Dados económicos positivos, mas ‘refletem o passado’

Dívida pública, excedente orçamental ou PIB, são muitos os dados que mostram que a economia portuguesa não vai mal. Mas há fatores e alertas a ter em conta

Para o Governo não há dúvidas: a revisão «acentuada» da dívida pública é uma «boa notícia» e também um «sinal de uma trajetória orçamental prudente e responsável». Isto porque o Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu o valor da dívida pública no ano passado, fixando-o num valor de 93,6% do produto interno bruto (PIB).

Mas este não foi o único dado apresentado pelo gabinete de estatística esta semana:  o setor das Administrações Públicas (AP) registou um excedente de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano e a economia portuguesa cresceu 2,1% em 2024, acima dos 1,9% anteriormente estimados.

O Governo considera todos estes valores positivos mas, sobre estes últimos, Henrique Tomé, analista da XTB, adianta que, ainda que sejam «dados positivos», «importa recordar que refletem o passado». O analista chama a atenção par o facto de que «a incerteza futura é elevada e não garante a mesma dinâmica nos próximos trimestres». Na sua opinião, é ainda «importante salientar que atravessamos um período em que é expectável que as principais economias mundiais abrandem o crescimento económico – um abrandamento que deverá também penalizar a economia portuguesa». 

Nesta semana, o Conselho das Finanças Públicas reviu em baixa o crescimento da economia para este ano. Para este ano, as previsões passaram de 2,2% para 1,9%. Em 2026, o crescimento da economia será de 1,8%, menos duas décimas do que o previsto em abril. Henrique Tomé explica que «um crescimento mais fraco pode traduzir-se em menor consumo, menor investimento e risco de mais desemprego». Neste cenário, acrescenta, «as empresas poderiam também adaptar-se e reduzir os seus custos de mão de obra. Ainda assim, trata-se de um cenário projetado, sujeito a revisões».

A estes dados económicos juntam-se ainda as previsões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que prevê que ainda que a economia mundial cresça este ano para 3,2%, deverá desacelerar nos anos seguintes. Portugal não passa totalmente ao lado. «Num cenário de arrefecimento europeu e global, Portugal arrisca uma desaceleração do crescimento, ainda que outras economias possam ser mais vulneráveis», diz Henrique Tomé, que finaliza: «A economia portuguesa, fortemente dependente do exterior, será penalizada em grande parte no turismo e nas exportações».