Revendedores reforçam postos

Numa tentativa de amenizar o disparo dos preços que chega na segunda-feira, o Governo anunciou que vai manter os impostos suspensos e dar 20 euros este mês. Revendedores estão assustados e temem que o produto esgote.

Seria certo que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia traria consequências económicas para outros países e essas mesmas consequências já se refletem, para já, no preço dos combustíveis. Portugal vai contar, a partir deste segunda-feira, com subidas na ordem dos oito cêntimos por litro na gasolina e 14,5 cêntimos no gasóleo. 

E antes que os preços subam, os portugueses correm às bombas. Um pouco por todo o país as filas nos postos são intermináveis e, sabe o Nascer do SOL, alguns revendedores duplicaram os funcionários a abastecer para que o processo possa ser o menos demorado possível.

Vários postos de abastecimento relataram ao nosso jornal o receio de que o produto esgote, alertando ainda que há algumas marcas que oferecem descontos ao fim de semana, como é o caso da Repsol.

Entretanto, numa tentativa de amenizar esta escalada de preços que pode até vir a piorar, o Governo anunciou que vai aumentar para 20 euros o valor limite do AUTOvoucher durante o mês de março. A medida foi anunciada pelo ministro das Finanças, João Leão que explicou que perante a escalada de preços «sem precedentes», o Governo viu-se obrigado a «agir de imediato». Segundo o Ministro das Finanças, o reembolso deve chegar aos portugueses que aderirem à medida «na semana seguinte».

O governante lembrou também que Portugal foi dos poucos países da Europa que, além desta medida do AUTOvoucher, já reduziu o próprio Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP).

Mas esta não foi a única medida anunciada pelas Finanças. Junta-se a manutenção até 30 de junho  de devolução do ISPP,  o que representa um alívio de dois cêntimos no ISP da gasolina e de um cêntimo no gasóleo e também a manutenção até ao final de junho da suspensão da taxa de carbono.

Se o programa AUTOvoucher vai continuar, não se sabe. No entanto, o Ministério da Finanças já tinha dito ao Nascer do SOL que «a oportunidade da sua manutenção será avaliada mais à frente em função da evolução do quadro atual do preço dos combustíveis e das decisões que entretanto possam vir a ser tomadas».

Também o ministro do Ambiente anunciou que a ajuda para a compra de veículos elétricos vai passar para 10 milhões de euros este ano. Feitas as contas, o apoio individual passa de três mil para quatro mil euros por veículo.

É certo que os cofres do Estado engordam com estas subidas. O Estado passará a arrecadar mais de um euro em cada litro de gasolina, acordo com a nota da BA&N Research Unit, o que representa mais 3,1 milhões de euros diários. Já no caso do gasóleo vai representar «em média, quase 8,4 milhões de euros por dia entre ISP, a Contribuição para o Setor Rodoviário e a Taxa de Carbono, mas também com o IVA».

Gigantes abandonam

Durante esta semana, algumas empresas petrolíferas anunciaram a saída da Rússia. AShell, que tem um grande terminal de gás natural liquefeito no país, é uma delas. Mas não é a única. Também a BP abandonou a participação na petrolífera russa Rosneft e a Equinor está igualmente a planear sair da Rússia.

Mas quem pode sair a ganhar ou a perder com o bloqueio da compra de petróleo da Rússia? Nuno Mello, analista da corretora XTB lembra que a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo «mas é o segundo maior exportador mundial, sendo que metade da sua produção vai para a Europa, cerca de 2,5 milhões de barris por dia». Quer isto dizer, segundo o analista, que «na prática os países europeus são os mais afetados». Por outro lado, «os países que mais poderão beneficiar deste bloqueio são precisamente os restantes exportadores tais como os EUA, a Arábia Saudita e o Canadá, apenas para citar alguns».

Já Mário Martins, membro do conselho de administração ActivTrades garante que quem poderá ganhar com este bloqueio são «todos os países produtores de petróleo, uma vez que o preço do crude deverá manter-se elevado, podendo mesmo atingir os 150 dólares por barril no Brent».

Sobre este assunto, Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que «o petróleo russo não foi diretamente alvo das sanções à Rússia, pelo menos até agora» mas que, na verdade, «os EUA e a Europa têm-se esforçado para evitar penalizar os combustíveis fósseis da Rússia».

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