Dois textos de análise no Financial Times e uma resposta desastrada de Mário Centeno à CNBC foram suficientes para agitar o fantasma de um segundo resgate. No PSD, evita-se a palavra, mas admite-se que os dados económicos mostram que a fórmula de António Costa é a receita para o desastre. No PS, defende-se que não há motivo para alarme e que os números da execução orçamental são suficientes para não acreditar em cenários catastróficos.
É difícil entender quem terá razão, mas a presidente do Conselho de Finanças Públicas veio ajudar a tese de que o caminho escolhido pelo Governo está a falhar. Teodora Cardoso assegurou que, pelas contas do órgão que dirige, o défice ficará nos 2,6% – acima dos 2,5% acordados com Bruxelas. E nem sequer afastou a ideia de que o país pode voltar a precisar de ajuda externa. «O risco de resgate nunca está afastado», disse a economista.
Mas é precisamente a mensagem oposta que António Costa quer passar. «Não tem cabimento falar em qualquer tipo de resgate», assegurou o primeiro-ministro, com uma indireta lançada a pensar em Pedro Passos Coelho. «Quem anda à procura de querer encontrar o diabo mais vale dedicar-se à caça de Pokémons», ironizou, numa alusão a uma frase que Passos Coelho terá dito numa reunião do grupo parlamentar do PSD antes das férias de verão, aconselhando os parlamentares a aproveitarem o descanso porque «em setembro vai ser o diabo».
Passos, que quer desvalorizar a importância política desta frase, mantém a ideia de que o rumo escolhido por Costa vai dar mau resultado, mas não quer usar a palavra ‘resgate’. «Nunca falei em segundo resgate», sublinhava, esta semana ao i, depois de um discurso no qual afirmou que só poderá vir aí «um mal maior» por ato deliberado do Governo.
«Desta vez, se acontecer qualquer coisa desse tipo, só por consequência de ato deliberado. Quem passou o que nós já passámos não pode aceitar que haja qualquer ingenuidade, desatenção, incompetência ou distração», afirmou Passos no discurso de encerramento das jornadas parlamentares do PSD, durante o qual insistiu na ideia de que o modelo do governo das esquerdas «falhou», mas nunca quis dar o salto lógico de assumir que isso pode levar a um novo pedido de ajuda externa.
«Sempre soube que modelo do PS ia falhar. Nunca pensei que fosse tão rápido», declarou também ao i o líder do PSD, que sustenta a sua tese afirmando que o Governo está a falhar no crescimento, nas exportações, no investimento, nos cortes que estarão a ser feitos ao abrigo de cativações orçamentais, que fecham a torneira da despesa pública mesmo quando são despesas correntes dos ministérios, e até no desemprego – que está a descer, mas que os sociais-democratas asseguram que irá aumentar por consequência do fraco crescimento.
No PS, desvalorizam-se as conclusões da direita sobre a política económica. António Costa voltou esta semana a assegurar que o défice irá ficar em 2016 «confortavelmente» nos 2,5%. E ontem o anúncio de que a Standard & Poor’s decidiu manter o ranking de Portugal foi recebido com satisfação no gabinete de Mário Centeno, que leu na decisão «o aumento de confiança da agência na consolidação orçamental, complementado por uma melhoria no perfil de maturidades da dívida pública e por uma manutenção dos custos de financiamento a níveis sustentáveis».
Marcelo e agências ajudam
De resto, um relatório da Moody’s ajudou também a dissipar o fantasma de um novo programa de ajuda externa. A agência de notação financeira classificou como «improvável» o cenário de um novo resgate, considerando que a situação de financiamento do Estado é «confortável» e que o risco político «é limitado».
Com estes relatórios das agências de rating na mão, António Costa aproveitou ontem para voltar a ironizar sobre o tema. «Nenhum adulto se interessa por fantasmas», respondeu quando questionado pelos jornalistas sobre a hipótese de um novo resgate.
Costa teve, de resto, uma ajuda do Presidente, que veio afastar a ameaça de um resgate, pedindo que não se gaste energia com «debates estéreis».