Casas: 2022, o que esperar?

Os responsáveis do setor ouvidos pelo Nascer do SOL acreditam numa estabilização de preços. Quanto às moratórias acreditam não vai trazer grandes problemas.

Resiliência e resistência são palavras que caracterizaram o setor do imobiliário nos últimos dois anos. Apesar da crise, o mercado não vergou e, por isso, para 2022 as perspetivas são boas. O Nascer do SOL falou com vários responsáveis do setor para tentar perceber o que esperam para este ano e se os preços das casas podem ou não subir. Para já, a opinião é unânime: é quase certo que não descem.

Mas lembram que é preciso ter em conta que «os preços são resultado da relação entre fluxos de procura e fluxos de oferta» e, nesse sentido, «as perspetivas apontam para que estes fluxos não se alterem com significado e consequentemente possamos assistir a uma continuidade do que se verificou em 2021», diz ao Nascer do SOL Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP).

Falamos do aumento no custo da construção, a falta de mão-de-obra e o aumento do custo dos materiais, bem como o custo dos terrenos «e ainda no tempo muitas vezes excessivo nos licenciamentos, agravado com as inúmeras taxas e impostos, poderá ter impacto nas soluções imobiliárias de novas edificações, no entanto convém ter presente que em 2021 estas representaram 12% do total de imóveis transacionados em Portugal».

Do lado da Remax, Beatriz Rubio, CEO da imobiliária, fala em «estabilização de preços» para este ano, apontando apenas para «subidas em algumas regiões e descidas em algumas outras, consoante a relação entre a oferta e a procura». No seu entender, «é expectável que zonas periféricas às grandes cidades possam registar ainda alguns aumentos (devido ao deslocamento da procura do centro para a periferia), assim como em zonas mistas (semiurbanas, com boas acessibilidades ao centro das cidades, em repercussão do aumento do teletrabalho e do aumento da procura deste tipo de habitação), mas naturalmente em alguns concelhos os preços poderão também descer, como de resto aconteceu em 2020 e em 2021».

Uma opinião que é partilhada por Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal ao falar também numa estabilização de preços. E deixa o mesmo alerta: «Nos municípios da Área Metropolitana de Lisboa e Área Metropolitana do Porto – excluindo as cidades de Lisboa e do Porto – e em algumas capitais de distrito há perspetiva de subida de preços».
Também para Rui Torgal não há dúvidas: «O mercado imobiliário em Portugal encontra-se bastante dinâmico, pois as famílias procuram mudar de casa e os investidores estrangeiros continuam a mostrar um forte interesse no setor e em investir nas boas oportunidades que surgem um pouco por todo o país», diz ao Nascer do SOL o CEO da ERA Portugal.

E explica o que está a acontecer neste momento: do lado da procura, «assistimos a famílias que têm novas necessidades habitacionais, algumas influenciadas pela chegada da pandemia e, por isso, tem vindo a aumentar gradualmente a procura por casa no nosso país». Famílias que procuram casas com mais espaço e áreas exteriores e, muitas vezes, fora dos centros das cidades. 

«Por outro lado, podemos assistir a um abrandamento na oferta resultante do contexto económico atual e agravado pela crise de materiais e de mão-de-obra. Neste sentido e perante este cenário, os preços poderão sofrer um ajuste», acrescenta. E da combinação de ambas as variáveis, defende que «podemos vir a assistir a um aumento de preços no mercado, mas acreditamos que seja a um ritmo moderado e que não afetará a estabilidade do setor nem das famílias portuguesas».

Moratórias não serão problema
Questionados sobre se as moratórias poderão ser um problema uma vez que já podem acontecer ações de despejo, os responsáveis afastam este cenário. Paulo Caiado lembra que este é um assunto muito falado, mas também houve tempo de preparação. E defende: «Vamos esperar para que não exista nenhum tipo de impacto com significado».
 Por seu turno, Beatriz Rubio lembra que «o fim das moratórias poderão acarretará a entrada de mais casas no mercado, mas o impacto global será reduzido». 

Já Ricardo Sousa é da opinião que nas moratórias, a exposição ao risco de despejo «é maior no segmento dos imóveis não residenciais. Nos imóveis residenciais, nesta fase, é expectável um muito baixo risco de despejos».
Sobre esse assunto, Rui Torgal também destaca o tempo de preparação e, por isso, defende «foram reunidas atempadamente todas as condições para que o fim das moratórias não tivesse um forte impacto nas famílias e que, portanto, o risco de incumprimento seja controlado e não leve a situações de extremo aperto financeiro».