Depois de Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política do PCP, ter dito que o partido se manterá na oposição em tudo o que “não corresponda” ao interesse dos trabalhadores, a edição do jornal Avante! desta semana sublinha que a “convergência para uma política que responda às aspirações dos trabalhadores e do povo não é fácil”. O editorial lembra até que “o programa do PS não responde à aspiração da rutura com a política de direita” que o PCP defende.
Mas a mesma fonte da direção socialista assegura que as reuniões técnicas com os comunistas “estão a correr muito bem, com boa fé e de forma genuína e verdadeira”. Do lado bloquista, a porta-voz, Catarina Martins, anunciou que “o PS mostrou disponibilidade para aceitar as condições do BE”.
No PS, a expectativa é que a solução encontrada – quer seja um governo com PS, BE e PCP ou um governo PS com apoio parlamentar da extrema-esquerda (o mais provável destes cenários) – possa ter o aval do Presidente da República, apostando que a exigência máxima do apoio maioritário está a ser cumprida.
Ao longo da semana António Costa tentou sacudir a pressão dos mercados e da Europa em entrevistas a órgãos de comunicação internacionais – Reuters, France-Presse e Financial Times –, uma reunião com embaixadores da zona euro e ainda com o presidente da Bolsa. Foi já em Bruxelas que obteve um apoio precioso. Martin Schulz, o presidente do Eurogrupo, considerou “absolutamente normal” que o líder do PS “tente encontrar aliados à esquerda”, admitindo que gostaria de ver o “amigo António Costa” como primeiro-ministro. Declarações que ganham importância tendo em conta que Schulz foi duro nas críticas ao governo Syriza, na Grécia.
Documento do PS sem resposta possível
Enquanto à esquerda as negociações avançam, Passos Coelho pôs um ponto final nos encontros com Costa. “Não tenciono ter mais nenhuma reunião com o PS”, declarou o líder do PSD na quarta-feira, queixando-se de não ter recebido ainda qualquer proposta dos socialista.
Entretanto, o documento que foi enviado pelos socialistas à ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, solicitando “informação necessária à avaliação do programa da coligação Portugal à Frente”, foi encarado pelas direções do PSD e do CDS como mais um sinal de que António Costa não está mesmo interessado em chegar a qualquer acordo.
“Não tem resposta possível”, rematou ao SOL um alto dirigente social-democrata. “A perceção que se tem é que o PS está a usar todos os pretextos para desconversar”, afirma no mesmo sentido em entrevista ao SOL o ministro Economia, António Pires de Lima.