O momento de Passos

“Há momentos que definem as pessoas. Esse foi um desses momentos”. Sofia Aureliano não teve dúvidas de que os três dias em que Passos Coelho enfrentou a iminente demissão de Paulo Portas são essenciais para “perceber a sua personalidade”. Foi por isso, justifica a autora de Somos o que escolhemos ser, que o episódio foi…

“É o capítulo mais curto do livro”, aponta Sofia Aureliano, que se diz surpreendida com a polémica causada pela revelação de que Portas comunicou a sua demissão por mensagem escrita, deixando depois de atender as chamadas de Passos. “O que está escrito não é que a intenção de demissão foi comunicada por sms. Claro que depois houve uma carta. E isso está no livro”, corrige a autora que acha que não tem nada a alterar ao que escreveu, mesmo que Paulo Portas tenha considerado “um lapso” a versão da biografia.

O momento mais importante da carreira de Passos Coelho, que mostrou a sua firmeza e capacidade política, foi também o mais complicado de Paulo Portas. Mas isso não fez a biógrafa interessar-se pela visão do líder centrista, por achar que o que lhe interessava era dar “a versão” do biografado, que considera não ter sido ainda desmentida.

Passos não leu…

“Não vi ninguém desmentir que houve um sms e que Portas não atendeu as chamadas a seguir”, frisa. De resto, está convencida de que o que escreveu “são factos”.

À autora interessam mais os capítulos que mostram Passos a fazer “papos de anjo” para oferecer aos vizinhos ou a forma como conheceu a mulher, Laura Ferreira. “São os aspectos pessoais que me interessam mais como leitora”, diz, sabendo que Passos não partilhará da mesma opinião. “Provavelmente, gostaria que o livro tivesse menos vida pessoal”.

Sofia Aureliano, algumas vezes apresentada como “assessora de Passos”, sublinha ser apenas assessora do grupo parlamentar do PSD desde Julho de 2011. “Foi só depois de ir trabalhar para o partido que conheci o primeiro-ministro”, conta.

Sofia Aureliano assegura, de resto, ter sido sua a ideia de escrever sobre o primeiro-ministro. “Sempre gostei de biografias”, justifica, dizendo ter ficado “muito impressionada” com a personalidade do líder social-democrata. Tão impressionada que decidiu propor a ideia do livro a Passos: “Não o faria sem o seu consentimento”. O ‘sim’ não foi imediato, mas acabou por chegar com o acordo de que Passos não leria o livro antes de publicado.

“Não leu um único excerto do livro, não teve sequer acesso às entrevistas que ele próprio me deu”, afiança, recusando a ideia de que Passos tenha tido qualquer interferência no conteúdo.

… mas autografou exemplares

A Alêtheia – da social-democrata Zita Seabra – foi escolhida por conhecer a editora “dos tempos em que fazia a comunicação da Bertrand” e pela especialização em biografias. Sofia Aureliano confessa que ainda não falou com Passos sobre o livro, mas admite que possa ter “ficado irritado” com a polémica que causou. E não está à espera de elogios: “As palmadinhas nas costas não fazem o género dele”.

Publicamente, Passos Coelho tem evitado o assunto. Mas na quarta-feira à noite, na festa dos 41 anos do PSD na Aula Magna, houve mesmo uma banca onde o livro esteve à venda. E Passos não se escusou a assinar as cópias que os militantes foram comprando.

margarida.davim@sol.pt