Ícaro dos Santos

Ao longo dos tempos a questão TAP tem mobilizado as atenções e despertado emoções. Primeiro, sobre o que devia ser a transportadora. Uma empresa de bandeira? Uma empresa como outra qualquer?

E assim eis que, porventura no pior momento, estamos regressados a um must da controvérsia nacional.

Ao longo dos tempos a questão TAP tem mobilizado as atenções e despertado emoções.

Primeiro, sobre o que devia ser a transportadora. Uma empresa de bandeira?

Uma empresa como outra qualquer?

Pública, privada, ou nem por isso.

Discutia-se tudo isto porque o Estado tem assumido milhões na história da companhia, impondo condições para voos destinados às regiões autónomas ou pressionando ligações aos Palop ou aos países onde a diáspora o exige.

Admitindo que a tentativa de equilíbrio tenha sido procurada, o que nunca se encontrou foi forma de por fim aos défices acumulados.

Em tempos de cólera, o Estado tentou livrar-se da responsabilidade maior. Vendeu, depois de um conturbadíssimo processo, a maioria do capital.

Um novo Governo nascente entenderia recuperar o controle da maioria do capital social, sem impor outras condições.
Durante algum tempo as coisas foram correndo, até que os prejuízos anuais aumentaram.

Percebeu-se, então, que o novo ministro desconfiava dos parceiros privados.

Daí até à paralisação da frota em função da pandemia e ao desastre anunciado, como ocorreria noutras companhias de aviação, foi um fósforo.

Modestos, estranhamente, os privados sugeriram apoio do Estado para a contração de um empréstimo.

Foi o momento X do ministro.

Outro também quis voar e derreteu as asas.

Passou da desconfiança às palavras incendiárias surpreendendo o primeiro dos ministros e encetando uma troca indireta de declarações públicas.

O fim do ministro era readquirir o controle do Estado, ou nacionalizar de novo. O fim do primeiro-ministro era por água na fervura.

Quando tudo estava mais calmo, a TAP decide ser o bombeiro pirómano. Anuncia um absurdo plano de retoma da atividade.

Foi o tempo de regressar à discussão das discussões. Levanta-se o poder local com dois tipos de argumentos: um da desigualdade norte-sul, outro o da discordância das rotas da ligação ao exterior.

A TAP faz uma aterragem forçada.

Cheira-me que nos próximos capítulos o Estado acabe por engordar a sua responsabilidade a voltar a voar, a ir ao ar.

Em cima desta interessante querela, vem a notícia tão esperada.

Não exatamente a desejada. Entre um bilião e meio e setecentos e cinquenta milhões, entre bonds e fundo perdido e empréstimos, a diferença ainda é considerável.

Falta saber quase tudo o mais importante. Quais as condições de utilização, quais os novos impostos que financiarão o plano, quais as consequências para o endividamento, qual o tempo de aprovação destas medidas.

É o tempo de a oposição ao Governo assumir o seu papel.

Deve exigir mais, deve propor planos de atuação e investimento, deve liderar as ideias de recuperação da economia.

Ou seja, precisa de empurrar o Governo, estimulá-lo, desafiar a sua criatividade.

E denunciar a pequenez dos governos que não percebem, nem sequer num caso de tragédia assumida, o que significa ser solidário, querer a Europa na sua verdadeira dimensão.

Se a oposição entrar muda e sair calada, não existe.

No nosso sistema político é ao Presidente da República que cabe moderar e unir.