Caso Sousa Real. CAP garante que não há diferença relevante entre estufas e túneis

Ao Nascer do SOL, o secretário-geral da CAP dá vários exemplos de estufas que são usadas em Portugal e os seus benefícios, cuja produção beneficia de ‘um ambiente controlado’.

Por José Miguel Pires e Sónia Pinto Peres

O facto de Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, ser investido em duas empresas agrícolas que produziriam utilizando ferramentas de agricultura intensiva fez correr muita tinha nesta última semana. A notícia foi avançada na última edição do Nascer do SOL através de uma denúncia que acusava o uso de estufas nas empresas Berry Dream Lda. e Red Fields Lda., ambas contando ou tendo contado com participação de Sousa Real no seu capital social.

A porta-voz do PAN esclareceu, ao longo da semana, ter cedido as quotas relativamente à Berry Dream em 2019 (apesar de, na referida notícia do Nascer do SOL, ter dado a entender ao jornal que a cessão de quotas tinha ocorrido em 2013).

Já relativamente à Red Fields, Lda., Inês de Sousa Real diz estar em processo de cessão de quotas, não revelando, no entanto, ao jornal i a data em que este processo terá sido iniciado.

Mais, a deputada e porta-voz do PAN também se remeteu ao silêncio quando questionada sobre se as duas empresas em questão alguma vez receberam subsídios ou apoios da União Europeia.

Inês de Sousa Real admitiu ter sido sócia nestas empresas – e sócia-gerente na Berry Dream até 2013 – mas negou que praticassem agricultura intensiva. Para trás ficaram então as acusações de uso de embalagens de plástico, pesticidas e estufas, argumentando a porta-voz do PAN que as estruturas de plástico montadas sobre as produções agrícola eram, sim, ‘túneis’. Uma diferença, diz, relevante. «Os túneis, sendo abertos, permitem a entrada do ar, circulação de animais, respiração do solo e circulação das águas da chuva. Podemos dizer que coabitam harmoniosamente nos dois locais animais como toupeiras, cobras e outros repteis, coelhos, diferentes espécies de aves – algumas das quais nidificam inclusivamente no interior dos mesmos –, e de insetos. Ao passo que uma estufa fechada não é compatível com o aumento da biodiversidade», explicava a deputada ao jornal i.

Há, no entanto, quem discorde. Na mesma edição desse jornal, publicada na segunda-feira (15 de novembro), Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), não poupou nas críticas ao negócio de produção de frutos vermelhos por parte da líder do PAN, Inês Sousa Real, juntamente com o seu marido. Aliás, Mira foi perentório: «É óbvio que tem de se demitir», declarou, considerando ser «inaceitável que as pessoas do ponto de vista ideológico e político critiquem aquilo que depois do ponto de vista particular executam. Isso é enganar as pessoas. Se tiver o mínimo de vergonha, demite-se». 

Seguiu-se uma troca de fortes acusações entre Sousa Real – que, por sua vez, pediu a demissão de Mira em resposta – e o próprio secretário-geral da CAP.

A realidade é que, ao longo da semana, a porta-voz do PAN foi alvo de escrutínio sobre os seus empreendimentos agrícolas, criticando muitos o facto de a diferença entre túneis e estufas não ser relevante. Luís Mira, aliás, tomou esta como uma das suas principais bandeiras contra a deputada, argumentando que «isso é conversa de chacha», alegando que «túneis ou estufas são a mesma coisa».

Ao Nascer do SOL, a CAP deu vários exemplos de estufas que são usadas em Portugal, lembrando que «as culturas desenvolvidas em ambiente protegido, ou seja, em estufas, são cultivadas num ambiente controlado e totalmente protegido de fatores externos de distúrbio, nomeadamente chuvas, geadas e oscilações de temperatura abruptas». 

E de acordo com confederação as vantagens não ficam por aqui. «Permite controlar, ou pelo menos, suavizar o fator clima, possibilita cultivar plantas de outra forma não sobreviveriam a determinadas épocas do ano, ou teriam grandes quebras na produção o que teria como consequência a impossibilidade do consumidor, ter ao seu dispor um conjunto alargado de alimentos dos quais está habituado a dispor como é o caso de hortícolas, algumas frutas, flores, etc.». 

Cristina Rodrigues ao ataque

Uma das mais ruidosas críticas de Inês de Sousa Real foi a deputada não-inscrita Cristina Rodrigues, que deixou o PAN em 2020. Primeiro, no Twitter, a deputada partiu para o sarcasmo. «Vá malta, já chega. Deixem a Inês Sousa Robles em paz», brincou, em alusão às comparações feitas entre Sousa Real e o bloquista Ricardo Robles, que gerou polémica após por vender um prédio em Alfama pelo valor de 5,7 milhões de euros depois de, em 2014, o ter comprado à Segurança Social por menos de meio milhão.

E, na manhã de sexta-feira, a deputada aproveitou o seu espaço no programa Nunca Mais é Sábado, da SIC Notícias, para argumentar que as questões em torno de Sousa Real – onde se incluem «alegados apoios públicos e estar com cargos públicos e cargos nas empresas» – convém «esclarecer e ser vistas».

Cristina Rodrigues foi entretanto incluída numa queixa-crime do PAN por sabotagem informática, segundo o próprio partido anunciou, na sexta-feira, em comunicado enviado às redações.

Alegadamente, a deputada terá estado entre «desconhecidos» que, «pelo menos em 24 de Junho de 2020», acederam «ilegitimamente ao endereço eletrónico da Secretaria de Acção Jurídica do PAN e procedido a uma eliminação sistemática e maciça de correspondência».

A deputada nega qualquer acusação, e defende tratar-se de uma «forma de retaliação» pelos comentários feitos à polémica em torno da porta-voz do partido.