem com anúncios formais lá mais para o verão, a verdade é que a lotaria de nomes a posicionarem-se semana após semana, começa a pressionar os calendários.

À exceção do almirante Gouveia e Melo, os mais próximos das outras candidaturas estão a aconselhar os respetivos candidatos a anunciarem as suas intenções mais cedo. E até lá, a estratégia é ocupar o espaço mediático com notícias que alimentem as candidaturas.

Seguro lança UPortugal

A notícia surge no final de uma semana em que as movimentações na cúpula do Partido Socialista foram no sentido de acelerar o anúncio de uma candidatura que trave as intenções do antigo secretário-geral, António José Seguro.

Enquanto no Largo do Rato se fazem pressões para que António Vitorino tome uma decisão sobre se vai ou não avançar com uma candidatura presidencial, António José Seguro decidiu dar mais um passo neste regresso relâmpago à política nacional. O ex-líder socialista formalizou a constituição de um movimento cívico a que deu o nome de UPortugal  que tem como objetivo «contribuir para o reforço da participação democrática dos cidadãos e para a promoção de uma sociedade livre, justa, plural, humanista, progressista, coesa, solidária, desenvolvida e ecologicamente sustentável», lê-se na ata de constituição, esta quarta-feira divulgada pelo jornal Público.

O próprio Seguro promete mais explicações sobre os objetivos da criação deste movimento para o seu programa semanal de comentário na CNN, que foi para o ar na quinta-feira, já depois do fecho desta edição. A iniciativa surge na altura em que as redes sociais começam também a formar grupos de apoio a uma candidatura do antigo secretário-geral socialista. Segundo uma fonte ligada a Seguro, nos últimos dias, sobretudo depois da entrevista de Augusto Santos Silva à RTP3, surgiram vários grupos de WhatsApp em defesa da sua candidatura.

«Muita gente não gostou de ouvir o Santos Silva a menorizar o Seguro e estes grupos começaram a multiplicar-se», contam ao Nascer do SOL. O socialista que presidiu à Assembleia da República durante o último Governo de António Costa, criticou as pretensões de António José Seguro em querer assumir uma candidatura apoiada pelo partido «porque se fica pelas banalidades e nós precisamos de mais do que banalidades para Presidente da República», afirmou. As declarações provocaram reação entre algumas figuras socialistas como Ascenso Simões ou João Soares. Ao que dizem ao nosso jornal, as reações críticas fizeram-se também sentir ao nível dos militantes anónimos «há vários grupos de whatsapp a circular em apoio de Seguro», a mesma fonte diz-nos que o número de participantes teve um incremento nas últimas horas, na sequência da notícia sobre a criação do movimento UPortugal. Sendo a maioria dos participantes anónimos, garantem-nos que há vários presidentes de concelhias do PS e que Carlos Zorrinho e João Soares também estão num destes grupos.

PSD aposta em apoios em cadeia a Marques Mendes

A estratégia foi montada no final do ano, a partir de janeiro deveriam começar a surgir anúncios de apoio à candidatura de Marques Mendes. Numa altura em que se multiplicam as protocandidaturas na área política do Partido Socialista, o PSD quer evitar contratempos e tomou a decisão de começar a sinalizar o apoio a um único candidato que encaixa na perfeição no perfil que Luís Montenegro definiu no último congresso do partido.

À semelhança do que acontece entre os socialistas, também entre os sociais-democratas há muita gente nos bastidores a manifestar desconforto com uma candidatura do antigo líder.

Por esta razão a direção de Luís Montenegro prefere não arriscar e desenhou um percurso até ao anúncio formal do apoio do PSD, assim que Marques Mendes anunciar que é candidato.

Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial foi o primeiro a manifestar o seu total apoio ao atual comentador da SIC. Castro Almeida é muito próximo de Marques Mendes e foi por isso a personalidade escolhida para dar o tiro de partida na estratégia delineada na São Caetano à Lapa. Foi numa entrevista ao Nascer do SOL no dia 3 de janeiro que o ministro desfez as dúvidas, «ele vai ser candidato».

Depois desta entrevista as declarações de apoio foram surgindo a um ritmo semanal, e, ao que sabemos, outras surgirão nas próximas semanas.

A estratégia de blindar a escolha social-democrata parece estar a resultar, e, mesmo os mais críticos, já deixaram de apostar no surgimento de uma candidatura alternativa.