Biografia de Marcelo Rebelo de Sousa. Não dormia à noite e palrava até ser dia

Celinho, como seria chamado até aos 10 anos, foi um bebé bem-disposto, que não dormia à noite e palrava até ser dia, para desespero dos pais que, quando compraram um carro, chegavam a andar por Lisboa de madrugada num Carocha, a tentar adormecer a criança.

Sem dinheiro para criadas nem ama, Maria das Neves levava o filho para o trabalho, o que implicava por vezes visitas aos bairros mais pobres da capital. Apesar das dificuldades, Baltazar começava já então a dar-se com algumas das figuras mais influentes do regime e era presidente da Comissão Política Concelhia de Lisboa, quando Marcelo nasceu.

Aos seis anos, teve o seu primeiro encontro cara a cara com o poder. O pai tinha-o levado para o camarote do centro hípico da Quinta da Gandarinha, em Cascais, onde o General Craveiro Lopes cumprimentava as entidades oficiais.

Quando viu a criança, Craveiro Lopes não escondeu o desagrado. Depois de perguntar ao pai quem era e de Baltazar se ter apresentado como “o novo subsecretário de Estado da Educação”, o general atirou com dureza: “Senhor subsecretário de Estado, recorde uma coisa, filho de subsecretário de Estado não é subsecretário de Estado. Ora, o menino vai para outro sítio”.

Contrariado, mas sem fazer birra, Marcelo foi levado para outro camarote, onde assistiu à prova entre estranhos. Mas foi só no regresso a casa, no Cadillac preto que o pai usava para as deslocações oficiais, que percebeu quem era o homem vestido à civil que costumava ver de farda nas fotografias dos jornais. “Ah, então, este era o presidente da República”, disse ao pai.

Estava habituado a percorrer o país ao fim de semana, no carro do Ministério, acompanhando o pai nas visitas oficiais. E tinha aprendido a estar calado entre os adultos que discutiam política.

Durante seis meses, Marcelo chegou mesmo a ir com o pai para o Palácio de São Bento, enquanto este despachava diretamente com Salazar, por o ministro da pasta estar doente. O pequeno Celinho cumprimentava o Presidente do Conselho e sentava-se, depois, numa cadeira à porta da sala onde o pai ia a despacho.

Marcelo é educado com rigor e exigência. Baltazar exige aos filhos nada menos que serem os melhores. Maria das Neves acompanha de perto os estudos dos três pelo menos até ao terceiro ano do Liceu. Para estimular os bons resultados, os pais oferecem presentes como recompensa de notas altas. Tudo o que seja abaixo de Bom é considerado insuficiente pelos Rebelo de Sousa.

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