Presidente do PS cancelou encontro com Moreira

No Largo do Rato a rutura com Rui Moreira foi dada como inevitável. Manuel Pizarro aparece como único candidato possível, mas está numa situação complicada.

António Costa tem estado desde a primeira hora a acompanhar à distância a crise provocada pelo anúncio de que Rui Moreira prescindia do apoio do PS na corrida à Câmara do Porto. Costa começou por ligar a Moreira e chegou a pedir a Carlos César que fosse ontem ao Porto falar com o independente. Mas a meio do dia a rutura parecia já inevitável e o presidente do PS cancelou a ida à Invicta.

PS Porto tenta salvar relação

Essa era a convicção no Largo do Rato, mas no Porto até ao final do dia de ontem ainda se lutava por uma solução que permitisse ao PS salvar a face e manter-se com aquela que as sondagens indicam como a candidatura vencedora. Uma fonte do PS Porto explicava ao SOL, antes da reunião de emergência convocada pela concelhia para a noite de ontem, que «todos os cenários estão em aberto».

E uma fonte próxima de Moreira assegurava que «o problema é com o PS nacional, com o PS Porto nunca houve razões de queixa». À SIC, o presidente da Câmara do Porto foi ambíguo. «O PS continua a apoiar ou não continua», disse, depois de reafirmar a relação de «lealdade» que mantém com o presidente da Federação do PS Porto, Manuel Pizarro.

Mais: Rui Moreira confirmou que, apesar da crise com o PS, continua com a intenção de convidar Pizarro para a sua lista, não pelo cartão partidário, mas pelo «desempenho» que tem tido como vereador. O que o independente não quer é que se crie a ideia de que «existe uma coligação informal» com o PS.

Ainda antes de ir à SIC, Rui Moreira tinha partilhado no seu Facebook um vídeo da campanha de 2013, que arranca com uma frase significativa: «O Porto é o meu partido». A mensagem é clara e está em sintonia com aquilo que foi decidido por unanimidade pelo seu núcleo duro numa reunião na quinta-feira à noite. A sua candidatura é independente e não será condicionada por acordos com partidos sobre listas ou programa.

Em contagem decrescente para a convenção autárquica de hoje, na qual o Porto será inevitavelmente o centro de todas as atenções, António Costa pode acabar por ser forçado a apresentar um candidato. Mas tentou ao máximo evitar esse cenário, usando os seus conhecidos dotes de negociador.

O problema é que a menos de três meses de entregar as listas autárquicas, Manuel Pizarro aparece como a única solução viável para encabeçar uma candidatura socialista ao Porto. Mas tem um enorme problema. Esteve sempre ao lado de Moreira no executivo camarário e não tem forma de se descolar desse legado. Além disso, teve um resultado desastroso nas últimas autárquicas.

Razões suficientes para Pizarro ser um nome complicado de apresentar como candidato, mas também para os seus adversários internos o desafiarem a assumir o papel. «Manuel Pizarro deve assumir as suas responsabilidades e apresentar uma candidatura», defende ao SOL o eurodeputado do PS Manuel dos Santos, que nem quer acreditar que ainda haja margem para uma reconciliação. «Haver agora uma espécie de ‘Perdoa-me’ faria cair a credibilidade dos políticos nas ruas da amargura», ataca Manuel dos Santos, que afirma que era preferível Costa concentrar-se em encontrar um nome para o Porto.

«Francisco Assis, Carlos Lajes, José Gomes Fernandes e Fernando Gomes» são nomes que Manuel dos Santos acha que poderiam dar bons candidatos, mas a tão pouco tempo das eleições é improvável que algum deles aceite o papel.

 

‘Inadmissível’, diz Bacelar

«Esta é uma situação inesperada e inadmissível. Pizarro tem explicações a dar», defende o deputado do PS Bacelar Vasconcelos, que acha que o presidente da Federação ajudou a pôr o partido «numa posição muito difícil» a ponto de agora uma candidatura sua ser uma «hipótese muito remota».

A situação que a concelhia do Porto considerava como «surpreendente e inesperada» fez ferver os ânimos a Norte. E já levou a pedidos de demissão.

«Manuel Pizarro e Tiago Barbosa Ribeiro têm de retirar consequências políticas do que se passou», defende ao SOL Tiago Silva, ex-membro do secretariado de José Luís Carneiro, que acha que «Pizarro pôs o PS nas mãos de Moreira».

No meio de toda a confusão, o apoio do CDS a Rui Moreira permanece intacto e o autarca até anunciou na SIC que será apoiado também pelo MPT. «A relação com o CDS tem sido irrepreensível», explicava ao SOL uma fonte próxima do autarca, assegurando que isso se traduz numa total ausência de pressão para influenciar listas ou programa.