Um senador mordaz nos Negócios Estrangeiros

Em julho, antes da campanha eleitoral, Augusto Santos Silva falou ao SOL sobre a possibilidade de vir pela terceira vez a integrar um executivo: “Nunca digas nunca”, considerou.

Era um nome evidente num elenco governativo de António Costa e ei-lo a ser o escolhido para uma das pastas com maior peso institucional, os Negócios Estrangeiros – uma pasta adequada a este 'senador' do PS que nem sempre é o maior adepto da diplomacia política .

Já tinha representado o país no segundo Governo de António Guterres – estreou-se como Ministro da Educação e depois passou para a Cultura – e voltou a fazê-lo entre 2005 e 2001 com José Sócrates – primeiro nos Assuntos Parlamentares e mais tarde na Defesa.

Santos Silva é um dos homens politicamente mais experientes do PS. Em julho, na mesma conversa com o SOL, foi certeiro na sua avaliação da situação política quando afirmou não confiar a 100% numa vitória do seu partido. Explicou que tinha “fé” enquanto socialista, mas acreditar no sentido em que podia dar o triunfo do PS como garantido? “Não”, respondeu. E “ninguém espera que a direita vá ter uma derrota clamorosa”, acrescentou – demonstrando a argúcia que lhe é apontada como característica marcante.

Recentemente esteve no centro de uma polémica com a TVI, onde tinha uma rubrica semanal de comentário político. Fez críticas ao canal na sua página no Facebook e a direção cancelou a sua prestação. Afirmou-se alvo de censura, dizendo compreender que a estação pudesse ter terminado o contrato que os unia, mas frisando que não encontrava justificação para não estar no ar nas emissões que faltavam até ao final do prazo contratual.

Sempre mordaz e truculento, para os anais da política portuguesa ficou a frase que disse em 2009: “Eu cá gosto é de malhar na direita". E sim, fica bem claro que gosta, apesar de na altura os partidos à esquerda do PS se queixarem de ‘apanhar’ mais que o PSD e o CDS.

Na altura, este professor universitário do Porto, de 59 anos, era membro do núcleo político de Sócrates e usava os seus dotes oratórios sem parcimónia contra os adversários externos. Internamente, fazia uso do seu percurso político para acalmar tensões.

Recorde-se que na corrida eleitoral que levou Sócrates à liderança do PS, Augusto Santos Silva apoiava um dos seus adversários: Manuel Alegre.

Filiado no PS desde 1990, na juventude militava mais à esquerda. Em consonância com a sua história política, agora apoia Sampaio da Nóvoa para Belém.

teresa.oliveira@sol.pt