Nascido em Moscovo, Wladimir Kaminer escapou à paranoia soviética, mas trouxe o seu sentido de escala e a ironia das gerações desgastadas pelos grandes mitos trágicos, e daí que a derrocada do Ocidente não deixe de lhe saber a um pequeno-almoço abundante com vista sobre o tal apocalipse
A partir do testemunho de José Cardoso Pires das semanas e meses que se seguiram ao 25 de Abril, recuperamos a imagem de cidades construídas em torno da censura e dos seus tantos obstáculos e proibições, cidades em cujos muros subitamente floresciam sinais de um diálogo livre e aberto.
O autor de bestsellers que se inscrevem num pós-modernismo às três pancadas, como “A Trilogia de Nova Iorque”, “Palácio da Lua” e “O Livro das Ilusões”, morreu na terça-feira, aos 77 anos, vítima de cancro.
A partir dos instrumentos de análise de Jean Baudrillard, que apontou para uma tentação de submeter o século XX a um processo de revisionismo e desinformação imparável, procuramos compreender como as comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos procuram esvaziá-la de sentido, e como apenas exprimem uma forma de arrependimento.
“Toda a minha vida não fiz outra coisa senão arranjar problemas”, escreveu certa vez o mais blasfemo dos autores austríacos. “Não sou o tipo de pessoa que deixa os outros em paz”. Esta nota deve vir à cabeça para que ninguém vá ao engano ao abrir alguma das páginas desse escândalo contínuo que foi a…
1947-2024. A ex-estrela de futebol americano morreu vítima de cancro.
Em Otimizados e Desencontrados, este autor italiano explora o quadro de devastação íntima e cultural que a propagação do digital e os hábitos da relação com o ecossistema tecnológico e mediático têm provocado, ao ponto de transformarem a própria natureza humana.
1930-2024. Um dos mais cultos, generosos e combativos ensaístas.
Morreu esta terça-feira, aos 93 anos, um dos mais generosos, cultos e combativos ensaístas portugueses.
A morte de Júdice a 17 de Março por agora só gerou o palavreado encomiástico próprio das brochuras mortuárias, mas seria importante recuar meio século e ter em conta como a sua estreia trouxe um ímpeto de renovação da poesia que pela última vez correspondeu a essa “primavera magnífica” que se espera da juventude.
O célebre coreógrafo japonês Ushio Amagatsu morreu aos 74 anos, mas o movimento que ele imprimiu aos corpos e a sua noção da capacidade da dança de ligar e dar sentido à vida, prosseguirá.
1934-2024. Morreu aos 90 anos de uma espécie de maldição familiar
A mais recente recolha de poemas de Quintais permite-nos traçar um retrato dos modos de abdicação e sujeição a que se abandonou muita da actual poesia portuguesa, julgando sinalizar o fim do mundo, quando era o mundo, na verdade, que parecia desertar das suas representações.
Morreu aos 85 anos o escultor que resgatou a escala e o tempo que obrigam o homem a existir em relação com os deuses.
Por muitos considerado o grande romance da ficção científica, quase seis décadas depois da sua publicação Dune continua a vender milhões de exemplares. Explorando questões existenciais e urgentes, do messianismo à ecologia, a sua influência foi tal que sem ele não teria havido A Guerra das Estrelas.
Com 22 anos, e depois de se tornar a pessoa mais jovem a ganhar por duas vezes um Óscar, Billie Eilish continua a recusar-se a compor uma figura de cera perfilando-se de acordo com a galeria da eternidade, e lança-se uma e outra vez no confronto com a impostura das narrativas de sucesso contemporâneas.
O poeta algarvio morreu este domingo, aos 74 anos, vítima de cancro. Depois de uma fulgurante estreia, e de ter sido central numa transição decisiva na poesia portuguesa, que soube arejar através da respiração da prosa, Júdice acabou escravizado enquanto escultor da sua própria estátua.