Passos diz que Costa “atirou pela janela aquilo que a muito custo os portugueses com sacrifícios fizeram”

A opção de Costa foi a de governar à esquerda e Passos Coelho considera que a fatura dessa escolha está agora à vista.

A decisão da Comissão Europeia sobre as sanções está hoje a marcar o debate do Estado da Nação, no Parlamento. Passos Coelho acabou, porém, por não fazer diretamente qualquer pergunta sobre a decisão de Bruxelas que anunciou hoje a abertura de um processo que pode levar à aplicação de sanções.

Passos não falou diretamente disso, mas António Costa insistiu em trazer o tema para a sua primeira resposta à oposição. 

O primeiro-ministro aproveitou para falar na decisão de Bruxelas, frisando o facto de o comunicado da Comissão deixar claro que a análise feita foi ao período entre 2013 e 2015, altura em que Passos Coelho era o responsável pelas contas do Estado.

Costa não deixou isso passar em branco, mesmo dizendo que se recusa a vir fazer o debate do Estado da Nação do passado. "O tempo não volta para trás", lançou o primeiro-ministro, atirando os números do investimento "privado que subiu relativamente ao anterior trimestre 13%" e que o que está a baixar é o investimento público.

Passos lembra que deu a mão a Costa para negociar uma maioria de bloco central

Passos Coelho aproveitou o arranque do debate do Estado da Nação para, sem se referir diretamente à decisão da Comissão, lembrar o "ponto de partida" que este Governo recebeu.

"O país estava a crescer e sobretudo a crescer de uma forma saudável", frisou o líder do PSD, que lembrou haver no final da legislatura em que foi primeiro-ministro "alguma recuperação da poupança", depois de se terem lançado "um conjunto de reformas importantes estruturais".

O líder da oposição frisou mesmo que estavam já ultrapassados os "tempos de emergência financeira" que teve de enfrentar quando chegou ao poder e que tinha chegado o momento de iniciar políticas com vista ao combate àsdesigualdades sociais, de iniciar a reforma da Segurança Social e de promover a natalidade.

Fazendo o filme dos últimos meses, Passos lembrou até que chegou a estar disponível para chegar a um entendimento com António Costa para concretizar uma maioria de bloco central.

A opção de Costa foi a de governar à esquerda e Passos Coelho considera que a fatura dessa escolha está agora à vista.

"O resultado é claro: ao contrário do que o senhor primeiro-ministro disse, o país está a andar para trás", conclui o social-democrata que considera que Costa "escolheu exacerbar os riscos de curto prazo para saldar as contas da maioria que o sustenta".

"Não vale a pena estar com desculpas esfarrapadas", afirmou, acusando António Costa de ter desbaratado a herança de boas contas públicas que a anterior maioria lhe deixou.

"Atirou pela janela aquilo que a muito custo os portugueses com sacrifícios fizeram para mostrar a sua marca de credibilidade e de determinação para vencer no futuro​", acusou Passos Coelho, num discurso que acabou com um aplauso de pé da bancada do PSD.

De resto, o debate tem sido quente, com pateadas, apartes e aplausos inflamados à esquerda e à direita. Não há dúvida de que a notícia vinda de Bruxelas abalou o hemiciclo.