Sérgio Figueiredo. Renúncia gera polémica da Esquerda à Direita

A renúncia de Sérgio Figueiredo causou respostas variadas dos diferentes setores políticos.

Afinal, Sérgio Figueiredo, antigo diretor de informação da TVI, não vai ser consultor de Fernando Medina, ministro das Finanças. O também antigo administrador da EDP acabou por dar um passo atrás na nomeação para consultor de Medina, com quem, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa, já tinha feito negócios, e mesmo antes, na contratação de Medina para a estação de Queluz de Baixo.

“Para mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças”, escreve Sérgio Figueiredo num longo artigo de opinião publicado no Jornal de Negócios. “É lixado desistir. É a forma mais definitiva de dizermos que não vale a pena – e não vale a pena, porque não vale tudo”, continua, lamentando: “Ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações”.

Em resposta, Fernando Medina disse lamentar “profundamente a decisão anunciada por Sérgio Figueiredo”, apesar de compreender “muito bem as razões que a motivaram”, conforme se poder ler num comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças, que “lamenta não poder contar com o valioso contributo de Sérgio Figueiredo ao serviço do interesse público”.

Quem, no entanto, não se mostrou tão ‘desapontado’ com a renúncia de Figueiredo foi João Paulo Batalha, vice-presidente da Frente Cívica, que partiu para as redes sociais para comentar o assunto. “É um longo amontoado de patranhas, mas mesmo assim vale a pena ler o grito de renúncia de Sérgio Figueiredo. Ao melhor estilo “animal feroz” popularizado pelo amigo José Sócrates, de má memória”, disparou Batalha, continuando: “Os companheiros de Sócrates (Figueiredo e Medina, neste caso) acharam que a nova maioria absoluta do PS era o regresso dos velhos tempos. Enganaram-se. Em Portugal vale quase tudo, mas afinal não vale tudo. Uma diferença microscópica, mas que foi suficiente para estragar a festa”. Para concluir, João Paulo Batalha chamou “cobarde” ao ministro das Finanças, que continua “sem dar a cara”, e cujo comunicado foi, disse , “tontinho e vitimizador”.

Renúncia não apaga polémica Depois do anúncio da renúncia de Sérgio Figueiredo, no entanto, as críticas mantiveram o mesmo tom.

“Se, como diz o ministro das Finanças, a função prevista para este contrato, é tão fundamental e essencial, porque é que o ministro esteve em silêncio todos estes dias? Porque é que nunca veio em defesa daquele que agora renunciou a poder ser parte deste contrato?”, começou por questionar Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, em conferência de imprensa.

Medina terá de esclarecer “se a função se mantém, quem vai nomear, com que contrato, e em que termos”, pediu ainda o social-democrata, disparando: “António Costa tem também de dar esclarecimentos porque se o que está em causa é um contrato cuja função é avaliar, monitorizar todas as políticas públicas, então o primeiro-ministro teria de estar ao corrente deste assunto”. 

IL e BE não esquecem A Iniciativa Liberal, por sua vez, considerou que “a desistência de Sérgio Figueiredo não apaga a tentativa e desejo de Fernando Medina em devolver a contratação passada”. “Não apaga a forma despudorada como o PS usa e abusa do dinheiro dos contribuintes. Não apaga a forma como o PS recorre aos ajustes diretos para contornar o escrutínio”, pode-se ler numa nota da Iniciativa Liberal, que diz que a renúncia “não apaga a forma como o PS desconsidera os serviços da administração pública”, nem “apaga que o primeiro-ministro tenha afirmado que o assunto estava morto e enterrado”.

Na mesma onda esteve Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, que, através do Twitter, considerou que a renúncia de Sérgio Figueiredo é “o desfecho inevitável”. “Mostra como é possível travar os caprichos da maioria absoluta com a mobilização da opinião pública”, diz o líder parlamentar bloquista na rede social, onde argumenta que esta renúncia “não absolve [o ministro das Finanças, Fernando] Medina de um processo reprovável, nem [o primeiro-ministro, António] Costa de uma desresponsabilização inaceitável”.

Também o PAN, pela voz da sua líder, Inês Sousa Real, considerou que “nem Fernando Medina deveria ter nomeado Sérgio Figueiredo, nem Sérgio Figueiredo deveria ter aceitado”, e que “a gestão dos dinheiros públicos exige escrutínio e responsabilidade” e “o Governo não está isento de se justificar”.

Comunistas chutam para canto A reagir à renúncia de Sérgio Figueiredo, João Dias Coelho, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, foi breve: “Ele lá saberá”.

Durante uma conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, o dirigente comunista considerou tratar-se de um “desfecho natural face a uma decisão baseada em critérios discutíveis, pela forma e pelo conteúdo”.

Explicações por dar Quem não se deu por satisfeito foi, por outro lado, o Chega de André Ventura, que considerou haver “explicações que continuam por dar”.

A direção nacional do Chega refere, em comunicado, que “recebeu sem surpresa a notícia da renúncia de Sérgio Figueiredo como consultor do Ministério das Finanças”, considerando que “a pressão pública e o sentimento de imoralidade do seu vencimento, perante os restantes funcionários públicos, mesmo do Ministério das Finanças, assim o ditavam”.

Ainda assim, diz o partido, há “explicações que continuam por dar”, repetindo “o pedido que fez à Inspeção-Geral das Finanças para uma investigação aos pagamentos efetuados entre Medina e Figueiredo e se em algum momento houve alguma espécie de troca de favores”.