PSD ‘furioso’ com posições de Marcelo

Insistência do PR na ‘tese’ da inexistência de uma alternativa irrita sociais-democratas, que lhe exigem mais ‘recato e ponderação’.

O líder do PSD não gostou de ouvir o Presidente da República repetir que a oposição ainda não constitui uma alternativa política suficiente para antecipar eleições. E à chegada da tomada de posse dos órgãos sociais da CIP, no Centro de Congressos de Lisboa, na quarta-feira, Luís Montenegro aproveitou a ocasião para contrariar Marcelo Rebelo de Sousa ao dizer que está «pronto hoje» para ser primeiro-ministro.

A posição choca diretamente  com a perspetiva do chefe de Estado que, na segunda-feira, afirmou que não está «no bolso da oposição, nem no bolso do Governo», reiterando não ver uma alternativa à direita. Esse é um dos pontos que Marcelo tem vindo a apontar para afastar um cenário de dissolução do Parlamento, a par da conjuntura de crise económica e a necessidade de não interromper a execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência. O tema deverá estar em cima da mesa no encontro de terça-feira, dia em que vai receber o presidente do PSD no palácio de Belém.

Sem entrar em confronto e parafraseando Marcelo, o líder social-democrata também deixou um recado:  «O PSD e o seu líder não estão no bolso de ninguém».

O mal-estar que se vai sentido no PSD em relação ao Presidente vem em crescendo desde as polémicas declarações sobre os abusos na Igreja, quando dois destacados dirigentes do partido – Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz – se juntaram ao coro de críticas a Marcelo. A esta lista juntaram-se as pressões pouco discretas de Belém para que Luís Montenegro se demarque do partido de André Ventura, a fixação no regresso de Pedro Passos Coelho, e as constantes investidas sobre a inexistência de uma alternativa ao PS.

Mas o desconforto do PSD perante nova tirada de Marcelo Rebelo de Sousa não se circunscreve ao núcleo mais próximo da direção. Desta vez, as irritações dos sociais-democratas ficaram a nu numa publicação de Cristóvão Norte. 

«São lastimáveis as declarações do Presidente da República a respeito da oposição», escreveu esta quinta-feira nas redes sociais, acusando Marcelo de estar a «usar a sua influência  junto da opinião pública para fazer vingar a tese de que não há alternativa».

Em declarações ao Nascer do SOL, o líder da distrital social democrata de Faro reitera que as declarações do Presidente da República que visam em particular o PSD são «completamente desapropriadas». E vai mais longe na concretização das críticas, atirando a Marcelo  por «ocupar o espaço político da oposição», «censurar as posições que a oposição toma», mas também por não raras vezes «dar cobertura ao Governo» ou ainda «por vir falar sobre a TAP completamente a destempo». 

«O Presidente da República com declarações dessa natureza não está a prestar um bom serviço à democracia», considera Cristóvão Norte, acrescentando que não cabe a Marcelo «avaliar o desempenho da oposição» e «ser omnipresente no espaço público».

«Não podemos ter um Governo mau, uma oposição má e um Presidente da República extraordinário. Parece que a única coisa que se salva da democracia portuguesa é o Presidente da República», ironiza o dirigente da estrutura social-democrata algarvia, exigindo «mais recato, mais ponderação e mais sensatez» de Marcelo.

J.M.C.